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Opinião: Mais fatos e menos ameaças na guerra de tarifas

Timothy Rooks (as)

31/05/2018 13h10

Tarifas aduaneiras prejudicam todo mundo, mas EUA têm razão quando dizem que taxam menos que a UE. Os dois lados deveriam olhar mais para os números e trocar as ameaças pelo diálogo, afirma o jornalista Timothy Rooks.Agora é oficial. As tarifas de 25% para o aço e de 10% para o alumínio importados da União Europeia (UE), impostas pelos Estados Unidos, estão em vigor. Como esperado, o presidente Donald Trump não cedeu às pressões da UE, do Departamento de Defesa dos EUA e das montadoras de automóveis.

Além de garantir manchetes enormes sobre – supostos – salvamentos de empregos dentro de casa, a administração de Trump muito provavelmente vê táticas como essa como um porrete que ela pode usar contra qualquer um que veja como fraco. O próprio Trump há muito é conhecido por suas ameaças, mas agora essas abordagens rudimentares estão desfazendo décadas de uma cooperação cada vez mais estreita e se tornando o comportamento padrão dos americanos.

Os europeus estão furiosos, e muitos defenderam medidas retaliatórias, taxando uísque e motocicletas Harley-Davidson. Mas o que se perde no meio de todos os tuítes, gritos e reclamações é o fato de que os Estados Unidos têm o direito de buscar um realinhamento do comércio global para e a partir das suas fronteiras, mesmo se falsamente embalarem sua decisão como sendo de "segurança nacional".

Ao mesmo tempo é importante relembrar que desregulamentação é um ponto-chave da agenda de Trump. Exemplos dessa política são reformas fiscais e a reversão de várias regras financeiras internas. Mas, quando se trata de comércio internacional, a administração está examinando minuciosamente cada detalhe.

Porém, só quando se coloca os interesses nacionais de lado é que os verdadeiros vencedores – ou vítimas – de uma regulação aduaneira podem ser ouvidos: atividades econômicas. Nas vésperas da decisão desta quinta-feira, as empresas estavam reclamando desse pôquer de alto risco. Muitos torcem para que essas novas tarifas sejam apenas um meio de pressão e não o início de um círculo vicioso numa guerra do tipo "olho por olho, dente por dente", que poderia afetar de forma arbitrária qualquer setor em qualquer momento.

Se existe uma coisa que atividades econômicas odeiam mais do que tarifas e impostos é incerteza. E é verdade que a imprevisibilidade é um veneno para os negócios. Mudanças súbitas num mundo com uma cadeia de produção globalmente conectada são um choque e forçam empresas a buscar soluções improvisadas e caras. Some-se a isso custos mais elevados de capital, e o resultado são balanços contábeis apertados. No fim das contas, a alta dos custos será repassada a consumidores de todo o mundo.

Ainda que tarifas não sejam nada de novo e sejam aplicadas em todo o mundo, o que torna essa contenda especialmente lamentável é que um dos lados a percebe como baseada numa compreensão econômica reduzida e em debates muito pouco construtivos, enquanto o outro lado pensa que está apenas cumprindo promessas de campanha ao enviar uma mensagem simplista de "Os Estados Unidos em primeiro lugar" para operários do Centro-Oeste dos Estados Unidos.

Mas um novo estudo do instituto econômico alemão Ifo mostra que há, de fato, um desequilíbrio nas tarifas aduaneiras entre os Estados Unidos e a União Europeia e que, na média, as tarifas americanas de importação são de fato inferiores às impostas pela UE.

Na verdade, o caso que Trump vive repetindo é modelar. Os americanos pagam 10% para enviar seus carros para a Europa, enquanto os europeus pagam apenas 2,5% para enviar os seus carros aos Estados Unidos. São poucos os casos em que o contrário é verdadeiro. Apesar de todos esses fatos e números, ambos os lados parecem presos numa discussão e nenhum consegue enxergar um caminho claro para livrar a cara, salvar empregos e manter o comércio funcionando.

Os europeus querem até mesmo ampliar as barreiras comerciais e levar o caso para a Organização Mundial do Comércio (OMC). Os Estados Unidos se tornam mais cabeçudos a cada dia. No fim das contas, pouco importa se essas ações são legais ou contra as regras da OMC – a China pode facilmente preencher o vazio, como está fazendo no Irã.

O mais importante é a ressaca e os efeitos de longo prazo de uma diplomacia desgovernada. Ambos os lados terão de trazer expectativas realistas e nervos de aço para a mesa de negociações, pois um mundo sem parceiros comerciais ou aliados em quem se possa confiar é, de fato, um lugar solitário.

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