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Berlim quer transformar sua principal avenida em calçadão

Maratona de Berlim passa pela Unter den Linden, com o portão de Brandemburgo ao fundo - Fabrizio Bensch/Reuters
Maratona de Berlim passa pela Unter den Linden, com o portão de Brandemburgo ao fundo Imagem: Fabrizio Bensch/Reuters

Clarissa Neher

18/11/2016 13h35

Dois meses após as eleições em Berlim, em meados de setembro, três legendas – Partido Social-Democrata (SPD), Partido Verde e A Esquerda – anunciaram nesta semana o acordo para formar uma coalizão.

O processo de negociações foi, e costuma ser, demorado, afinal, tudo é discutido minuciosamente para evitar lacunas que podem gerar conflitos durante o governo. No modelo alemão, a formação do governo leva meses, e as futuras medidas são detalhadas minimamente, sem deixar espaço para uma batalha de egos.

Em Berlim, por exemplo, a negociação gerou um acordo de 270 páginas. Enquanto os partidos estavam reunidos, a imprensa local revelou algumas das propostas acertadas pelo novo governo.

A que mais surpreendeu e causou polêmica é a possível transformação da avenida mais famosa da cidade, a Unter den Linden – aquela que começa no Portão de Brandemburgo e segue até a ilha dos museus – num calçadão.

A proposta prevê o fechamento da avenida para o trânsito de carros, apenas ônibus do transporte coletivo e táxis poderão circular nela. Além de pedestres, ciclistas terão a preferência de uso deste novo calçadão.

Eu, como ciclista, adorei a ideia. Afinal, é um inferno cruzar de bicicleta a cidade de oeste a leste na região central. Atualmente não há nenhuma rua ou ciclovia que permite uma travessia segura no centro. Bicicletas são obrigadas a disputar espaços com carros, e muitas vezes acabam colocando-se ou sendo colocadas em situações de risco. A criação de uma via exclusiva neste eixo central pode incentivar o uso da bicicleta e facilitar a vida de milhões de ciclistas que precisam se deslocar na região. 

Para aqueles que pensam nos motoristas e como eles ficarão sem poder usar a avenida: o novo governo argumenta que na região há grandes vias que podem absorver esse trânsito. E, realmente, para carros não faltam opções de tráfego no centro. Para mim, a ideia de fechar a avenida mostra que a nova coalizão está tentando, ou pelo menos tem vontade, de fazer de Berlim uma cidade melhor para todos. Afinal, quem disse que donos de carros têm mais direitos de usufruir das estruturas das cidades do que pedestres e ciclistas?

Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às sextas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy