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Editoras iniciam corrida para transformar papa Francisco em "bestseller"

Mar Marín

Em Buenos Aires

19/03/2013 08h09

Surpreendidas pela escolha do ex-arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio, como novo papa, as editoras argentinas iniciaram uma verdadeira corrida contra o tempo para relançar os poucos livros escritos sobre o novo pontífice e buscar novos ângulos que permitam transformar Francisco em um "bestseller".

Enquanto jornais do mundo todo gastaram rios de tinta para elaborar cadernos especiais, galerias de fotos e lembranças sobre o novo papa, as editoras passaram a brigar para lançar e relançar títulos sobre o novo pontífice.

Os poucos exemplares dos dois livros sobre Bergoglio editados no país - "O Jesuíta", dos jornalistas Sergio Rubin e Francesa Ambroguetti, e "Sobre o Céu e a Terra", uma transcrição de conversas entre Bergoglio e o rabino Abraham Skorka -, se esgotaram poucas horas depois do anúncio de sua nomeação.

"Ninguém os comprava, esses livros estavam esquecidos e, de repente, se transformaram nos mais procurados. As editoras estão preparando novas edições para lançá-las na próxima semana", explicou à Agência Efe Sebastián Bottarini, um gerente da rede de livrarias Cúspide.

Em sua livraria, o único exemplar de "Sobre o Céu e a Terra" disponível foi colocado junto à prateleira do caixa para "encorajar" os interessados no tema.

"A demanda aumentou muito e, como não há livros sobre Bergoglio, as pessoas estão comprando muitos títulos relacionados à Santa Sé", relatou Bottarini.

Esse fenômeno da "papamania", paradoxalmente, beneficiou um dos principais críticos do papa Francisco na Argentina, o jornalista Horacio Verbitsky, autor de "O Silêncio", uma investigação sobre o papel da Igreja durante a última ditadura militar (1976-1983).

"Desde a confirmação de Jorge Bergoglio como novo papa, a venda do livro de Verbitsky aumentou muito", disse Bottarini, que ressaltou que também houve um aumento nas vendas dos livros sobre Bento XVI, antecessor de Francisco.

"Vão chegar mais exemplares nos próximos dias porque as editoras sabem que este é um fenômeno passageiro e, por isso, estão correndo contra o tempo", concluiu.

A poucos metros da loja de Bottarini, na livraria El Ateneo, um punhado de exemplares de "Sobre o Céu e a Terra" passa totalmente despercebido em uma prateleira do fundo do local junto a livros de auto-ajuda, relatos de mitologias e, inclusive, o bestseller de Jane Fonda "Prime Time", que traz conselhos para lidar com o passar dos anos.

"As pessoas vieram até aqui perguntando sobre os livros de Bergoglio, mas essa procura não é em massa. Entre as personalidades conhecidas, o presidente venezuelano Hugo Chávez foi o que mais vendeu nestes dias", afirmou um dos vendedores da livraria.

Na falta de livros impressos sobre a vida de Jorge Bergoglio, os fiéis passaram a se interessar por tudo que estava relacionado com aquele que foi arcebispo de Buenos Aires, segundo o portal "bajalibros.com", que vendeu centenas de exemplares de "Ponerse la patria al hombro" e "O verdadeiro poder é o serviço", com homilias e escritos do próprio Bergoglio, e de "O Jesuíta".

"Realmente foi uma surpresa. Nunca pensamos que isso poderia ocorrer", explicou à Agência Efe Francesca Ambroguetti, co-autora do livro.

Segundo a jornalista, a ideia de escrever o livro surgiu quando conheceu o então arcebispo de Buenos Aires, em 2002, após um encontro que teve com correspondentes estrangeiros na capital argentina, embora o trabalho tenha chegado às livrarias somente em 2010.

O livro é resultado da leitura de documentos, de homilias e pesquisas sobre o papa, além das entrevistas realizadas em reuniões mensais com Bergoglio entre 2007 e 2010.

Em relação ao seu convívio com o hoje papa Francisco, a jornalista menciona "sua grande espiritualidade, sua fé inabalável, sua cultura e seus gostos populares por tango, cinema e futebol".

"É uma pessoa extraordinariamente sensível e humana, com senso de humor e atenta às necessidades dos outros, mas também firme perante os princípios que considera fundamentais, e muito tímido", completou Francesca, que ressaltou que o papa não queria ser fotografado para a capa do livro: "Usem uma foto de arquivo, não gosto de tirar fotos", teria dito o papa na ocasião.