Nhá Chica era "sábia e conselheira", diz arcebispo de Belo Horizonte
Francisca de Paula de Jesus, ou "Nhá Chica", como é carinhosamente conhecida por seus devotos e que será beatificada neste sábado (4) em Baependi (MG), era "uma admirável sábia e conselheira", disse nesta sexta-feira (3) à Agência Efe o arcebispo de Belo Horizonte, Walmor Oliveira de Azevedo.
"A beatificação de Nhá Chica, filha de escravos, uma mulher negra e pobre, é uma rica lição e mostra que a verdadeira conquista não é alcançada apenas a partir do conhecimento técnico, posse ou títulos", declarou o arcebispo metropolitano da capital mineira.
"A força da fé, cultivada no coração de Nhá Chica, moldada por sua singular devoção a Nossa Senhora da Concepção, fez dela uma admirável sábia e conselheira", destacou.
Nhá Chica se tornará amanhã a primeira beata negra, pobre, analfabeta e leiga (não pertencente a uma ordem religiosa) do país, em cerimônia que pode atrair cerca de 60 mil católicos à pequena Baependi, onde ela é venerada.
Para dom Walmor, a beatificação "se fundamenta em uma estatura (espiritual) admirável e medidas pouco comuns que só cabem no coração dos santos".
"No centro deve sempre estar a fé, que ultrapassa a lógica da razão e possui luminosidade que vai além da inteligência, por isso essa característica perpetua sua memória e comprova sua intimidade com Deus, garantindo-lhe o lugar de intercessora", ressaltou.
A missa de beatificação será liderada pelo prefeito regional da Congregação das Causas dos Santos do Vaticano, cardeal Angelo Amato, representando o papa Francisco, disseram hoje à Efe fontes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
O processo para reconhecer os milagres que são atribuídos a Nhá Chica começou em 1989, quando o papa João Paulo II a declarou "Serva de Deus", quase 100 anos após sua morte. Sua beatificação foi determinada em junho do ano passado pelo agora papa emérito Bento XVI.
A futura beata nasceu em 1808 na cidade de São João del-Rei, também em Minas Gerais, de uma família de escravos, e ficou órfã aos 10 anos, dedicando-se à caridade até sua morte, em 14 de junho de 1885.
Apesar de ter herdado a fortuna de um irmão, Nhá Chica nunca se casou e renunciou às riquezas, distribuindo os bens entre os pobres e destinando parte delas à construção de uma capela dedicada à Imaculada Conceição, onde hoje fica seu santuário.
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