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Refugiados e policiais entram em confronto na divisa entre Grécia e Macedônia

Ingrid Haack

Em Atenas

29/02/2016 11h46

O caos existente na fronteira entre Grécia e Macedônia, com mais de 8 mil migrantes e refugiados retidos, ganhou uma aparência dramática nesta segunda-feira quando uma multidão tentou derrubar o portão que separa os países e a polícia da Macedônia respondeu com bombas de gás lacrimogêneo.

A tensão começou depois que as autoridades da Macedônia voltaram a fechar nesta manhã a fronteira depois de o portão ter ficado aberto por sete horas na última noite. Nesse período, no entanto, apenas 300 sírios e iraquianos puderam passar, as únicas nacionalidades com permissão para entrar no país.

Depois de ocupar os trilhos do trem em uma nova tentativa de forçar a reabertura da cerca, um grupo se lançou contra a cerca de arame e começou a arremessar pedras contra as patrulhas de fronteira macedônias, que dispersaram contra a multidão, incluindo crianças. Foram usadas bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral.

Através do Twitter, a organização Médicos sem Fronteiras (MSF) informou que atendeu 15 pessoas com problemas respiratórios, sendo nove crianças. Além disso, sete indivíduos sofreram ferimentos, três deles menores de idade.

No meio da manhã, a fronteira voltou a se abrir, mas a passagem de sírios e iraquianos era mínima, não apenas porque só é permitido o cruzamento de pessoas documentadas, mas também porque o governo se coordena com o da Sérvia para desacelerar o fluxo rumo ao norte da Europa.

A falta de espaço no campo de Idomeni, que é pensado para receber 1.500 pessoas, obrigou muitos a dormir ao relento, o que desencadeou brigas entre os próprios refugiados, que disputavam um espaço para se abrigar do frio noturno.

Enquanto isso, dois acampamentos provisórios foram habilitados nas proximidades de Idomen, em aeroportos militares, para aonde já foram transferidas mil pessoas. Esses são dois dos quatro novos centros de recepção de emergência anunciados neste fim de semana pelo ministro de Migração, Yannis Mouzalas.

De acordo com a porta-voz do escritório da Agência da ONU para os Refugiados na Grécia, Stella Nanu, a Acnur instalou tendas de campanha nesses locais.

Os outros dois centros previstos para o norte da Grécia serão abertos ao longo da próxima semana, informou um porta-voz do Ministério de Migração, que não quis ser identificado, em declarações à Efe.

A situação nos demais acampamentos do país continua igualmente de dramática, pois a chegada de refugiados não cessou nos últimos dias, embora o governo tenha desenvolvido um plano para reduzir o número de pessoas que podem entrar nas embarcações. Isso não impediu que, aproximadamente, 5 mil pessoas se amontoem no Porto de Pireu, distribuídas em quatro salas de espera e centros provisórios de amparo.

"As condições de higiene são precárias e a angústia de ver se haverá comida para todos é permanente", relatou à Efe Cristina Papayeoryiu, da MSF na Grécia, ressaltando que são muitos os médicos e cidadãos que estão se oferecendo como voluntários para ajudar e separar a comida.

O tumulto no porto se deve ao fato de que os três acampamentos que Atenas dispõe estão saturados. A mesma situação acontece na cêntrica Praça de Victoria, que nos últimos meses se transformou em um acampamento improvisado para os migrantes que não conseguiram continuar a viagem.

Lá, os que ainda têm algum tipo de recurso financeiro esperam às "ofertas" dos traficantes, cujos preços subiram ainda mais após o fechamento de fronteiras. Agora, só para cruzar da Grécia à Macedônia é preciso desembolsar 4 mil euros (mais de R$ 17 mil).

Nas ilhas, a situação é "gerenciável" - segundo o porta-voz do Ministério de Migração - e inclusive melhor que no resto da Grécia e, embora os acampamentos estejam praticamente lotados, não há pessoas ao relento.

Para poder financiar o aumento de capacidades de pessoal, material e infraestruturas que se requer, o governo grego apresentou à União Europeia um plano de contingência e solicitou 468 milhões de euros (R$ 2.015.509.558) de ajuda extra.

"É um programa muito concreto com despesas muito concretas", indicou a fonte ministerial, que ressaltou que, até que se obtenham estes meios financeiros, a Grécia recorrerá a programas europeus existentes e "não retirará qualquer euro do orçamento geral".