Opinião: Venezuela, a Coreia do Caribe
O que preocupa os vizinhos da Venezuela, um país que vai continuar dando o que falar na OEA, é a transformação de uma crise nacional numa regional, opina o jornalista Evan Romero-Castillo.
Se não fosse pelas calamidades que afligem a Venezuela, a risada sarcástica que causou a decisão do presidente Nicolás Maduro de retirar seu país da Organização de Estados Americanos (OEA) teria sido mais engraçada. Mas o inferno em que se converteu a nação caribenha fica mais insuportável a cada hora que passa; essa é a fração de tempo com que se medem o encarecimento do custo de vida e a proliferação de homicídios impunes, para mencionar apenas duas das pragas que esfomeiam e entristecem os seus habitantes. Ninguém está se divertido com o fato de a Venezuela deixar o fórum panamericano, não importa o quão bizarro seja o anúncio de sua saída.
A oposição antichavista é tachada de ingênua por seus esforços em persuadir a OEA a verificar e condenar abertamente as violações dos direitos humanos, o desmantelamento das instituições democráticas e as investidas contra o Estado de direito praticadas por Maduro e seus subalternos. Os oposicionistas foram ingênuos por crer que, por si só, as evidências do "dossiê Venezuela" – compiladas e apresentadas pelo atual secretário-geral da OEA, Luis Almagro – bastariam para convencer a comunidade continental a repreender o governo de Maduro e promover ativamente a retomada da ordem constitucional no país.
Mas mais ingênuo é Maduro, se ele pensa que a Venezuela deixará de ser objeto de escrutínio ao deixar as fileiras da OEA. A essa altura, Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Panamá, Peru, Trinidad e Tobago, entre outros países, sofrem na própria pele as consequências da governança insana do chavismo: o êxodo de venezuelanos já é um fenômeno que os homólogos de Maduro na região percebem como um problema. Não são os dramas internos da Venezuela que preocupam os vizinhos, mas a transformação de uma crise nacional em regional.
Se o afluxo maciço de norte-coreanos é um pesadelo recorrente para a Coreia do Sul, que conta com programas de acolhimento e adaptação para seus irmãos refugiados, não é difícil imaginar como veem América Latina e Caribe o contingente de venezuelanos que fogem da ditadura bolivariana. Embora a Venezuela tenha anunciado, no dia 26 de abril, que se desligaria da OEA, a sua saída será efetivada somente em 2019.
Se os seus representantes não participarem das reuniões nos próximos dois anos, outros membros da organização podem entender esse gesto de intransigência como um convite para interagir com Caracas bilateralmente, de governo a governo, com os riscos que isso implica.
O advogado venezuelano Mariano de Alba, especialista em direito internacional, comentou numa análise recente que até mesmo os governos mais comedidos podem acabar sendo forçados a chamar seus embaixadores para consultas ou fechar suas representações em Caracas. No entanto, o especialista alertou que medidas nesse sentido poderiam levar à falta de legitimidade do regime Maduro, isolar ainda mais o país e contribuir para a perpetuação de um sistema totalitário que, na verdade, vê no ostracismo autoimposto uma estratégia de sobrevivência. Cabe à diplomacia continental tornar viáveis cenários menos ameaçadores.
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