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Adversários nas eleições, Aécio e Dilma debatem no Senado

29/08/2016 19h17

Nos momentos finais do julgamento do impeachment, senador acusa Dilma de ter mentido na eleição presidencial de 2014 e diz que "voto não é salvo-conduto". Petista rebate e cita medidas políticas para "desestabilizá-la".

O senador Aécio Neves (PSDB-MG), adversário de Dilma Rousseff na última eleição presidencial, em 2014, foi um dos parlamentares a questionar a petista durante a sessão desta segunda-feira (29/08) do julgamento do processo de impeachment, dedicada à defesa pessoal da presidente afastada.

"Não poderia imaginar que, depois de nos despedirmos do último debate eleitoral, nos encontraríamos aqui hoje, no Senado Federal, nessa condição", disse Aécio a Dilma no início do discurso.

"Digo isso porque, acredite, não ajo hoje com nenhum sentimento de alegria ao questioná-la, mas ajo com o sentimento da mais absoluta responsabilidade que a minha função de senador me obriga."

O parlamentar, rebatendo o pronunciamento inicial de Dilma nesta segunda-feira, negou que sua atuação no corrente processo de impeachment tenha qualquer relação com um suposto "inconformismo" diante do resultado da última eleição presidencial, da qual saiu derrotado.

"Não é desonra alguma perder as eleições, sobretudo quando se defende ideias e se cumpre a lei. Eu não diria o mesmo de quando se vence as eleições faltando com a verdade e cometendo ilegalidades", afirmou Aécio, iniciando uma série de críticas contra a presidente afastada.

O senador mineiro ainda rechaçou o argumento usado pela defesa de que o processo de impeachment é um golpe, apoiando-se no fato de que ela foi eleita legitimamente com 54 milhões de votos.

"Vossa Excelência recorre aos votos que recebeu como justificativa para todas as atitudes que tomou. O voto não é um salvo-conduto. É uma delegação, que pressupõe deveres e diretos. E o maior dos deveres de quem recebe votos é exatamente o respeito às leis e à Constituição", destacou Aécio.

O tucano citou algumas afirmações de Dilma na época da campanha eleitoral de 2014 a respeito da situação econômica do Brasil. Aécio lembrou que, em setembro daquele ano, num debate televisivo, a petista afirmou que a inflação estava próximo de zero. "Não foi o que 2015 mostrou", rebateu ele.

Dilma responde

Em resposta às declarações do ex-rival na disputa presidencial, a presidente afastada admitiu que também "jamais imaginaria que, depois de todos os nossos debates durante a campanha eleitoral que envolveu o voto de 110 milhões de brasileiros e brasileiras, nós nos encontrássemos aqui hoje".

Dilma afirmou que, após a reeleição, uma série de medidas políticas foram tomadas para desestabilizar seu governo. "Primeiro, pediu-se a recontagem dos votos. Depois, pediu-se auditoria nas urnas. Nos dois casos, após um ano, verificou-se que isso não tinha nenhuma irregularidade", lembrou a petista.

"Na sequência, levantou-se a necessidade de auditar as minhas contas", continuou Dilma, acrescentando que Aécio tem acusado-a "sistematicamente" por supostas irregularidades, enquanto ele próprio tem suas contas de campanha sob investigação.

Respondendo às acusações do senador mineiro a respeito da crise econômica brasileira, a petista se defendeu afirmando que "tivemos um ano muito específico e diferente em 2014".

Dilma citou, por exemplo, a queda dos preços das commodities, como petróleo e minério de ferro, que impactou na arrecadação, e também a grave crise energética.

Ela ainda destacou a saída dos Estados Unidos da política de expansão fiscal logo após sua reeleição, o que elevou os juros americanos e gerou uma desvalorização generalizada das moedas. "Não foi só o real, foram todas as moedas, provocando um efeito na inflação", justificou a petista.

Além da crise econômica, o Brasil vive ainda uma forte crise política, afirmou Dilma, que teria se agravado com a eleição de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) como presidente da Câmara dos Deputados, em fevereiro de 2015. "Isso produziu uma situação complexa para o meu governo", disse ela.

A presidente afastada acusou Cunha, que renunciou ao cargo de líder da Casa em julho deste ano, de não ter aprovado os projetos que foram enviados pelo governo petista para solucionar a crise fiscal. "Ou eles eram aprovados parcialmente, ou eram rejeitados", afirmou Dilma. "Isso mostra uma artificial conduta no sentido de inviabilizar meu governo. É extremamente grave."

Próximos passos do julgamento

Além de Aécio, pelo menos outros 50 senadores se inscreveram para questionar Dilma na sessão desta segunda-feira, que marca os momentos finais do julgamento do processo de impeachment.

Em seguida, provavelmente nesta terça-feira, devem se pronunciar os 81 senadores. Cada um terá dez minutos, antes de todos proferirem seu voto. A votação será por painel eletrônico, aberta e nominal.

São necessários 54 votos de senadores para que seja decretado o impeachment. Havendo essa maioria, Michel Temer deixa de ser presidente interino e é empossado como presidente da República. Caso contrário, Dilma é absolvida da acusação de crime de responsabilidade e reassume o cargo.

EK/abr/ots/Agência Senado