Desabastecimento agrava casos de desnutrição infantil na Venezuela
Bárbara Agelvis.
Caracas, 29 jul (EFE).- O desabastecimento na Venezuela provocou um aumento da desnutrição infantil, problema que sempre foi enfrentado pelo país, mas que agora se agravou pela falta de fórmulas lácteas e alimentos com proteínas.
O alerta foi dado pela representante da Sociedade Médica de Puericultura e Pediatria da Venezuela, Livia Machado, que adverte que o desabastecimento está presente tanto nos hospitais como nos colégios.
Os filhos de Rosibel Martínez são um reflexo desta realidade. Rosibel tem 37 anos, é mãe solteira, vende empanadas e bolos e tem cinco filhos. Um deles é um bebê de sete meses que sofre de desnutrição e outra é uma adolescente de 14 anos.
Dilan, que nasceu na 37ª semana de gravidez com 2,5 quilos, foi amamentado até os quatro meses porque a mãe teve que trabalhar para continuar a sustentar a família.
Durante esse período, o bebê também foi alimentado com fórmula quando tinham "a sorte de consegui-la", mas há três meses não é possível obter o alimento.
"A última vez que comprei (a fórmula) custou cinco mil bolívares (R$ 1,6 mil) o pote pequeno. Isso dura uma semana, o que faço é misturar o leite com maizena para que renda", explicou a mãe.
Diante desta situação, Rosibel começou a alimentar o filho com mamadeiras de maizena, chicha (bebida fermentada a base de milho), sopas de abóbora e aipo que, às vezes, não incluem proteínas pelo alto custo da carne e do frango, o que levou a criança a perder 2,8 quilos no último mês.
Na sexta-feira da semana passada, Dilan foi internado no Hospital Domingo Luciani, ao leste de Caracas, com diarreia e desidratação. Os médicos constataram que o bebê só tinha cinco quilos, depois de ter pesado 7,8 quilos no mês anterior.
"Essa situação se deve à ausência de proteínas", advertiu um dos médicos, que não quis revelar o nome por temer represálias das autoridades.
De acordo com os nutricionistas, a idade crucial do ser humano está nos dois primeiros anos de vida. Essa etapa, cuja nutrição tem grande influência, determina o desenvolvimento físico e intelectual da pessoa.
"A falta de proteínas faz com que diminua a albumina e que as crianças tenham edemas, característica de uma das desnutrições mais severas", explicou Livia Machado.
A médica detalhou que a desnutrição ocorre quando o organismo não recebe nenhum "alimento nutritivo como a proteína porque não produz enzimas, anticorpos, e isso faz com que as crianças fiquem expostas a germes da comunidade".
"O leite é um alimento insubstituível na alimentação da criança menor de dois anos", comentou Livia.
A escassez de fórmulas lácteas para bebês também afeta os hospitais. No caso do centro pediátrico de referência na Venezuela, o J.M. de los Ríos, em Caracas, a situação foi resolvida graças às doações vindas de Estados Unidos e Espanha, segundo a chefe do Serviço de Nutrição, Ingrid Soto. Mas em outras instituições médicas não há fórmulas nem doações.
Este problema levou algumas mães a alimentarem os filhos com "água com farinha, água de espaguete, o que elas puderem adquirir, seja arroz ou milho", disse a médica.
O desabastecimento também chega a muitos colégios públicos, que deixaram de oferecer comida aos estudantes. A irmã de Dilan, com 14 anos e estudante do ensino médio, relatou que precisou faltar às aulas por não ter nada para comer e que inclusive desmaiou durante a educação física porque não havia tomado café da manhã.
"Ligaram do colégio para me perguntar por que as crianças estavam faltando tanto às aulas e eu disse: 'professora, não tenho alimentos, como faço para mandar meus filhos (à escola) se não tenho comida?", relatou sua mãe, ao confessar que "nunca tinha vivido uma situação como esta".
Caracas, 29 jul (EFE).- O desabastecimento na Venezuela provocou um aumento da desnutrição infantil, problema que sempre foi enfrentado pelo país, mas que agora se agravou pela falta de fórmulas lácteas e alimentos com proteínas.
O alerta foi dado pela representante da Sociedade Médica de Puericultura e Pediatria da Venezuela, Livia Machado, que adverte que o desabastecimento está presente tanto nos hospitais como nos colégios.
Os filhos de Rosibel Martínez são um reflexo desta realidade. Rosibel tem 37 anos, é mãe solteira, vende empanadas e bolos e tem cinco filhos. Um deles é um bebê de sete meses que sofre de desnutrição e outra é uma adolescente de 14 anos.
Dilan, que nasceu na 37ª semana de gravidez com 2,5 quilos, foi amamentado até os quatro meses porque a mãe teve que trabalhar para continuar a sustentar a família.
Durante esse período, o bebê também foi alimentado com fórmula quando tinham "a sorte de consegui-la", mas há três meses não é possível obter o alimento.
"A última vez que comprei (a fórmula) custou cinco mil bolívares (R$ 1,6 mil) o pote pequeno. Isso dura uma semana, o que faço é misturar o leite com maizena para que renda", explicou a mãe.
Diante desta situação, Rosibel começou a alimentar o filho com mamadeiras de maizena, chicha (bebida fermentada a base de milho), sopas de abóbora e aipo que, às vezes, não incluem proteínas pelo alto custo da carne e do frango, o que levou a criança a perder 2,8 quilos no último mês.
Na sexta-feira da semana passada, Dilan foi internado no Hospital Domingo Luciani, ao leste de Caracas, com diarreia e desidratação. Os médicos constataram que o bebê só tinha cinco quilos, depois de ter pesado 7,8 quilos no mês anterior.
"Essa situação se deve à ausência de proteínas", advertiu um dos médicos, que não quis revelar o nome por temer represálias das autoridades.
De acordo com os nutricionistas, a idade crucial do ser humano está nos dois primeiros anos de vida. Essa etapa, cuja nutrição tem grande influência, determina o desenvolvimento físico e intelectual da pessoa.
"A falta de proteínas faz com que diminua a albumina e que as crianças tenham edemas, característica de uma das desnutrições mais severas", explicou Livia Machado.
A médica detalhou que a desnutrição ocorre quando o organismo não recebe nenhum "alimento nutritivo como a proteína porque não produz enzimas, anticorpos, e isso faz com que as crianças fiquem expostas a germes da comunidade".
"O leite é um alimento insubstituível na alimentação da criança menor de dois anos", comentou Livia.
A escassez de fórmulas lácteas para bebês também afeta os hospitais. No caso do centro pediátrico de referência na Venezuela, o J.M. de los Ríos, em Caracas, a situação foi resolvida graças às doações vindas de Estados Unidos e Espanha, segundo a chefe do Serviço de Nutrição, Ingrid Soto. Mas em outras instituições médicas não há fórmulas nem doações.
Este problema levou algumas mães a alimentarem os filhos com "água com farinha, água de espaguete, o que elas puderem adquirir, seja arroz ou milho", disse a médica.
O desabastecimento também chega a muitos colégios públicos, que deixaram de oferecer comida aos estudantes. A irmã de Dilan, com 14 anos e estudante do ensino médio, relatou que precisou faltar às aulas por não ter nada para comer e que inclusive desmaiou durante a educação física porque não havia tomado café da manhã.
"Ligaram do colégio para me perguntar por que as crianças estavam faltando tanto às aulas e eu disse: 'professora, não tenho alimentos, como faço para mandar meus filhos (à escola) se não tenho comida?", relatou sua mãe, ao confessar que "nunca tinha vivido uma situação como esta".