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Descoberta de ossos na Nunciatura em Roma revive casos de desaparecimentos

31/10/2018 12h40

Cristina Cabrejas.

Roma, 31 out (EFE).- Após a descoberta de "fragmentos de ossos humanos" sob o solo de um porão da Nunciatura (embaixada) da Santa Sé em Roma, surgiu a hipótese de que os mesmos podem ser os restos mortais de Emanuela Orlandi, a jovem filha de um funcionário do Vaticano cujo desaparecimento ocorrido há 35 anos ainda é um dos maiores mistérios da Itália.

O Ministério Público de Roma abriu uma investigação sobre o crime de homicídio e ordenou uma análise dos restos encontrados por alguns operários na tarde de segunda-feira enquanto eles trabalhavam em obras na Nunciatura, segundo explicou o Vaticano em comunicado.

"O procurador-geral de Roma, Giuseppe Pignatone, pediu à polícia científica e à polícia de Roma que determinem a idade, o sexo e a data de morte", de acordo com uma nota oficial.

Apesar de as autoridades não terem dado mais detalhes sobre a ocorrência, os meios de comunicação italianos imediatamente ventilaram a possibilidade de os restos pertencerem a Emanuela, a menina de 15 anos que desapareceu em 22 de junho de 1983 quando se dirigia à escola de música de Santo Apolinário, no centro de Roma, e cujo paradeiro é desconhecido desde então.

"Será importante estabelecer o sexo, a idade e o período no qual foram enterrados esses restos antes de se chegar a qualquer conclusão", explicou à Agência Efe o porta-voz do Vaticano, Greg Burke.

Diante dessas notícias, também houve reação da família de Emanuela Orlandi, que através de sua advogada, Laura Sgro, revelou que solicitaria informações ao Ministério Público e à Santa Sé sobre como os ossos foram encontrados e porque poderiam estar relacionados com o caso.

Alguns veículos de imprensa publicaram hoje a hipótese de que os restos mortais poderiam pertencer a duas pessoas, já que foram encontrados em dois lugares diferentes.

Isso também levou a imprensa a sugerir que os ossos poderiam pertencer a Mirella Gregori, outra jovem desaparecida naquele mesmo ano e da qual nunca houve notícias.

O caso de Emanuela tem muitos componentes de mistério, já que em torno de sua morte foram especulados todos os tipos de teorias, como a culpa de mafiosos, da Igreja e inclusive do turco Ali Agca, que em 1981 atentou contra o papa João Paulo II.

Na época, Ali Agca garantiu que o desaparecimento das adolescentes estava vinculado a uma exigência para que ele fosse libertado e assinalou que as duas estavam vivas, mas esta hipótese nunca foi comprovada, já que o terrorista mudou de versão em muitas ocasiões.

Esta não é a primeira vez em que são encontrados em Roma alguns ossos que trouxeram novamente à tona os fatos em torno do desaparecimento de Emanuela.

Por exemplo, em 2012 foram encontradas ossadas sem identificação ao lado do túmulo de Enrico De Pedis, chefe da "Banda della Magliana", a máfia de Roma durante os anos 1970 e 1980, na basílica de Santo Apolinário.

A pista de que alguém tinha encarregado à máfia romana o sequestro de Emanuela foi uma das hipóteses avaliadas durante a investigação, sobretudo depois que a namorada de De Pedis, Sabrina Minardi, disse ao Ministério Público de Roma que ficou encarregada de colocar a jovem em seu automóvel e levá-la até o local onde seu companheiro tinha indicado.

Minardi explicou que a menina foi sequestrada por indicação do arcebispo americano Paul Marcinkus, então diretor do Instituto para as Obras Religiosas (IOR, mais conhecido como o Banco do Vaticano) "para dar um aviso a alguém".

Após essas revelações, também foi investigado o ex-reitor da basílica de Santo Apolinário, Piero Vergari, que autorizou o sepultamento de De Pedis neste templo e que também trabalhou durante um período na Nunciatura do Vaticano em Roma, onde a ossada foi encontrada.