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Argentina lembra 21 anos do pior atentado terrorista sofrido no país

Mulher segura cartazes com retratos de vítimas do bombardeio terrorista contra a Amia - Alejandro Pagni/AFP
Mulher segura cartazes com retratos de vítimas do bombardeio terrorista contra a Amia Imagem: Alejandro Pagni/AFP

Em Buenos Aires

16/07/2015 18h54

A Argentina lembrará nesta sexta-feira (17) o 21º aniversário do pior atentado terrorista de sua história, que teve como alvo a associação judaica Amia, às vésperas de um novo julgamento por irregularidades na investigação do crime, que continua impune.

O evento principal que lembrará os 85 mortos no atentado, começará às 9h53 (horário local e em Brasília), a hora exata do atentando ocorrido em 18 de julho de 1994 na sede da Associação Consorciada Argentina (Amia) em Buenos Aires.

Como a data exata cai no shabat, dia de descanso judeu, todos os eventos foram antecipados em um dia.

Sob o lema "Vítimas do terrorismo. Vítimas da impunidade", familiares e amigos das vítimas, junto com líderes da comunidade judaica, renovarão seu pedido de verdade e justiça.

Além deste ato organizado pela Amia, foram convocados outros dois --promovidos por diferentes grupos de sobreviventes e de amigos e familiares das vítimas, que acontecerão na frente do tribunal e diante da Casa Rosada, sede do governo argentino.

Os vários eventos obedecem as divisões dentro da coletividade judaica e entre os familiares das vítimas em relação as estratégias para chegar ao esclarecimento do atentado.

Um dos principais pontos de divergência é o memorando de entendimento que a Argentina assinou em 2013 com o Irã para tentar esclarecer o ataque, cujo planejamento e execução é atribuído ao grupo terrorista Hezbollah.

O acordo previa a criação de uma comissão de especialistas para a revisão da ação judicial pelo atentado à Amia e a ida do juiz argentino responsável pelo caso a Teerã para interrogar os suspeitos. Esta lista é composta pelo ex-ministro de Defesa, Ahmad Vahidi; o ex-ministro de Informação, Ali Fallahijan; o ex-assessor governamental Mohsen Rezaei; o ex-funcion+ario da embaixada do Irã em Buenos Aires, Moshen Rabbani e o ex'diplomata Ahmad Reza Ashgari.

A Justiça também pediu a prisão do ex-vice-ministro de Relações Exteriores para Assuntos Africanos do Irã, Hadi Soleimanpour; do ex-presidente iraniano, Ali Akbar Rafsanjani; e do ex-ministro de Relações Exteriores, Ali Akbar Velayati.

Rubricado em janeiro de 2013, o memorando foi declarado inconstitucional por um tribunal argentino, uma decisão da qual o governo apelou.

O acordo provocou um forte distanciamento entre o governo de Cristina Kirchner e a maioria da comunidade judaica.

O promotor especial a cargo da investigação do atentado, Alberto Nisman, considerava que o pacto com o Irã era um instrumento para encobrir os iranianos suspeitos de planejar o ataque e denunciou a presidente à Justiça em janeiro.

Quatro dias após sua apresentação judicial, Nisman foi encontrado morto com um tiro na cabeça em sua residência em Buenos Aires, em circunstâncias que não foram esclarecidas mesmo após seis meses de investigação.

Há dez anos, policiais acusados de serem parte da "conexão local" foram absolvidos em um julgamento.

A investigação do caso foi repleta de irregularidades. O juiz a cargo da instrução terminou sendo destituído, e outro processo foi aberto por causa da suposta tentativa de acobertamento da conexão local, razão pela qual o ex-presidente argentino Carlos Menem (1989-1999) será submetido a um julgamento a partir de agosto.

Todos os acusados foram proibidos de sair do país. Além de Menem, que tem privilégio como senador, vão se sentar no banco dos réus o ex-juiz Juan José Galeano; os ex-promotores Eamon Mullen e José Barbaccia; o ex-diretor dos serviços de inteligência Hugo Anzorreguy e o ex-titular da Delegação de Associações Israelitas Argentinas (Daia) Rubén Beraja, entre outros.

O atentado contra a Amia foi o segundo ataque terrorista contra judeus na Argentina. Em 1992, 29 pessoas morreram devido à explosão de uma bomba em frente à embaixada de Israel em Buenos Aires, atentado também atribuído ao Hezbollah.