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Peru afirma que será "neutro" na relação com Uruguai sobre caso García

20/11/2018 23h29

Lima, 20 nov (EFE).- O governo do Peru manterá uma posição "neutra" e "o mais apegada à lei possível" em sua relação com o Uruguai a respeito do pedido de asilo diplomático do ex-presidente Alan García, e não considerará nenhuma reação diante de qualquer decisão de Montevidéu sobre o caso para não influenciar na mesma.

Essa posição foi confirmada nesta terça-feira à Agência Efe pelo vice-chanceler peruano, Hugo de Zela, ao explicar a nota diplomática que o Peru enviou ao presidente Tabaré Vázquez, na qual expõe sua posição sobre a vigência do Estado de Direito, independência judicial e democracia no país e que inclui também outros documentos "de conhecimento público" sobre as acusações que pesam sobre García.

Segundo explicou De Zela, esta informação foi repassada no marco do Convênio de Caracas de 1954 que regula o asilo diplomático entre os países da Organização dos Estados Americanos (OEA) e com ela o Peru se limita a cumprir estritamente com a legislação.

"O que está previsto na Convenção é dar ao governo ao que se pede asilo toda a informação disponível para que possam fazer uma análise com todos os elementos de julgamento. E aqui para o governo (do Peru) é fundamental a afirmação que não existe perseguição política", destacou o diplomata à Efe.

Nesse sentido, afirmou que a única coisa que seu país espera do Uruguai é que "considere" que no Peru há "democracia, Estado de Direito e separação de poderes, e que o Poder Judiciário, no exercício das suas funções, atua com plena autonomia, como diz a Constituição".

Além disto, De Zela sustentou que não há mais contatos com o Uruguai sobre este assunto e que também não há disposição para considerar respostas caso Montevidéu outorgue asilo a García.

"É um pouco difícil pensar nessa possibilidade. E começar a pensar nisso seria tentar influenciar em uma decisão que corresponde exclusivamente ao Uruguai. A nó corresponde exclusivamente dar-lhes o tempo que considerem necessário, sem expressões adicionais da nossa parte que não correspondem", salientou.

De Zela entregou a informação oficial peruana em uma reunião hoje com o embaixador do Uruguai em Lima, Carlos Barros, em cuja residência García se encontra desde sábado passado.

O presidente do Peru, Martín Vizcarra, antecipou nesta segunda-feira que "os argumentos da posição peruana" seriam apresentados às autoridades uruguaias, depois de uma conversa que teve com Vázquez na qual lhe pediu que "pondere a opinião do Peru", antes de decidir se outorga esta proteção ao ex-governante.

García solicitou asilo diplomático ao Uruguai sob o argumento de ser um perseguido político e apenas horas depois de ter recebido um impedimento judicial de saída do país no marco de uma investigação por conluio agravado e lavagem de dinheiro.

O promotor José Domingo Pérez pediu essa medida contra o ex-presidente após receber indícios de que a Odebrecht lhe pagou US$ 100.000 por uma palestra em São Paulo em 2012, um ano depois de ter concluído seu segundo mandato.

Esse pagamento foi feito com um contrato fraudulento e através de um testa-de-ferro da empresa.

O ex-presidente (1985-1990 e 2006-2011) é investigado por supostamente ter favorecido a Odebrecht na licitação da linha 1 do metrô de Lima, cujo chefe de obra, Carlos Nostre, declarou aos promotores que a construtora pagou US$ 24 milhões em subornos a funcionários do governo de García.