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Juíza dos EUA inocenta 4 negros acusados injustamente por estupro 72 anos atrás

Walter Irvin, um dos quatro homens perdoados, conversa com seus advogados em seu novo julgamento em 1952 - Getty Images
Walter Irvin, um dos quatro homens perdoados, conversa com seus advogados em seu novo julgamento em 1952 Imagem: Getty Images

23/11/2021 09h17Atualizada em 23/11/2021 09h22

A Justiça dos Estados Unidos decidiu cancelar, 72 anos depois, a condenação injusta de quatro homens negros acusados erroneamente de raptar e estuprar uma garota branca na Flórida, em 1949.

Charles Greenlee, Walter Irvin, Samuel Shepherd e Ernest Thomas, conhecidos como os Quatro de Groveland, receberam perdão do Estado da Flórida em janeiro de 2019.

Nenhum dos acusados continuava vivo quando a decisão foi proferida. Eles tinham entre 16 e 26 anos na época das acusações.

Thomas foi alvo de uma caçada humana por um grupo de mais de mil homens armados logo após o suposto crime. Os outros três acusados foram agredidos em custódia antes de serem condenados por um júri composto apenas por brancos.

Shepherd acabaria sendo morto a tiros por um xerife enquanto se deslocava para um novo julgamento.

Irvin escapou por pouco da pena de morte em 1954, e sua sentença foi transformada em prisão perpétua, com liberdade condicional. Ele morreria um ano depois de ser solto, em 1969.

Greenlee, também condenado à prisão perpétua, recebeu liberdade condicional em 1962 e morreu em 2012.

Três dos acusados foram condenados por um júri formado apenas por brancos - Getty Images - Getty Images
Três dos acusados foram condenados por um júri formado apenas por brancos
Imagem: Getty Images

Evidências nos levaram a esse momento, diz promotor

A pedido da Promotoria, a juíza Heidi Davis, da Flórida, descartou os indiciamentos de Ernest Thomas e Samuel Shepherd, e cancelou as condenações e sentenças de Charles Greenlee e Walter Irvin.

Familiares dos quatro acusados injustamente ficaram bastante emocionados ao saber da notícia, dizendo que isso poderia desencadear uma onda de reanálise de outras condenações do tipo.

"Somos abençoados. Espero que isso seja um começo porque muitas pessoas não tiveram essa oportunidade. Muitas famílias não tiveram essa oportunidade", disse Aaron Newson, sobrinho de Thomas, que começou a chorar enquanto falava. "Este país precisa se unir."

Carol Greenlee, filha de Charles Greenlee (que tinha 16 anos na época da acusação injusta e o mais jovem dos suspeitos) chorou e caiu nos braços de quem estava ao seu lado no momento em que ouviu a decisão.

"Se você sabe que algo está certo, lute por isso", disse ela pouco depois. "Seja persistente."

O procurador estadual, o republicano Bill Gladson, deu início à ação no mês passado para que os homens fossem oficialmente inocentados.

"Seguimos as evidências para ver aonde elas nos levaram, e elas nos levaram a este momento", disse Gladson após a audiência, que ocorreu no mesmo tribunal onde os julgamentos originais foram realizados.

Em 2017, o governo da Flórida emitiu um "sincero pedido de desculpas" às famílias dos quatro homens e recomendou seus perdões postumamente.

A história dos quatro homens foi tema do livro Devil in the Grove, que ganhou o prêmio Pulitzer em 2013.