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Disputa sonora entre as mesquitas da Indonésia irrita a população

13/08/2012 10h08

Paula Regueira Leal.

Jacarta, 13 ago (EFE).- O mês de jejum do Ramadã provocou na Indonésia uma corrida entre as milhares de mesquitas que chamam os fieis para rezar através de alto-falantes, deixando os vizinhos irritados com a competição acústica.

Cada templo quer que suas preces sejam ouvidas mais alto e forte do que os outros, todos usando megafones. Isso acontece cinco vezes por dia, do amanhecer e até a chegada da noite.

Em lugares como Jacarta, a capital indonésia, apenas um quilômetro quadrado pode abrigar mais de dez mesquitas e a alta sinfonia simultânea incomoda inclusive aos fiéis muçulmanos.

Amidhan, dirigente do Conselho de Ulemás da Indonésia, o órgão islâmico mais influente do país, reconheceu em declarações à imprensa local, que "uma das queixas mais frequentes é que quando há duas ou três mesquitas no mesmo bairro, elas acabam se envolvendo em uma guerra de alto-falantes, tentando soar acima do resto".

Até o governo tomou conhecimento do problema e o vice-presidente, Boediono, garantiu que "apesar de o 'adhan' ser a chamada sagrada à reza para os muçulmanos, os sons do aviso que soam vagamente à distância têm mais eco no coração do que aqueles que são altos demais e próximos aos ouvidos".

As palavras do vice-presidente causaram surpresa neste país, onde mais de 85% de seus 240 milhões de habitantes são muçulmanos, apesar de sua constituição não especificar oficialmente nenhuma religião.

A Indonésia é o país do mundo com maior número de seguidores do Islã e em seu território estão registradas mais de 800 mil mesquitas, aproximadamente uma para cada 250 fiéis.

Desde que em 1978 foi aprovada a utilização de alto-falantes por parte das mesquitas, a maioria dos templos usa esse recurso para chamar para a oração, sermões e recitar o Corão.

Durante o mês sagrado do Ramadã - que este ano começou em 21 de julho e termina em 19 de agosto - os muçulmanos não podem comer, beber nem manter relações sexuais do amanhecer até o anoitecer; as mesquitas ficam mais movimentadas e as chamadas para as orações aumentam em duração e em volume, tanto de dia como de noite, e inclusive chegam a transmitir sermões completos.

"Qualquer morador, seja de qualquer religião, diz que com o som tão alto das mesquitas durante a madrugada é impossível pegar o sono. Minha filha, por exemplo, acordava toda noite. No final, minha família decidiu antecipar as férias e sair de Jacarta para evitar o Ramadã na medida do possível", diz à Agência Efe Helen Delima, uma indonésia de religião cristã.

A primeira oração do dia no Ramadã coincide com o 'sahur', o café da manhã antes do amanhecer, por volta das 4h30 em Jacarta, mas os clérigos se apressam em chamar os fiéis com mais de uma hora de antecedência.

"Minha casa está entre várias mesquitas e me acordam toda madrugada, por isso acabei recorrendo a protetores de ouvidos para conseguir descansar", reclama Angie Mee, uma jovem universitária muçulmana de Jacarta.

Os próprios líderes religiosos muçulmanos também reconhecem que esta ruidosa competição entre as mesquitas pode causar uma má impressão entre os fiéis.

"Estamos preocupados pela possível percepção negativa das mesquitas. A não ser que se trate de uma fala muito suave, nenhum alto-falante é necessário, especialmente à noite", defende Salim Alatas, chefe em Jacarta do grupo radical Frente de Defensores do Islã, uma associação que luta pela implantação da lei corânica no país.

O assunto levou o Conselho Indonésio de Mesquitas a propor um plano para suavizar os problemas e tentar que os avisos e as preces sejam "mais pacíficos" para os ouvidos. No entanto, a maioria da população não acredita em uma solução que contente a todos.

"O problema se agrava a cada ano. A sociedade indonésia é cada vez mais intolerante e não respeita o direito do vizinho. Daqui a 11 meses, os alto-falantes serão ouvidos ainda mais altos", lamentou Helen.