'Idiotas úteis', 'vestido para festa' e 'estamos cumprindo a lei': a reação do governo aos protestos pela educação
Ministro da Educação foi convocado por deputados para esclarecer cortes no orçamento de universidades e institutos federais, que motivaram protestos estudantis nesta quarta-feira; nos EUA, Bolsonaro criticou manifestantes.
Esta matéria foi atualizada às 22h05 de 15/05
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) e políticos de seu governo, além, claro, de representantes da oposição, reagiram nesta quarta-feira (15/5) à onda de protestos pelas cidades do país, após anúncio de cortes dos orçamentos de universidades e institutos federais.
Em viagem a Dallas, nos EUA, Bolsonaro chamou os manifestantes de "idiotas úteis".
Disse que é "natural" que haja manifestações, mas que "a maioria ali é militante".
"Não sabem a fórmula da água. São uns idiotas úteis, uns imbecis, sendo usados como massa de manobra de uma minoria espertalhona que compõe o núcleo de muitas universidades federais no Brasil", declarou o presidente.
Mais tarde, afirmou que "se não tem dinheiro, tem que contingenciar. Agora, a educação brasileira está deixando muito a desejar. Está indo ladeira abaixo."
Titular da Educação fala no Congresso
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, foi convocado também nesta quarta para dar esclarecimentos sobre o contingenciamento de gastos perante o Plenário da Câmara dos Deputados. O comparecimento do ministro era obrigatório.
Ao final da sessão, que durou mais de três horas, o ministro esclareceu uma divergência de versões que emergiu do Planalto na noite de terça-feira, quando políticos reunidos com Bolsonaro disseram que o presidente havia decidido recuar dos cortes nas universidades.
Segundo o ministro, foi ele quem convenceu o presidente a manter a decisão sobre o contingenciamento.
Mais cedo, Weintraub atribuiu a responsabilidade pela crise aos governos anteriores de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB).
"Não somos responsáveis pelo contingenciamento atual, foi pelo governo de Dilma e Temer o desastre da educação brasileira", declarou aos deputados. "Estamos cumprindo a lei de responsabilidade fiscal, e o Brasil ainda não decolou. (Quando decolar) vai gerar receita."
Também afirmou que "autonomia das universidades não é soberania" e que, se necessário, a polícia poderia agir nos campi. E que nem todas as pesquisas universitárias geram valor. "Vai ter pesquisa que o pessoal vai ter vergonha de vir aqui (apresentar)."
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A sessão ficou mais tensa quando Weintraub acusou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de ter "pedido a cabeça" de uma economista do banco Santander por conta de previsões sobre o dólar no Brasil e contou que já trabalhou como bancário. "Com carteira assinada, sabem o que é isso? Aquela azulzinha."
Essa frase não foi bem recebida pelos deputados - ouviu-se gritos de "demissão". O presidente da sessão, Marcos Pereira (PRB-SP), falou que "se sentiu pessoalmente ofendido" com o questionamento sobre carteira assinada e pediu que Weintraub ativesse sua fala ao tema dos gastos com educação.
Weintraub prosseguiu dizendo que "nada mais é do que o postergamento" de gastos e que o governo priorizará investimentos na educação básica e infantil (embora esses setores também tenham sido alvo de cortes em algumas áreas).
O ministro também afirmou que o ajuste é uma questão de acordo. "Estamos abertos ao diálogo. (...) Não dá para cumprir a lei se não contingenciar. O que acontece na casa de vocês: às vezes a gente tem que apertar o cinto. E como faz? Mostrando os números, conversando, vendo as contas. Se não chegar a um acordo, a gente vem ao Congresso."
O titular da pasta afirmou ainda que o governo estuda dar um salário mínimo mensal a candidatos que tenham tido notas altas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e que desejem ser professores, mas não deu mais detalhes durante sua fala no Congresso.
Reação no Palácio
Também dentro do governo, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirmou nesta quarta que "houve uma confusão entre o que é contingenciamento (congelamento de recursos) e o que é corte".
"É guardar, é poupar. É como o pai que tem um salário e sabe que tem que comprar o vestido de 15 anos da filha em outubro, mas está em maio. (...) Então ele contingencia, protege o seu gasto. Isso é uma atividade responsável, é o que o governo está fazendo."
Por sua vez, o vice-presidente Hamilton Mourão, presidente interino por conta da viagem de Bolsonaro, declarou que "temos falhado na nossa comunicação (em relação aos cortes)" e que a ida de Weintraub à Câmara seria "uma oportunidade" de esclarecimentos.
Do lado da oposição, Fernando Haddad (PT), oponente de Bolsonaro nas eleições do ano passado e ex-ministro da Educação (2005-2012), discursou em manifestação realizada em São Paulo nesta quarta-feira.
"Ninguém vai arredar pé (das manifestações) até ele (o governo Bolsonaro) devolver centavo por centavo do que tirou", falou, de cima de um carro de som. "Vamos ter um compromisso aqui. Nós vamos educar o Bolsonaro: é ele que precisa ser educado, é ele que precisa conhecer o Brasil".
O corte, que começou a ser tornado público no final de abril como algo que afetaria universidades que não tivessem desempenho acadêmico satisfatório e promovessem "balbúrdia" nos campi, acabou se estendendo a todas as universidades e institutos federais.
O anúncio inicial foi de um corte de 30% sobre o orçamento, depois de 30% sobre os gastos discricionários (não obrigatórios), ou de 3,4% do orçamento total, segundo o Ministério da Educação (MEC). Em vídeo no Facebook ao lado de Bolsonaro, Weintraub tratou o tema como "contingenciamento" - ou contenção de recursos -, e não como cortes.
As universidades respoderam dizendo que, sem as verbas, ficarão incapazes de custear despesas como luz, água, segurança e estrutura acadêmica, como funcionamento de laboratórios e pesquisas de campo. Também houve reações a cortes de bolsas de mestrado e doutorado na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
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