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A estranha febre das bonecas 'sobrenaturais' na Tailândia

01/02/2016 09h25

A Tailândia está sendo tomada por uma verdadeira febre de bonecas super-realistas que muitos acreditam terem poderes "sobrenaturais".

As bonecas, conhecidas como "luk thep" (na tradução literal "crianças anjos") podem ser vistas em restaurantes, parques e até em viagens de avião.

Seus donos acreditam que esses brinquedos, benzidos por monges, têm alma e os mimam na esperança de que isso lhes traga sorte.

Mas os privilégios dedicados a elas também causaram reação e alertas de autoridades.

Após comprar uma boneca, o dono a leva a um monge que faz uma reza em uma cerimônia de unção conhecida como "plook sek".

Esses rituais normalmente são usados para abençoar amuletos, que também são populares na Tailândia, onde antigas crenças em mágica ainda são comuns.

No caso das "luk thep", a unção costuma ser vistas como uma forma de dar vida à boneca, convidando-se um espírito errante a habitá-la e dar alma a ela.

Polêmica

Na semana passada, a companhia aérea Thai Smile Airways causou surpresa ao anunciar que os passageiros poderiam comprar bilhetes para as bonecas, que teriam seus próprios assentos, comida e bebida. Mas autoridades interferiram.

"Baseado nas regras da aviação, passageiros são pessoas. Então companhias aéreas não estão autorizadas a vender passagens para bonecas", disse um porta-voz da Autoridade de Aviação Civil da Tailândia, de acordo com o jornal The Bangkok Post.

Ele acrescentou que os passageiros podem comprar uma outra passagem em seu nome e colocar as bonecas ali.

Pelo menos um restaurante em Bangkok lucrou com a moda. O Neta Grill está oferecendo refeições para "luk theps" com preços para crianças, acrescentando que o restaurante está aberto a "todos os adoradores".

Diversos donos de bonecas disseram à BBC Thai (o serviço da BBC em tailandês) que ela era mais que um talismã e que as tratavam como suas próprias filhas.

"Eu não acreditava em magia, mas depois que cuidei de uma 'luk thep' várias coisas inexplicáveis aconteceram comigo", disse uma mulher.

"Minha filha quer uma irmã e amiga. Na escola dela, todas as amigas têm a boneca... então minha filha quer uma, como todo mundo", disse uma outra pessoa que comprou a boneca.

Consumismo

Donos "superprotetores" têm comprado acessórios caros e joias para suas bonecas.

A antropóloga Asama Mungkornchai, da Universidade Prince of Songkla em Pattani, disse que as bonecas são especialmente populares entre mulheres de classe média, e poderiam "preencher um desejo de maternidade".

Mas o fato de muitos dizerem que precisam da boneca para trazer-lhes sorte e saúde também destaca um "sentimento corrente de insegurança entre a classe média tailandesa, principalmente em relação à economia", disse.

A febre foi alvo de críticas. O primeiro-ministro, Prayuth Chan-ocha, pediu que os tailandeses não se deixassem levar pela moda e não comprassem bonecas se não puderem pagar por elas, de acordo com a rede Thai PBS.

O preço de uma boneca varia de 1.500 baht (equivalente a R$ 140) a milhares de bahts.

A polícia também demonstrou preocupação com vendedores de bonecas "ilegais" - sem pagar imposto. Também afirmou que as bonecas poderiam ser usadas para tráfico de drogas em aviões.

A polícia apreendeu uma boneca com 200 comprimidos da droga recreacional "yaba".

Até questões religiosas foram levantadas sobre se era apropriado conduzir rituais budistas com as bonecas. Houve reação online e muitos criticaram os donos por serem supersticiosos.

Mas o "Órgão Nacional de Budismo" disse à Thai PBS que as unções não eram diferentes das dadas a carros e outros objetos, prática largamente aceita.

Acharn Winai Thitapany, monge do templo Bua Kwan, conhecido pelas unções em bonecas, disse à BBC Thai que "os monges podem recitar encantamentos para agradar pessoas já que isso não viola nosso código de disciplina".