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Guerra da Rússia-Ucrânia

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Nada de novo no front? Por que o conflito na Ucrânia lembra a 1ª Guerra Mundial

25.out.22 - Policiais caminham no local da explosão de um carro-bomba do lado de fora de um prédio que abriga uma estação de TV local na cidade russa de Melitopol, no sul da Ucrânia - STRINGER/AFP
25.out.22 - Policiais caminham no local da explosão de um carro-bomba do lado de fora de um prédio que abriga uma estação de TV local na cidade russa de Melitopol, no sul da Ucrânia Imagem: STRINGER/AFP

25/03/2023 04h00

Uma batalha longa e exaustiva, muitas vezes em trincheiras cheias de lama e água da chuva. Soldados de infantaria de ambos os lados trocando tiros ou lançando granadas, acompanhados pelo fogo pesado da artilharia. E tudo isso com pequenos ganhos de terreno e pesadas baixas de ambos os lados.

Muitos analistas já observaram que a atual dinâmica da Guerra da Ucrânia lembra cada vez mais o que aconteceu na Primeira Guerra Mundial, de 1914 a 1918 - e que muitas pessoas hoje conhecem das imagens mostradas no filme "Nada de Novo no Front".

Os analistas se referem ao que, no jargão militar, é conhecido como guerra de exaustão e que também tem os nomes de guerra de posições, guerra de desgaste ou guerra de atrito. Frequentemente é também uma guerra de trincheiras.

Ao contrário da guerra de movimento, a guerra de exaustão transcorre num local fixo, no qual o front permanece por um longo tempo inalterado, enquanto se busca impor pesadas perdas materiais e de pessoal ao inimigo, ao ponto da exaustão e do consequente colapso.

A emblemática Batalha de Verdun

O caso mais conhecido de guerra de exaustão ocorreu justamente na Primeira Guerra Mundial, no front ocidental, quando as duas partes permaneceram durante anos em trincheiras, defendendo posições, sem grandes avanços.

A batalha emblemática da guerra de exaustão é a Batalha de Verdun, ocorrida ao longo do ano de 1916. Verdun foi uma das batalhas mais longas e mortais da Primeira Guerra Mundial.

O chefe do Estado-maior alemão, general Erich von Falkenhayn, diria, anos depois, que o principal objetivo dele não era tomar Verdun, mas destruir a força militar francesa, ainda que muitos historiadores duvidem dessa versão.

Bakhmut tem alto valor simbólico

Nas últimas semanas são cada vez mais frequentes as comparações entre Verdun e a batalha pela cidade ucraniana de Bakhmut, na região de Donetsk - também esta, longa e sangrenta.

Embora a pequena cidade ucraniana, assim como a pequena Verdun em 1916, não tenha grande importância estratégica, ambos os lados lutam ferrenhamente por ela, com custos elevados de pessoal e material.

A liderança ucraniana afirma que há sete russos mortos para cada ucraniano morto na batalha. Especialistas da Otan calculam que a proporção seja de 5 para 1.

Os ucranianos estão defendendo Bakhmut desde o verão europeu do ano passado. Os relatos mais recentes dão conta de que os russos estão avançando, ainda que muito lentamente.

Como Verdun, Bakhmut se transforma cada vez mais num símbolo - para ambos os lados.

Para os ucranianos, Bakhmut é um símbolo de resistência, uma demonstração de que é possível conter e vencer os russos. Para os russos, tomar Bakhmut seria a primeira vitória digna de nota desde a tomada de Lysychansk, em julho de 2022.

E devido aos meses de batalha e bombardeios, o front em Bakhmut também se assemelha à paisagem devastada pela guerra de Verdun na Primeira Guerra Mundial, com prédios destruídos, árvores reduzidas aos troncos e trincheiras cheias de lama.

Nem tudo é parecido

Mas, se a dinâmica no terreno se assemelha ao que aconteceu há mais de cem anos, as proporções são outras. Estimativas recentes indicam que as forças ucranianas usam menos de 10 mil projéteis de artilharia por dia, e os militares russos, algumas dezenas de milhares. Na Primeira Guerra Mundial o total diário podia passar de 1 milhão.

Também os contingentes militares envolvidos na Guerra da Ucrânia são muito menores do que na Primeira Guerra Mundial, e as perdas, ainda que elevadas de ambos os lados, não chegam nem perto dos 9 milhões de militares mortos - sem falar num número equivalente de civis.

Em entrevista à DW, o historiador australiano Christopher Clark, autor de "The sleepwalkers: How Europe went to war in 1914" (Os sonâmbulos: Como a Europa foi à guerra em 1914), também rejeitou uma comparação com o início da Primeira Guerra Mundial.

Ele lembra que, em 1914, o conflito não começou com o ataque frontal de um país ao outro, mas com o assassinato do arquiduque Franz Ferdinand, herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro.

Para ele, o início da Guerra da Ucrânia tem paralelos com o século 19, ou como o czar Nicolau 1º, em 1848, justificou a intenção de invadir e ocupar a Valáquia, na atual Romênia. "Acho que Vladimir Putin encara a Ucrânia como um território [da Rússia]", observou. "Estamos de volta ao mundo do século 19 e não ao mundo em 1914."