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'Game of Thrones': 2 surpresas, 1 decepção e 1 alegria no último capítulo da série

Ana Pais (@_anapais) - BBC News Mundo

20/05/2019 12h52

Uma das mais bem sucedidas séries da história da TV chega ao fim antes da conclusão dos livros que inspiraram a produção da HBO.

Alerta: este texto tem spoilers do último capítulo de 'Game of Thrones'

Game of Thrones acabou. Parece uma obviedade afirmar isso, mas não é.

Apesar da exibição do capítulo final, milhões de fãs vão passar os próximos dias (meses?, anos?) debatendo o fim da série e sugerindo ou defendendo conclusões alternativas que considerariam mais épicos, engenhosos ou justos do que o que foi visto na HBO no domingo, 19.

Aqueles que não foram atraídos pela série podem achar que é um exagero gastar tanto tempo criticando e reimaginando um programa de televisão com dragões e zumbis.

Mas talvez o que eles não consigam entender é que Game of Thrones é muito mais que um mundo de fantasia épico.

Seus personagens, com talentos, desejos e mesquinhez, somaram-se à imprevisibilidade do enredo, tornando a série um dos maiores sucessos na história da televisão, conseguindo conquistar espectadores e críticos.

Ou, pelo menos, foi assim até a oitava temporada, quando a cuidadosa trama política e humana das temporadas anteriores foi dominada pelo espetáculo visual e pelo efeito narrativo.

Personagens passaram a tomar decisões e apresentaram diálogos improváveis, fazendo com que os espectadores ficassem cientes de que havia roteiro, orçamento e prazos a serem cumpridos para atingir um ponto final predeterminado.

Ainda não está claro se esse final foi o pensado pelo autor George R.R. Martin em 1991, quando ele começou a escrever Canção de Gelo e Fogo, a inacabada saga de livros em que se baseia o seriado.

O que é certo é que o desempenho televisivo dos criadores David Benioff e D.B. Weiss é o único fechamento oficial, e este gerou surpresa e decepção mas também um pouco de alegria.


Surpresa 1: Jon Snow mata Daenerys

À primeira vista, é fácil acreditar que Jon Snow seja um personagem que aprendeu e amadureceu durante esses 73 episódios.

Não foi em vão que o filho bastardo e ranzinza de Ned Stark passou a comandar a Patrulha da Noite, tornou-se Rei do Norte e é o verdadeiro herdeiro do Trono de Ferro como filho legítimo de Rhaegar Targaryen e Lyanna Stark.

No entanto, em diversas ocasiões Jon Snow foi capaz de confundir lealdade e honestidade com a simples estupidez, como aconteceu com seu pai adotivo.

Essa é a razão pela qual muitos acreditavam que, apesar de ter sido uma testemunha privilegiada do genocídio perpetrado por Daenerys Targaryen em King's Landing, Jon nunca tomaria uma decisão drástica com a nova "rainha (supostamente) louca".

"Você é minha rainha e você sempre será minha rainha", disse Snow antes de lhe dar um beijo e uma facada fatal.

Assim, o personagem mais heróico de Game of Thrones repetiu a história e tomou o mesmo caminho de quem foi o mais moralmente julgado da série, Jaime Lannister.

A questão agora é se Jon também será imortalizado nos livros de história da região como "mata-rainhas".

Surpresa 2: rei Bran Stark

Nas diferentes teorias sobre quem acabaria sentado no Trono de Ferro, Bran Stark apareceu como um dos possíveis candidatos, mas mais por seu sobrenome do que por sua habilidade comprovada como líder, político ou estrategista.

Sua jornada de uma criança inquieta para o superpoderoso Corvo de Três Olhos teve pouca ou nenhuma eloquência.

Com um olhar vazio e palavras estritamente justas, tornou-se uma espécie de enciclopédia viva, sem emoções ou ambições.

Na verdade, é provavelmente por essa razão que "Bran, o Quebrado" vai ser um bom rei ou, pelo menos, o rei necessário.

Seu vasto conhecimento, sua objetividade e sua praticidade ajudarão a reconstruir os agora seis reinos do mundo de Game of Thrones após décadas de guerra, devastação e fome.

Além disso, sua esterilidade serve como a "desculpa perfeita" para acabar com o sistema de governo baseado em herdeiros e iniciar um novo, um pouco mais democrático, onde os líderes das casas mais poderosas votarão no rei.

Decepção: só os maus morrem

A série que soube matar o rosto do cartaz promocional na primeira temporada não conseguiu matar personagens no oitavo e último ano.

Ninguém gostou de ver Ned Stark decapitado ou Rob Stark massacrado junto com sua mãe, esposa e filho não nascido.

Mas essas mortes dos "mocinhos" evitaram que Game of Thrones fosse somente mais uma história de fantasia, com príncipes e princesas que vivem felizes para sempre.

A vida é injusta e a guerra, ainda mais.

Por isso, é quase incompreensível que no capítulo final da série nem Jon Snow nem Tyrion Lannister morram depois da bem sucedida conspiração contra Daenerys. Eles são apenas detidos por alguns dias e ninguém é de fato punido.

É verdade que na última temporada morreram três dos principais personagens, isto é, os gêmeos Cersei e Jaime Lannister e Daenerys Targaryen.

O problema é que os três morreram como vilões.

Isso não é estranho em Cersei, que ao longo desses oito anos soube ser uma personagema maligna tão brilhante quanto complexa, com sua própria lógica de amor e compaixão.

Mas esse não era um caminho narrativo natural para Jaime e Daenerys, cujos personagens deram reviravoltas inesperadas em capítulos anteriores.

Foram mudanças tão abruptas que até pareciam que os escritores sentiam pena de matá-los enquanto os personagens tinham o afeto e a empatia do público.

Alegria: os Stark

"Quando se joga o jogo dos tronos, se vive ou se morre", disse Cersei certa vez.

Dada a sina que, temporada após temporada, os Stark tiveram ao longo da série, já parece muito Bran, Sansa, Arya e Jon terminarem com vida.

Mas não foi só isso: no final de Game of Thrones, todos parecem satisfeitos com a conclusão.

Sansa, que sempre sonhou em ser uma rainha, realizou sua fantasia quando ainda era criança, mas agora como uma mulher empoderada conseguiu o que vários Stark não alcançaram: a independência do Norte.

Arya embarca em seu caminho para novas aventuras a oeste. E Jon, como "punição", vai viver com o povo livre, longe dos títulos de nobreza e nomes compostos.

O melhor é que essa sucessão de finais felizes ocorre enquanto, ao fundo, soa a trilha sonora que vai ficar na história como uma das mais icônicas da televisão.

Agora, veja e reveja sem pressa os episódios enquanto espera pelos livros de Martin - e se eles vão seguir esse caminhos ou não.


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