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"Há mortos em toda a parte", diz opositor do Gabão

Moradores montam barricada em Libreville, no Gabão - Marco Longari/ AFP
Moradores montam barricada em Libreville, no Gabão Imagem: Marco Longari/ AFP

Fiacre Ndayiragije

02/09/2016 05h14

O líder da oposição no Gabão falou à DW África. Jean Ping descreve uma situação caótica na capital, Libreville, palco de protestos violentos contra a reeleição do Presidente Ali Bongo.

Na quinta-feira (1º), voltaram a se registrar manifestações e tiroteios na capital do Gabão, Libreville. Mais de mil pessoas foram detidas na sequência de dois dias de protestos violentos contra a reeleição do Presidente Ali Bongo.

Há, pelo menos, três mortos confirmados e vários feridos. Mas, em declarações à DW África, o líder da oposição, Jean Ping, fala em "confrontos e cadáveres em todo o lado".

"Não sabemos quantos morreram, mas o número é elevado", diz Ping. "A nossa sede foi atacada, bombardeada por um helicóptero da guarda presidencial e invadida pela guarda, polícia e mercenários. Destruíram tudo e prenderam toda a gente que estava no edifício."

Depois de os manifestantes terem incendiado o Parlamento, na quarta-feira à noite, os principais centros do poder encontram-se agora sob um forte dispositivo de segurança. As comunicações digitais foram interrompidas.

Ping pede recontagem

O regime de Ali Bongo encontra-se sob pressão da comunidade internacional, que pede o fim da violência e questiona a transparência das eleições. Bongo está no poder desde 2009, desde a morte do pai, Omar Bongo, que esteve na Presidência do Gabão durante 42 anos.

Nas presidenciais de sábado, Ali Bongo venceu por menos de seis mil votos contra Jean Ping, segundo a Comissão Eleitoral Nacional, e a oposição pede uma nova contagem dos votos. Também a União Europeia, a França e os Estados Unidos pediram a publicação dos resultados de todas as assembleias de voto no Gabão e não apenas os totais nacionais.

Ping acusa Ali Bongo de manipulação: O presidente cessante teria anunciado "os resultados que quis anunciar. Fala numa afluência às urnas de 99,93% na sua região-natal, o Alto-Ougooué, mas estes números não podem estar certos. A média da afluência no país é de 53%. São números que Ali Bongo fabricou."

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, apelou esta quinta-feira a uma "averiguação transparente" dos resultados e à libertação imediata de todos os presos políticos no Gabão. Ki-moon pediu ainda ao Governo que "restabeleça imediatamente" os meios de comunicação do país, incluindo a Internet, SMS, rádios e televisões independentes.

Do Conselho de Segurança das Nações Unidas chegam apelos à contenção de todos os candidatos, apoiantes e partidos. Jean Ping afirma, no entanto, que não pode fazer quaisquer pedidos aos militantes da oposição.

"Os nossos apoiantes foram todos detidos, mortos, atacados com gás e encarcerados. Não podemos fazer apelos aos mortos", afirma Ping à DW.

Bongo: "Grupos treinados para a destruição"

O recém-eleito presidente Ali Bongo rejeitou na quinta-feira qualquer responsabilidade pela violência no país, apontando o dedo a "pequenos grupos treinados para a destruição". O chefe de Estado repreendeu ainda a oposição que contesta a sua reeleição, sublinhando que "as eleições deram o seu veredito" e quem perdeu pretendia "tomar o poder para se servir do Gabão e não servir o Gabão".

O líder da oposição, Jean Ping, refugiado num local desconhecido, devolve as acusações: "Como é que o presidente pode bombardear o seu próprio povo? Quando Assad faz isso na Síria, o mundo inteiro insurge-se, mas quando um tirano dispara contra o seu povo com um helicóptero, ninguém quer saber. Estão a acontecer coisas terríveis. Ali Bongo vai acabar a responder perante o Tribunal Penal Internacional, em Haia."