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Dilma diz que Levy 'fica' e critica Cunha: 'Lamento que seja um brasileiro'

Reprodução/Facebook/Dilma Rousseff
Imagem: Reprodução/Facebook/Dilma Rousseff

Luís Guilherme Barrucho

Enviado especial da BBC Brasil à Suécia e à Finlândia

18/10/2015 13h59

A presidente Dilma Rousseff confirmou neste domingo (18) a permanência de Joaquim Levy à frente do Ministério da Fazenda e disse lamentar que o escândalo envolvendo as supostas contas secretas mantidas pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, na Suíça tenha como protagonista "um brasileiro".

As declarações foram dadas a jornalistas no hotel onde a presidente está hospedada, em Estocolmo, na Suécia. Dilma está em viagem oficial pelo país e pela Finlândia durante quatro dias. Ela retorna ao Brasil na noite da próxima terça-feira.

Sobre Levy, Dilma desmentiu informação divulgada pela revista "Veja" na última sexta-feira de que o titular da Fazenda teria lhe apresentado seu pedido de demissão do cargo. Os dois se reuniram na sexta-feira passada no final da tarde depois que o ex-presidente Lula pediu publicamente a demissão de Levy.

"O ministro Levy fica", acrescentou. "Ele não está saindo do governo."

"A partir de agora, não vou mais responder sobre o ministro Levy. Se ele fica, é porque nós concordamos com ela [política econômica]".

Questionada sobre a declaração do presidente do PT, Rui Falcão, que também defendeu o afastamento de Levy se ele não mudar em entrevista ao jornal "Folha de S. Paulo" deste domingo, Dilma afirmou que "o presidente do PT pode ter a opinião que quiser".

"Não é a opinião do governo. A gente respeita a opinião do presidente do PT, porque ele é o presidente do partido que integra a base aliada, mas isso não significa que é a opinião do governo", disse.

"Vivemos uma democracia. Não podemos querer que todas as pessoas pensem igual. A pessoa tem direito de externar que não concorda com a posição."

"No passado, quando a gente divergia, a gente ia para a cadeia. Hoje, é absolutamente normal que as pessoas têm opiniões divergentes."

Dilma criticou especulações de que Levy teria demonstrado insatisfação sobre a pressão que vem recebendo de integrantes do PT, entre eles do ex-presidente Lula.

Sobre Lula, a presidente disse que o petista nunca lhe cobrou a demissão de Levy.

"Ele nunca me pediu nada. Quando o presidente Lula quer uma coisa que diz respeito a posições dele, ele não tem o menor constrangimento de falar comigo."

Segundo Dilma, o maior do problema do Brasil é "estabilizar a economia, fazer com que o país volte a crescer".

"A crise política é um componente da (crise) econômica. Criando esse clima de unidade, de cooperação, o Brasil sairá dessa crise o mais rápido possível". "As duas (crises econômica e política) estão relacionadas".

Cunha

A presidente negou que o governo tenha feito um acordo com o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, para evitar um impeachment.

"Cunha não integra o meu governo. Eu lamento que seja com um brasileiro", disse Dilma sobre o presidente da Câmara dos Deputados

"O acordo do Eduardo Cunha não era com o governo, mas com a oposição, que era público e notório", afirmou.

Questionada sobre uma eventual queda de Cunha, após as denúncias de que o peemedebista mantinha contas secretas na Suíça fruto de sonegação fiscal e evasão de divisas, Dilma afirmou "não ter como se manifestar no que acontece no Legislativo e no Judiciário".

"Cunha não integra o meu governo. Eu lamento que seja com um brasileiro".

A presidente afirmou, contudo, que o escândalo não afeta a imagem do Brasil. "Acho que se distingue perfeitamente no mundo um país de seus integrantes. Nenhum país pode ser julgado por isso. E não se julga assim. Lamento que isso aconteça com um brasileiro, um cidadão brasileiro".

Estabilidade política

Questionada sobre a estabilidade política, Dilma também pediu um acordo com a sociedade para vencer a crise.

"Hoje, temos de buscar sistematicamente um ambiente de diálogo, de entendimento, de paz. E não um ambiente em que questões partidárias ou pessoais sejam colocadas acima dos interesses do país".

Comentando sobre a decisão do STF que suspendeu o rito de impeachment definido por Cunha, Dilma afirmou "que se tratou de um pleito de um deputado e não diz respeito ao governo".

CPMF Dilma também cobrou o retorno da CPMF como parte do conjunto de medidas para retomar o crescimento econômico.

"O Brasil precisa aprovar a CPMF para ter um 2016 estável no sentido de reequilibrar as nossas finanças. Nós (Dilma e Levy) discutimos tudo isso (na reunião de sexta-feira)".

"Ela (CPMF) é crucial para o Brasil voltar a crescer. Precisamos estabilizar as contas públicas". "Sem a CPMF, isso é muito difícil".

"Se você me perguntar se eu queria elevar a CPMF (de zero para 0,2%), eu diria que não".

Estimativas da equipe econômica do governo apontam que o retorno da CPMF poderia elevar a arrecadação em até R$ 32 bilhões, metade do ajuste total de R$ 64,9 bilhões na peça orçamentária de 2016, aliviando a situação fiscal do país.

"O retorno da CPMF contribuirá para o país voltar a crescer. As pessoas podem não entender agora, mas certamente vão entender quando os efeitos que essa medida produzir, que é a estabilidade fiscal, permitindo ao país voltar a crescer".

"A CPMF está combinada com várias medidas, como o programa de concessões de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, a política de expansão da exportação, investimentos nos planos safra, o investimento na área de energia".

"Os brasileiros entendem quando as coisas são ditas. No primeiro momento, podem não absorver pois se trata de aumento de imposto. Mas não estamos aumentando imposto porque queremos. É porque precisamos".

Autocrítica

Dilma fez ainda uma autocrítica sobre seu primeiro governo, quando foram feitas concessões

"Aliás, no meu primeiro governo, um dos fatos que leva à nossa dificuldade agora é que tivemos um nível de desoneração para além do que era desejável, se considerarmos que a China desaceleraria nessa proporção e haveria o fim do superciclo das commodities".

"Como não sabíamos na época, e tendo em vista que é sempre melhor economicamente reduzir do que aumentar imposto, exceto em momentos em que você se defronta com problemas críticos".