Julgamento de Dilma no Senado entra no quinto dia
Ápice de uma das graves crises políticas da história recente brasileira, o processo de impeachment chega nesta terça-feira (30/08), após nove meses, a seu quinto e talvez último dia de julgamento, com a sessão final no Senado que, segundo as previsões, deve selar o afastamento definitivo da presidente Dilma Rousseff.
Logo na abertura da sessão, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, afirmou que pretende separar esta última fase do processo em duas: os discursos dos senadores, nesta terça, e a votação em si, que ficaria apenas para quarta.
A decisão pode ser intepretada como uma ameaça para tentar fazer com que os senadores diminuam o tempo de discurso. Se isso acontecer, não se descarta que a votação seja realizada ainda na madrugada de terça para quarta.
Na segunda-feira, ao longo de 14 horas, Dilma apresentou sua defesa ao Senado - primeiro com um discurso de 40 minutos e, depois, respondendo a perguntas dos parlamentares. Sua fala foi centrada em denunciar o governo do interino Michel Temer, atacar adversários como Eduardo Cunha e fazer uma espécie de compilação de argumentos da narrativa do "golpe", que já vinham sendo usados em plateias de apoiadores nos últimos meses.
Foi a primeira aparição de Dilma no Senado desde o último dia 12 de maio, quando a presidente foi afastada do cargo, assumido pelo então vice Michel Temer, que seguirá no poder se ela for cassada.
"Não posso deixar de sentir na boca, novamente, o gosto áspero e amargo da injustiça e do arbítrio. E por isso, como no passado, resisto", disse a presidente.
Dilma terminou sua intervenção com apelo à consciência dos parlamentares que decidirão sobre sua destituição definitiva do cargo. Mas, segundo analistas políticos e estimativas dos jornais brasileiros, a intervenção de Dilma não servirá para mudar a situação de ampla desvantagem, apesar do tom emotivo e do forte teor político do discurso e de suas respostas.
Governo calcula 58 votos
A última votação no plenário do Senado, em 10 de agosto, terminou com 59 votos favoráveis ao impedimento de Dilma e 21 contrários, levando a presidente a julgamento. São necessários 54 votos entre os 81 senadores para que a petista seja afastada definitivamente, e as estimativas da imprensa local são de que a oposição tem apoio mais do que suficiente.
Enquanto os aliados do governo interino calculam que terão entre 58 e 60 votos, o grupo pró-Dilma envolvido nas negociações por votos afirma - ao menos publicamente - ter a expectativa de reunir mais oito senadores além dos 21 que já contabiliza.
A conta dos aliados de Dilma leva em consideração ainda a possibilidade de, eventualmente alcançados os 28 votos, esse número pular para 32 ou 33. Isso aconteceria se senadores que não prometem seus votos acompanharem os contrários ao impeachment, caso a estratégia da presidente afastada tenha sucesso.
Manifestantes contrários ao impeachment fizeram bloqueios em importantes vias da capital paulista, provocando longo congestionamento no início da manhã. Os manifestantes atearam fogo a uma grande quantidade de pneus.
Na véspera, também em São Paulo, policiais usaram bombas de efeito moral, gás de pimenta e caminhões de água para dispersar os manifestantes que também protestavam contra o impeachment. Os manifestantes, por sua vez, jogaram lixeiras pelas ruas e as incendiaram. Os organizadores estimaram que 2 mil pessoas participaram do ato.
A sessão
A sessão desta terça pode se estender por 18 horas. Após acusação e defesa apresentarem suas alegações, será iniciada a discussão dos senadores. Cada um terá direito a falar por dez minutos, que não podem ser prorrogados. A previsão é de que essa fase do julgamento dure cerca de nove horas, podendo se estender se mais senadores pedirem a palavra.
Depois acontecerá a votação final, que será realizado de forma nominal, o que deve chegar ao fim apenas quarta-feira, segundo cálculos do presidente do Senado, Renan Calheiros. O voto é nominal e aberto, computado pelo painel eletrônico, onde o resultado final será divulgado.
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