9 momentos históricos em que o nitrato de amônio causou tragédia
O nitrato de amônio, principal suspeito de ter causado a megaexplosão que devastou a capital do Líbano, Beirute, já fez parte de vários atentados ou acidentes industriais, inclusive no Brasil.
A substância, um sal branco e inodoro, é usada primordialmente como fertilizante em forma de grânulos, altamente solúveis em água e que os agricultores compram em grandes quantidades. Também é um dos principais componentes de explosivos usados em minas.
O nitrato de amônio não é um material explosivo em si, mas, em doses médias e altas e na presença de substâncias combustíveis, como óleo, ou fontes de intensas de calor, pode causar fortes explosões.
Essa é a principal linha de investigação sobre o que aconteceu na capital libanesa, segundo autoridades locais. Grandes quantidades da substância, 2.570 toneladas, permaneceram armazenadas no porto de Beirute após terem sido confiscadas de um navio que saiu da Geórgia com destino a Moçambique há mais de seis anos.
A estocagem dessa substância deve seguir normas rigorosas de isolamento de líquidos inflamáveis ou corrosivos, sólidos inflamáveis ou substâncias que emitam calor.
Em novembro do ano passado, por exemplo, o Comando Logístico do Exército Brasileiro divulgou uma portaria estabelecendo "procedimentos administrativos para o exercício de atividades com explosivos e seus acessórios e produtos que contêm nitrato de amônio".
Isso inclui regras rígidas para fabricação, importação, exportação, comércio, transporte, detonação, locação e utilização da substância.
A explosão em Beirute deixou pelo menos 100 pessoas mortas e outras milhares feridas. Cerca de 300 mil pessoas estão desabrigadas, informou o governo.
Confira nove momentos em que o nitrato de amônio causou tragédia.
1) Fábrica da Basf em Oppau (Alemanha) - 1921
Um dos primeiros acidentes com nitrato de amônio deixou 561 mortos e quase 2 mil feridos em 1921. Ocorreu em uma fábrica da Basf em Oppau, na Alemanha, quando cerca de 4,5 mil toneladas de uma mistura de sulfato de amônio e nitrato de amônio explodiram.
Foram duas explosões, uma de menor intensidade e, em seguida, a maior, com efeitos catastróficos. Elas foram ouvidas até em Munique, a 300 km de distância. Das cerca de mil casas da pequena cidade, 80% foram destruídas.
Não se sabem exatamente as causas da tragédia, pois todos os envolvidos morreram, mas acredita-se que foi causada quando trabalhadores tentaram "afofar" a mistura, que tende a se solidificar, transformando-se em uma substância parecida ao gesso, com pequenas cargas de dinamite.
Era uma prática comum na época, quando se pensava que misturas contendo menos de 60% de nitrato não explodiriam.
2) Navio no Porto de Texas City, no Texas (EUA) - 1947
Foi o acidente industrial mais mortal da história dos EUA e uma das maiores explosões não nucleares da história.
A tragédia aconteceu em 16 de abril de 1947, quando um incêndio no meio da manhã atingiu o navio SS Grandcamp, de bandeira francesa e ancorado no porto. As chamas provocaram a detonação de cerca de 2,3 mil toneladas de nitrato de amônio armazenadas na embarcação.
Isso iniciou uma reação em cadeia de incêndios e explosões em outros navios e nas instalações de armazenamento de petróleo vizinhas, matando pelo menos 581 pessoas nas proximidades, com exceção de um bombeiro.
O desastre levou à primeira ação coletiva contra o governo dos Estados Unidos, em nome das vítimas.
3) Atentado em Oklahoma City (EUA) - 1995
Em 19 de abril de 1995, o extremista americano Timothy McVeigh detonou uma bomba feita com duas toneladas de nitrato de amônio na frente de um edifício federal em Oklahoma City, capital do Estado de Oklahoma, matando 168 pessoas e ferindo outras 700.
O atentado levou as autoridades do país a endurecer as regras sobre o armazenamento da substância.
Segundo a lei americana, instalações que armazenem mais de 900 kg de nitrato de amônio são obrigadas a passar por inspeções regulares.
4) Usina da AZF em Toulouse (França) - 2001
Cerca de 300 toneladas de nitrato de amônio armazenadas em um galpão da usina química AZF, em Toulouse, explodiram em 21 de setembro de 2001, causando a morte de 31 pessoas. A explosão pôde ser ouvida a 80 km de distância.
5) Atentado em discoteca em Bali (Indonésia) - 2002
O nitrato de amônio foi usado na fabricação de explosivos usados no atentado contra uma discoteca no distrito turístico de Kuta, na ilha indonésia de Bali, em 12 de outubro de 2002, que deixou 202 mortos, sendo 88 australianos, e 209 feridos.
O ataque envolveu a detonação de três bombas e foi reivindicado pelo grupo extremista Jemaah Islamiyah.
Por volta das 23h daquele dia, um homem-bomba dentro da discoteca Paddy's Pub detonou uma bomba em sua mochila, fazendo com que muitos clientes, com ou sem ferimentos, fugissem imediatamente do local para a rua.
Vinte segundos depois, uma segunda bomba, muito mais poderosa e escondida dentro de uma van, foi acionada por outro homem-bomba.
Uma terceira bomba foi detonada do lado de fora do consulado dos EUA em Denpasar, que se acredita ter explodido pouco antes das duas bombas de Kuta, causou ferimentos leves a uma pessoa e danos materiais mínimos.
6) Ataque em Oslo (Noruega) - 2011
A substância também foi usada no ataque a bomba pelo extremista norueguês Anders Behring Breivik em 22 de julho de 2011.
A explosão de um carro-bomba em Oslo, capital da Noruega, mirou o Regjeringskvartalet, bairro do governo executivo do país.
A bomba foi colocada dentro de uma van ao lado do bloco da torre que abrigava o escritório do então primeiro-ministro Jens Stoltenberg.
A explosão matou oito pessoas e feriu pelo menos 209 pessoas, doze com gravidade.
Breivik seguiu para a ilha de Utoya, onde assassinou outras 67 pessoas a tiros.
7) Usina da West Fertilizer, no Texas (EUA) - 2013
A explosão aconteceu nas instalações de armazenamento e distribuição da West Fertilizer Company em West, no Estado americano do Texas, enquanto serviços de emergência tentavam debelar um incêndio criminoso na usina.
Quinze pessoas morreram, mais de 160 ficaram feridas e mais de 150 edifícios foram danificados ou destruídos.
Os investigadores confirmaram que o nitrato de amônio foi o material que causou a explosão. Em 11 de maio de 2016, o Departamento de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos dos Estados Unidos anunciou que o incêndio havia sido causado deliberadamente.
8) Armazém no porto de Tianjin (China) - 2015
Uma explosão em um armazém pertencente a uma empresa de logística de produtos químicos no porto de Tiajin, na China, deixou 173 mortos e centenas de feridos em 2015.
Produtos químicos e nitrato de amônio estavam armazenados juntos na instalação, localizada no leste do país.
Foram duas explosões iniciais, que ocorreram a 30 segundos uma da outra. Mas a segunda explosão foi muito maior e envolveu a detonação de cerca de 800 toneladas de nitrato de amônio (equivalente a 336 toneladas de dinamite), formando uma bola de fogo que pôde ser vista à distância.
Os incêndios causados pelas explosões iniciais continuaram a queimar sem controle durante o fim de semana, resultando em oito novas explosões em 15 de agosto.
Dos 173 mortos, 104 eram bombeiros.
9) Tanque da Vale Fertilizantes em Cubatão (Brasil) - 2017
O incêndio começou na tarde de 5 de janeiro de 2017, depois de uma explosão em uma correia transportadora que alimentava o armazém da unidade de nitrato de amônio da Vale Fertilizantes, subsidiária da Vale, em Cubatão, em São Paulo.
A estrutura foi evacuada e nenhum funcionário ficou ferido.
O acidente aconteceu quando um dos tanques da empresa explodiu, provocando um grande vazamento de nitrato de amônio. Seguiu-se, então, um grande incêndio, com a emissão de grande quantidade de fumaça tóxica, resultante da queima de nitrato, de cor laranja avermelhada.
Técnicos da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) foram ao local e, com ajuda de um drone, monitoraram a área.
O incêndio só foi completamente extinto após 15 horas. Um bombeiro precisou ser socorrido, vítima de intoxicação. Ele foi medicado e liberado.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.