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Polícia de Cuba prende ativistas após cancelar parada LGBT

Ativista cubano é detido por seguranças vestidos à paisana enquanto participava de uma manifestação anual contra a homofobia e transfobia em Havana, Cuba - Stringer/Reuters
Ativista cubano é detido por seguranças vestidos à paisana enquanto participava de uma manifestação anual contra a homofobia e transfobia em Havana, Cuba
Imagem: Stringer/Reuters

Deutsche Welle

12/05/2019 08h24

A polícia de Cuba interrompeu ontem uma marcha pelos direitos LGBTI+, que fora organizada como protesto pelo cancelamento do desfile contra a homofobia, patrocinado anualmente pelo governo e cancelado esta semana pelas autoridades do país. Ao menos três ativistas foram presos.

Aos gritos de "sim, é possível!", os cerca de 100 manifestantes conseguiram caminhar apenas 400 metros pela famosa avenida Paseo del Prado, no centro histórico de Havana, antes de serem dispersados pela polícia.

O ativistas protestaram contra o cancelamento da tradicional "conga", organizada anualmente há mais de 10 anos, no Dia contra a Homofobia, pelo Centro Nacional de Educação Sexual (Cenesex), sob o patrocínio do Ministério da Saúde cubano.

Na segunda-feira, o Cenesex - dirigido por Mariela Castro, filha de Raúl Castro e ativista LGBT - anunciou na sua página oficial no Facebook que a decisão de cancelar o evento fora tomada pelo Ministério da Saúde "dada a atual conjuntura vivida pelo país", que se prepara para enfrentar a pior crise econômica em décadas.

O cancelamento coincide com as medidas de austeridade anunciadas pelo governo de Cuba, incluindo racionamento de produtos básicos. O governo cubano atribuiu a escassez no abastecimento ao recrudescimento dos embargos dos Estados Unidos. Economistas também apontam como causas a ineficiência da economia cubana e a crise na Venezuela, o principal parceiro comercial da ilha.

Mais de cem pessoas participaram de uma manifestação pelos direitos LGBTI+ em Havana no sábado - YAMIL LAGE / AFP - YAMIL LAGE / AFP
Mais de cem pessoas participaram de uma manifestação pelos direitos LGBTI+ em Havana no sábado
Imagem: YAMIL LAGE / AFP
A marcha de protesto foi a segunda passeata organizada independentemente de instituições estatais - algo até então raro em Cuba - em pouco mais de um mês, embora a anterior, em defesa dos direitos dos animais, tenha recebido autorização das autoridades locais.

"Este momento marca um antes e um depois para a comunidade LGBTI+, mas também para a sociedade civil cubana em geral", avaliou o jornalista independente e ativista Maykel Gonzalez Vivero. "A mídia social está desempenhando seu papel, e a sociedade civil demonstrou que tem força e pode sair às ruas se necessário, e a partir de agora o governo terá que levar isso em conta."

Os ativistas promoveram a marcha nas redes sociais, graças à expansão da internet em Cuba nos últimos anos, com um número crescente de cubanos se mobilizando online sobre certas questões.

Mas o governo continua mantendo um controle rigoroso sobre espaços públicos físicos, autorizando apenas manifestações de apoio ao governo, como o recente desfile do Dia do Trabalho.

A "conga" de Havana era uma exceção, que se tornou um evento regular, e um lembrete de que o governo, que já enviou gays a campos de trabalho forçado nos primeiros dias da revolução de 1959 de Fidel Castro, fez avanços consideráveis nos direitos LGBTI+ nos anos recentes.

Havana garante os direitos dos homossexuais e proíbe a discriminação com base na sexualidade em uma região onde alguns países ainda têm leis contra sodomia.

Alguns ativistas dizem que sentiram que o cancelamento da "conga" é um sinal de que esses direitos estão sendo corroídos, possivelmente porque uma recente consulta pública sobre uma nova Constituição revelou haver mais oposição à comunidade gay do que se pensava anteriormente.

O desfile de 2019 teria sido o primeiro depois da aprovação em abril da nova Constituição cubana, que chegou a ter prevista uma modificação abrindo caminho ao casamento homossexual, embora não tenha sido incluída no texto final. Muitos cubanos expressaram sua oposição à mudança. Igrejas evangélicas também realizaram campanhas sem precedentes contra a modificação.

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