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Como Macron e Merkel querem mudar zona do euro

Lewis Sanders (av)

16/03/2018 15h59

Presidente francês recebe recém-reeleita chanceler alemã em Paris e expõe plano que inclui maior centralização da área de moeda única. União Europeia como um todo também teria mudanças.O presidente da França, Emmanuel Macron, comprometeu-se a implementar reformas da União Europeia e da zona do euro. Desde que assumiu, em 2017, ele tem consistentemente enfatizado seu desejo de ter a Alemanha como parceira na liderança dessas reformas.

Durante visita da recém-reeleita chanceler federal alemã, Angela Merkel, à capital Paris, nesta sexta-feira (16/03), ambos os dirigentes confirmaram que prepararão um "roteiro" sobre a reforma da UE e da união monetária a tempo para a cúpula europeia, em junho próximo.

"Por muitos anos, a Europa tem esperado da dupla franco-alemã que se adiante e faça propostas com a força que tem demonstrado a cada grande estágio da história da Europa", declarou Macron. "Estamos prontos para isso."

Leia mais: Macron é a nova Merkel da Europa?

Segundo o político francês, o roadmap "claro, ambicioso" focará a zona do euro, constituída por 19 países-membros, mas também cobrirá áreas-chave de política, como migração e defesa, a fim de "melhor casar responsabilidade e solidariedade".

Merkel acrescentou que "Alemanha e França devem liderar pelo exemplo". "Queremos atingir concordância em questões que incluem a estabilização permanente e sustentável do euro, assegurando competitividade e um plano conjunto de [concessão de] asilo."

"Europa de duas velocidades"

O plano de reforma já esboçado anteriormente por Macron tem três metas centrais: criar o cargo de ministro das Finanças da UE; estabelecer um orçamento conjunto para os países da União Monetária; instituir um órgão encarregado de supervisionar a política econômica de todo o bloco europeu.

A visão do político francês é de uma Europa de duas velocidades, permitindo que os países dispostos a uma maior integração adotem as medidas propostas, enquanto os demais teriam a opção de manter seu status quo.

Em termos das reformas da união monetária, Macron acredita que um Parlamento separado, composto por membros dos Estados da zona do euro, permitiria decidir sobre questões que não dizem respeito aos membros que não adotaram a moeda única.

Cautela de Berlim

Embora basicamente apoiando as propostas reformistas, ao ser confrontada com elas Merkel cautelosamente ressaltara que Berlim e Paris precisam encontrar uma "posição comum", sobretudo no que concerne reformar a eurozona.

Berlim tem se mostrado particularmente relutante em aceitar a sugestão de Macron de concentrar recursos financeiros para a zona do euro. Numerosos parlamentares da Alemanha argumentam que isso criaria uma "união de transferência", na qual o país injetaria mais recursos do que receberia de um fundo coletivo. O governo alemão insiste, além disso, que tal fundo esteja associado a reformas econômicas.

Uma proposta alemã, do ex-ministro de Finanças, Wolfgang Schäuble, é transformar o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), fundo de resgate do bloco, num Fundo Monetário Europeu, o qual redistribuiria as verbas para os países necessitados.

Em seu acordo de coalizão, o novo governo da Alemanha declara-se favorável a reformas em âmbito europeu, estipulando que depositará mais no orçamento do bloco, embora enfatizando a necessidade de disciplina orçamentária.

Cronograma provisório

Em 2017, Merkel e Macron se comprometeram a estabelecer um quadro básico para as reformas até março do ano corrente como prazo para. Agora, o próximo prazo, para o desenvolvimento do roadmap, é a conferência de cúpula da UE em meados deste ano. "Temos que alcançar resultados até junho", enfatizou o chefe de Estado francês nesta sexta-feira.

Paris e Berlim ainda precisam superar suas contradições no tocante à centralização da eurozona. Para Macron, a União Monetária deveria ser mais centralizada, enquanto para Merkel as dificuldades atuais estariam ligadas a uma confiança excessiva em estruturas centralizadas.

Em dezembro último, a Comissão Europeia, órgão executivo da UE, propôs reformas semelhantes, incluindo criar tanto um posto ministerial quanto um "orçamento para os dias de chuva", voltado a assistir aos países-membros atingidos por dificuldades econômicas.

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