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Empatia demais pode fazer mal

Julia Vergin (ca)

24/10/2017 11h57

O mundo seria melhor se as pessoas fossem mais empáticas? Não necessariamente, pois, em excesso, o sentimento causa estresse, apontam pesquisadores. Por outro lado, compaixão costuma ter um efeito positivo.Quando vemos imagens de vítimas de guerra ou de crianças famintas na TV, são os sentimentos de empatia e compaixão – ou a falta deles – que determinam se choramos ou sofremos, se queremos ajudar ou se desviamos o olhar.

Apesar da proximidade entre ambos os sentimentos, há diferenças entre eles. "A empatia e a compaixão são apoiadas por diferentes sistemas biológicos e estruturas cerebrais", explica Tania Singer, cientista do Instituto Max Planck de Ciência Cognitiva e Neurociência.

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A compaixão – sentimento de pesar, associado ao desejo de confortar o outro – gera um efeito positivo, nos fazendo reduzir o sofrimento alheio. "São ativadas áreas do cérebro associadas à recompensa e à filiação em certo grupo social que agem de forma positiva em nossa saúde", diz Singer, autora do e-livro Compassion – Bridging Practice and Science (Compaixão – Estabelecendo pontes entre a prática e a ciência, em tradução livre).

Já no caso da empatia – ou seja, a capacidade de compreensão emocional e de sentir o que o outro sente –, pesquisas mostram que é ativada a rede neural no cérebro que representa nossas próprias experiências dolorosas. O problema é que a fronteira entre a própria dor e o sofrimento alheio se desfaz rapidamente.

A aflição ao ver o sofrimento de outras pessoas pode, portanto, se tornar demasiada e transformar-se em "estresse empático". É aí que desligamos a TV para não ver mais as imagens ruins, por exemplo. "A empatia pode levar ao esgotamento", aponta Singer.

O estresse empático surge, principalmente, diante do sofrimento de grandes grupos de pessoas, afirma o psicólogo social Stefan Pfattheicher, pesquisador na Universidade de Ulm.

"Isso pode ser visto no comportamento dos doadores. É mais fácil obter doações quando se trata de uma única pessoa do que de um grupo grande", diz. Segundo o cientista, isso não tem a ver com frieza, mas com uma espécie de sobrecarga. O estresse empático dificulta a compaixão.

Pfattheicher se interessa pelo lado obscuro da empatia e da compaixão. "Se, por exemplo, alguém vê uma vítima de um ataque terrorista, percebendo bastante a sua dor e considerando-a injusta, então, é possível que ele desenvolva tendências hostis e agressivas para com aqueles que causaram esse sofrimento", explica os resultados de um de seus estudos.

A gentileza e a oxitocina

O hormônio oxitocina desempenha um papel decisivo na compaixão. A influência social positiva do hormônio foi demonstrada em experimentos com duas subespécies de ratos.

Enquanto membros da espécie Microtus ochrogaster possuem um cérebro equipado com muitos receptores de oxitocina e mantêm relações duradoras e monogâmicas, membros da espécie Alticola barakshin são considerados solitários que mudam constantemente de parceiros. Nesses últimos, os receptores de oxitocina são menos numerosos.

Pesquisadores verificaram que se interrompem a atividade de oxitocina dos amáveis Microtus ochrogaster, eles se tornam tão insensíveis quanto seus parentes da outra espécie.

Há muitas evidências de que a oxitocina possui, basicamente, um efeito semelhante no comportamento social de humanos. Sob a influência do hormônio, nota-se um aumento da generosidade.

Menos estresse

Engana-se quem pensa que a compaixão é somente um presente altruísta para as pessoas ao nosso redor. Aqui também vale a pena analisar um hormônio, o cortisol, emitido em situações estressantes. A compaixão e a subsequente emissão de oxitocina reduzem o cortisol e, assim, o estresse.

Ao mesmo tempo, o sofrimento de um ser humano pode gerar uma reação de estresse na qual o cortisol é secretado. O hormônio nos coloca, então, em ação e nos deixa prontos a ajudar. Portanto, um nível baixo de cortisol pode, assim como a falta de oxitocina, gerar frieza.

Num estudo em grande escala no Instituto Max Planck para Ciência Cognitiva e Neurociência em Leipzig, Singer examina os efeitos de diferentes técnicas meditativas sobre a capacidade de sentir mais compaixão.

"O treinamento mental direcionado pode resultar em mudanças estruturais no cérebro, até mesmo em pessoas adultas", diz a especialista. A empatia e a compaixão podem ser treinadas, aponta.

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