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Rebeldes tomam 2ª maior cidade síria, e guerra civil tem novo capítulo 13 anos depois

Combatentes antigovernamentais tomam posse de equipamentos militares e veículos do exército sírio que foram abandonados na rodovia para Damasco Imagem: OMAR HAJ KADOUR/AFP

03/12/2024 09h15

A tomada de Aleppo por insurgentes liderados pelo grupo Organização pela Libertação do Levante inicia novo capítulo na duradoura guerra civil da Síria. A mais recente ofensiva das forças de oposição contra o Exército do presidente Bashar al-Assad no nordeste da Síria encerrou quatro anos de um conflito relativamente estático na guerra civil síria.

Na quarta-feira passada, uma aliança de grupos rebeldes liderados pelo grupo islamista Organização pela Libertação do Levante (Hayat Tahrir al-Sham ou HTS) lançou uma ofensiva surpresa relâmpago contra as forças do governo no norte do país. No sábado, os insurgentes liderados pelo HTS conseguiram tomar Aleppo, a segunda maior cidade da Síria, bem como vários vilarejos vizinhos. Observadores avaliam que o próximo alvo deles seria a cidade de Hama, capital da província vizinha homônima.

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A analista Nanar Hawach, da organização independente International Crisis Group, disse à DW que, "no domingo, reforços pesados do governo chegaram a Hama e começaram a empurrar o HTS para o norte, recapturando algumas cidades e vilarejos". Hawach avalia que uma grande contraofensiva governista é iminente, o que daria início a uma próxima fase da guerra civil.

Quando começou a guerra civil na Síria?

Quando a população síria começou a pressionar por mais democracia, em 2011, como parte da Primavera Árabe, o regime de Assad conseguiu conter os protestos, com uso da força.

O resultado foi uma revolta armada que logo virou uma guerra civil com diversos grupos insurgentes, alguns deles apoiados por potências internacionais, e também organizações jihadistas, como o Estado Islâmico. Inicialmente os insurgentes foram bem-sucedidos na sua batalha contra as forças governamentais.

No entanto, a partir de 2015, com o apoio sobretudo da Rússia, mas também do Irã, o regime de Assad gradualmente conseguiu reverter a situação, reconquistando cerca de 70% do território.

Apesar de os fronts terem permanecidos relativamente estáticos nos últimos quatro anos, a guerra civil não terminou.

As tropas do governo sírio controlam grande parte do país, graças ao apoio de forças aliadas enviadas pela Rússia e pelo Irã, incluindo a maioria dos principais centros populacionais, como Damasco.

A captura de Aleppo pelo governo sírio no final de 2016 foi um ponto de virada no conflito, e a perda da cidade nos últimos dias é um grande revés.

Quem está lutando contra Assad?

29.nov.2024 - Combatentes incendeiam uma foto do presidente sírio Bashar al-Assad em frente a um prédio tomado Imagem: AAREF WATAD / AF

A principal força por trás da atual ofensiva é o grupo islamista Organização pela Libertação do Levante (Hayat Tahrir al-Sham, ou HTS). O grupo jihadista foi classificado como organização terrorista pelos EUA em 2018, tendo sido anteriormente afiliado à Al Qaeda, que também é considerada uma organização terrorista pelos EUA.

Nos últimos anos, o seu líder, Abu Mohammed al-Golani, tem procurado refazer a imagem do grupo, cortando os laços com a Al Qaeda, afastando-se dos linhas-duras e prometendo abraçar o pluralismo e a tolerância religiosa.

O HTS controla a região de Idlib, no noroeste da Síria, onde estão cerca de 4 milhões de sírios deslocados internamente, de acordo com as Nações Unidas. Aparentemente, porém, grupos insurgentes não estão tentando recuperar apenas o controle das áreas detidas pelas forças de Assad, mas também da região dominada pelos curdos.

Uma coligação apoiada pela Turquia, conhecida como Exército Nacional Sírio (SNA, na sigla em inglês), atacou áreas como a cidade de Tel Rifaat, no norte do país, controlada pelas Forças Democráticas Sírias (FDS), lideradas pelos curdos e apoiadas pelos EUA.

A Turquia, que faz fronteira com o norte da Síria e que, em grande medida, se mantém na oposição a Assad, tem atacado regularmente a região autônoma curda e afirma que as FDS têm ligação com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que a Turquia e seus aliados consideram um grupo terrorista.

As Forças Democráticas da Síria controlam grande parte do leste da Síria e têm lutado contra o grupo Estado Islâmico. As FDS também controlam vários bairros de Aleppo, agora cercados por insurgentes.

Os insurgentes estariam dispostos a permitir que esses combatentes curdos atravessem para o nordeste da Síria, mas não está claro se os curdos farão isso.

Quem está do lado de Assad?

Combatente jihadista ocupa posição na periferia de Atarib, em Aleppo, no norte da Síria Imagem: Abdulaziz Ketaz / AFP

As força de Assad são apoiadas pelo Irã e pela Rússia, que é o mais importante aliado militar de Assad, tendo ajudado a virar o jogo quando interveio na guerra civil, em 2015.

As Forças Armadas da Rússia apoiam Assad na costa do Mediterrâneo, onde mantém sua única base naval fora do território da antiga União Soviética, e na base aérea de Hemeimeem, na província de Latakia, que abriga centenas de tropas russas.

Para a Rússia, o apoio a Assad é vantajoso mesmo diante do esforço de guerra empreendido no conflito contra a Ucrânia. A aliança com a Síria fortalece a influência estratégica da Rússia na região e oferece oportunidades de treinamento para os militares e mercenários russos antes de sua mobilização na Ucrânia.

O Kremlin reforçou recentemente que "obviamente" continuará a apoiar Assad, acrescentando que a Rússia elaboraria uma "posição sobre o que é necessário para estabilizar a situação".

É provável que o apoio a Assad também tenha facilitado a aproximação com o Irã, um aliado de Assad que se tornou um importante aliado também da Rússia.

Os conselheiros militares e os combatentes enviados pelo Irã desempenharam um papel fundamental no fortalecimento das forças de Assad durante a guerra.

O regime de Assad também é um importante integrante do chamado Eixo da Resistência, um conjunto de países e milícias, como o Hezbollah e os rebeldes houthis, que veem os Estados Unidos e Israel como seus principais inimigos.

Assim como o presidente russo, Vladimir Putin, o presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, também garantiu a Assad que fornecerá todo o apoio necessário para acabar com a mais recente revolta.

O grupo de oposição Observatório Sírio dos Direitos Humanos, baseado em Londres, divulgou que cerca de 200 combatentes iraquianos sob comando iraniano entraram na Síria em caminhonetes para apoiar uma contraofensiva do governo perto de Aleppo.

Por que os combates recomeçaram?

Analistas sugerem que o momento da ofensiva relâmpago dos insurgentes está relacionado com o enfraquecimento do Hezbollah, que foi importante para que Assad virasse o jogo contra os rebeldes no início da guerra fria.

O Hezbollah - classificado de organização terrorista por vários países, incluindo os EUA e a Alemanha - é financiado, equipado e treinado pelo Irã.

O Irã também está enfraquecido, pois ataques israelenses eliminaram comandantes militares iranianos na Síria, e Israel também cortou rotas de abastecimento entre o Líbano e a Síria.

"Não é coincidência que insurgentes jihadistas pró-turcos na Síria tenham iniciado a ofensiva logo após a implementação do cessar-fogo entre Israel e o Hezbollah", diz o especialista em Oriente Médio e consultor da ONU Lorenzo Trombetta.

O Hezbollah foi consideravelmente enfraquecido por um ano de combates com Israel na fronteira libanesa, e "essa ofensiva pró-turca resulta num enfraquecimento da frente iraniana e pró-iraniana em todo o Oriente Médio", diz Trombetta.

Já a Rússia continua irredutível no seu apoio a Assad, mas é inegável que grande parte de sua atenção e recursos tem se concentrado em sua guerra na Ucrânia.

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