O que a volta da 'diplomacia do panda' diz sobre a tensa relação China-EUA
A China anunciou na quinta-feira (22) que vai voltar a enviar pandas-gigantes para os Estados Unidos. O gesto, curioso, sinaliza uma melhoria das relações diplomáticas entre as duas superpotências.
A medida renova um gesto de amizade de longa data após o retorno de quase todos os ursos que tinham sido emprestados pela China aos zoológicos norte-americanos, na época em que as relações entre as duas nações se deterioraram.
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"Instituições chinesas relevantes assinaram acordos com os zoológicos de Madri, na Espanha, e de San Diego, nos Estados Unidos, em uma nova rodada de cooperação internacional para a proteção dos pandas-gigantes", disse Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, durante uma coletiva de imprensa regular da pasta.
"Elas também estão trabalhando com o zoológico de Washington, nos Estados Unidos, e o de Viena, na Áustria, para negociar ativamente e lançar uma nova rodada de cooperação", acrescentou.
"Esperamos expandir ainda mais os resultados da pesquisa sobre a conservação de espécies ameaçadas de extinção, como os pandas-gigantes, e promover o entendimento mútuo e a amizade entre os povos por meio da nova rodada de cooperação internacional", afirmou Mao.
Antes, a Associação de Conservação da Vida Selvagem da China tinha anunciado, nas mídias sociais, que assinou acordos de cooperação com esses zoológicos internacionais.
Diplomacia do panda
Os temores sobre o futuro da chamada diplomacia do panda aumentaram no ano passado, quando os zoológicos de Memphis, Tennessee e Washington devolveram seus pandas à China, deixando apenas quatro animais nos Estados Unidos, todos no zoológico de Atlanta, na Geórgia.
O contrato de empréstimo para esses quatro pandas expira no final deste ano, podendo fazer com que não haja mais nenhum panda-gigante nos EUA pela primeira vez desde 1972, quando o governo chinês deu dois pandas-gigantes como presentes aos Estados Unidos após a histórica visita do presidente Richard Nixon à China.
Muitos contratos de empréstimo tinham duração de 10 anos e, muitas vezes, eram prorrogados para bem mais tarde. Mas as negociações no ano passado para estender os acordos com os zoológicos dos EUA não produziram resultados.
Observadores da China especularam que Pequim estava gradualmente retirando seus pandas das nações ocidentais devido à deterioração das relações diplomáticas com os EUA e outros países.
Além disso, a demanda pelo retorno dos pandas-gigantes, conhecidos como o "tesouro nacional" da China, cresceu entre os chineses após alegações não comprovadas de que os zoológicos dos EUA maltrariam os pandas terem inundado as mídias sociais chinesas.
Mas, em novembro, o presidente chinês, Xi Jinping, alimentou esperanças de que seu país começaria novamente a enviar pandas para os EUA depois que ele e o presidente norte-americano, Joe Biden, se reuniram no norte da Califórnia para o primeiro encontro pessoal de ambos no período de um ano.
Sinal de amizade e método de preservação
Décadas de esforços de conservação na natureza e estudos em cativeiro salvaram a espécie panda-gigante da extinção, aumentando sua população de menos de mil em um determinado momento para mais de 1.800 na natureza e em cativeiro.
Desde que Pequim presenteou um par de pandas ao zoológico de Washington, em 1972, os ursos pretos e brancos se tornaram um símbolo da amizade entre os EUA e a China.
Posteriormente, a China emprestou pandas a zoológicos para ajudar a criar filhotes e aumentar a população.
Os EUA, a Espanha e a Áustria foram os primeiros países a trabalhar com a China na conservação do panda, e 28 pandas nasceram nesses países, informou a agência de notícias oficial chinesa Xinhua.
A mais recente colaboração incluirá pesquisas sobre prevenção de doenças e proteção do habitat e contribuirá para a construção de um parque nacional de pandas da China, segundo a agência.