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Muito antes da 2ª Guerra: o campo de concentração que prenunciou o terror nazista

Há 90 anos, campo de Dachau prenunciava o terror nazista - DW
Há 90 anos, campo de Dachau prenunciava o terror nazista Imagem: DW

26/03/2023 04h00

Era o prelúdio do extermínio sistemático de pessoas durante o regime de Adolf Hitler. Há 90 anos, os nazistas montaram o primeiro campo de concentração em Dachau, a noroeste de Munique, a menos de 20 quilômetros do centro da capital da Baviera.

Em 22 de março de 1933, menos de dois meses após de Hitler assumir o poder, os primeiros presos chegaram ao campo. "Dachau − o significado deste nome não pode ser apagado da história alemã", diria mais tarde o sobrevivente do Holocausto Eugen Kogon (1903-1987), um respeitado cientista político e jornalista. "Ele representa todos os campos de concentração que os nacional-socialistas montaram em sua esfera de influência."

De fato: Dachau foi uma espécie de modelo. Como disse certa vez o historiador Wolfgang Benz, lá "foram criados os regulamentos para todos os campos de concentração posteriores". E como nos futuros campos, já no portão os prisioneiros eram confrontados com a cínica inscrição "Arbeit macht frei" ("O trabalho liberta").

"Era a expressão concreta para zombar dos detentos, da opressão, da desumanização". E como foi o caso mais tarde com outros grandes campos: Dachau tinha 140 subcampos. Em muitos lugares da área, fosse construindo estradas ou removendo escombros, não havia como não ver os prisioneiros, em algum momento.

Advertência para que a história não se repita

Em junho de 2022, falando a rabinos de vários países europeus, Charlotte Knobloch descreveu Dachau como um "lugar de origem do terror nazista". E hoje em dia um lugar que, como nenhum outro da Alemanha, é uma advertência para que isso nunca se repita.

"Nunca mais exclusão, nunca mais privação de direitos, nunca mais assassinatos, nunca mais desumanização. E para o povo judeu também: nunca mais ser vítima." A dor do lugar é talvez mais evidente do que nunca quando um rabino entoa ali o canto fúnebre.

No primeiro campo de concentração, os nazistas colocaram cidadãos que lhes eram incômodos, indesejados: opositores do regime nazista, comunistas, cristãos engajados, judeus, sintos e roms (ciganos), testemunhas de Jeová, homossexuais. Nos 12 anos até a libertação do campo pelo Exército americano, em 29 de abril de 1945, mais de 200 mil pessoas de toda a Europa estiveram presas aqui, ou, para ser mais claro: confinadas num espaço mínimo.

Ao fim da guerra, pelo menos de 32 mil haviam morrido lá, pesquisas mais recentes chegam a 41 mil mortes. Cerca de um quarto de todos os prisioneiros eram de fé judaica, no mínimo 11.250 deles não sobreviveram.

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Prisioneiros de Dachau saúdam americanos na chegada para serem libertados
Imagem: DW

Contar às crianças como era Dachau

Uma característica especial em Dachau era o "bloco dos padres". Em 1940, os nazistas lá reuniram cerca de 3 mil clérigos de várias confissões e de 20 países, vindos de outros campos do Reich alemão, a maioria padres católicos, muitos da Polônia. Quando o tifo irrompeu no campo, no início de 1945, os padres se ofereceram para cuidar dos doentes − e perderam suas vidas no processo.

Semanas depois de ser libertado pelos soldados americanos, o campo permaneceu fechado e sob estrita quarentena, devido à epidemia. Mais de 10 mil detentos, enfraquecidos pela privação e maus tratos dos anos de acampamento, sucumbiram à doença, incluindo várias centenas de padres católicos.

Entre os religiosos presos estavam o teólogo luterano e eminente antinazista Martin Niemöller (1892-1984) e o carmelita holandês Titus Brandsma (1881-1942), morto em consequência de experimentos médicos na enfermaria do campo e venerado pela Igreja Católica como santo desde 2022. Vários padres sobreviventes mais tarde se tornaram bispos.

O presumivelmente último deles foi o padre Hermann Scheipers (1913-2016), ordenado em 1937, enviado ao campo como "inimigo do Estado" em 1941. Ainda aos 90 anos de idade, Scheipers ia às escolas e eventos informativos para relatar sobre o campo de concentração. "Eu tinha que contar às gerações posteriores como era em Dachau", explicava.

Perigos do extremismo de esquerda e de direita

O extenso memorial, construído em 1965, recebe cerca de 1 milhão de visitantes de todo o mundo, a cada ano. Apenas alguns prédios do período nazista continuam de pé. Durante uma visita de rabinos europeus a Dachau, em 2022, o secretário do Interior da Baviera, Joachim Herrmann, anunciou que o memorial seria ampliado.

Instalações até então usadas para outros fins, que teriam pertencido ao campo de concentração de Dachau seriam desocupadas, "porque a demanda e o número de visitantes aumentaram significativamente". A expansão deve ser concluída até 2025, o mais tardar.

Para Charlotte Knobloch, de 90 anos, continua sendo o lugar onde começou a "barbárie em nome da Alemanha". Ela insiste que a memória deve ser vivida, não apenas para devolver a dignidade às vítimas: Dachau também é um lembrete constante de que "o extremismo da esquerda e da direita põe em perigo a religião, a coexistência e a liberdade. Ele ameaça tudo o que construímos. Devemos parar a tempo aqueles que mais uma vez estão dando espaço à barbárie na Alemanha de hoje e que a estão promovendo pela força."

Que esse memorial não está imune a novas violências, foi demonstrado em 2014: numa noite de novembro, desconhecidos roubaram o portão de ferro forjado do memorial com a inscrição "O trabalho liberta". Dois anos depois, ele apareceu na Noruega e foi trazido de volta em 2017. As circunstâncias do roubo nunca foram esclarecidas.