Topo

Conheça João Santana e as acusações que pesam sobre ele

22/02/2016 16h29

Tatiana Farah

De São Paulo para a BBC Brasil

Responsável pelas campanhas da presidente Dilma Rousseff (2010 e 2014) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2006), o marqueteiro João Santana e sua mulher e sócia, a jornalista Mônica Moura, tiveram prisão decretada nesta segunda-feira dentro da operação Lava Jato, que investiga crimes de corrupção, distribuição de propina e lavagem de dinheiro envolvendo empresas públicas, empresários, políticos e partidos brasileiros.

Santana e Mônica não foram presos porque estão na República Dominicana, onde fazem a campanha à reeleição do presidente Danilo Medina. A Justiça promoveu ainda bloqueio de bens de Santana.

Segundo a Polícia Federal, o marqueteiro é acusado de ter recebido, através de offshores, US$ 7 milhões da Odebrecht e de um suposto operador de propinas, preso pela manhã. O mandado é de prisão temporária, cuja validade é de cinco dias podendo ser renovada por mais cinco dias ou ampliada para prisão temporária ou preventiva caso a Justiça considere necessário.

Denominada "Acarajé", termo que, segundo a PF, os suspeitos usavam para se referir a dinheiro, a operação expediu mais de 50 mandados entre ordens de prisão, busca e apreensão nos Estados da Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro.

Na Bahia, houve buscas em Salvador, onde o publicitário tem residência na região nobre do Corredor da Vitória, de frente para o mar. Já preso, o dono da construtora, Marcelo Odebrecht, também teve prisão decretada e terá de prestar novo depoimento em Curitiba, onde o juiz Sérgio Moro preside o processo. A operação envolveu 300 policiais federais.

República Dominicana

Segundo o Ministério Público Federal (MPF), o operador financeiro Zwi Skornicki é investigado pela Lava Jato por ser um dos operadores de propinas a diretores e altos funcionários da Petrobras e empresas ligadas ao esquema de corrupção.

Entre 25 de setembro de 2013 a 4 de novembro de 2014, há evidências de que Zwi teria transferido U$ 4,5 milhões a uma conta do publicitário, em nome da offshore panamenha Shellbill Finance SA, que não foi declarada às autoridades brasileiras.

Já a Odebrecht teria transferido U$ 3 milhões por meio de duas offshores controladas pela construtora no Exterior (Klienfeld e Innovation) para a Shellbill. Os pagamentos foram feitos entre abril de 2012 e março de 2013. Para o MPF, os recursos repassados a Santana beneficiaram o Partido dos Trabalhadores.

Os advogados de João Santana e de Mônica Moura ingressaram com um documento junto à 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba informando que o casal retornará ao Brasil nas próximas horas para se apresentar às autoridades.

"Ambos se encontram no exterior a trabalho na República Dominicana, onde prestam serviços de marketing para o candidato à reeleição à Presidência naquele país, Danilo Medina". Segundo o advogado Fábio Tofic, o documento foi encaminhado ao juiz Sérgio Moro.

"Os peticionários tomaram conhecimento, na manhã de hoje (segunda-feira), pelos meios de comunicação, de que foram alvo de fase ostensiva da operação Lava Jato", diz a petição, que continua afirmando confiar "que serão tomadas todas as medidas para que sua chegada ao país não se transforme em um odioso espetáculo público".

A Odebrecht divulgou nota confirmando que houve buscas e apreensão da Polícia Federal em escritórios do Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia. "As equipes da polícia obtiveram todo auxílio da Odebrecht para o cumprimento dos mandatos. A organização permanece à disposição das autoridades para colaborar, sempre que necessário", afirma a construtora.

O PT ainda não se manifestou sobre o assunto.

O baiano João Santana é jornalista mas não gosta de dar entrevistas. No entanto, é vaidoso e não esconde as boas relações com o poder. Com 1,60 m, é considerado um gigante do marketing político. Pela América Latina e África, elegeu seis presidentes. Na República Dominicana, onde ficou sabendo que teve prisão temporária decretada, tenta reeleger Danilo Medina, a quem já garantira a vitória em 2012.

Em 2006, Santana ajudou Lula a garantir a reeleição. Elegeu Dilma em 2010, que até então tinha pouca projeção política. Na campanha de reeleição, em 2014, o marqueteiro foi acusado de maquiar a realidade econômica do país.

As campanhas de João Santana têm como características o uso de muitos cenários, figurantes e atores, o que encarece bastante suas produções. O marqueteiro não costuma destacar o vermelho do partido - para minimizar a rejeição de parte do eleitorado -, o que sempre irrita as alas mais radicais da legenda.

Quando a disputa se acirra, Santana é conhecido por campanhas de tom agressivo. A essa agressividade é creditada a derrota da senadora Marta Suplicy (PMDB-SP), em 2008, à prefeitura de São Paulo.

Naquela época petista de carteirinha e coração, Marta perdeu votos e aliados ao acusar o prefeito Gilberto Kassab em seu programa de TV lançado dúvidas sobre sua vida pessoal: "É casado? Tem filhos?". Kassab foi reeleito. Em São Paulo, Santana só se redimiu com o PT local quando elegeu Fernando Haddad em 2012.

Em 2014, a polêmica foi com Marina Silva. A ex-petista não gostou da condução dos ataques da campanha do partido que havia ajudado a criar.