Mianmar, Rep. Centro-Africana e Sudão do Sul protagonizam genocídios em 2018
Marta Rullán.
Madri, 19 dez (EFE).- A perseguição étnica e religiosa em Mianmar, na República Centro-Africana e no Sudão do Sul mostra uma triste realidade em 2018, ano no qual uma vítima de um genocídio, a yazid Nadia Murad, foi agraciada com o prêmio Nobel da Paz.
Murad e o médico congolês Denis Mukwege foram premiados por sua incansável luta contra o uso da violência sexual "como arma de guerra", uma prática terrível, mas comum, dos genocidas contra suas vítimas preferidas: as minorias.
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- Mianmar.
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Os rohingyas, minoria muçulmana do noroeste da Mianmar perseguida desde tempos imemoráveis em uma região de maioria budista, foram alvo de uma brutal onda de violência em 2017 que causou o êxodo de 725 mil pessoas e que se manteve em 2018.
"Seguem ocorrendo atrocidades hoje. Inclusive, neste preciso momento, a comunidade rohingya que fica (no estado de Rakhine, em Mianmar) sofre as restrições e a opressão mais severa", disse em outubro o líder da missão da ONU que investiga esses crimes, mais de um ano depois do início do último genocídio reconhecido pela ONU.
Faltando dados oficiais, uma investigação divulgada em agosto por um grupo de acadêmicos, profissionais e organizações de Austrália, Bangladesh, Canadá, Noruega e Filipinas estimou em aproximadamente 25 mil o número de rohingyas mortos na campanha do exército de Mianmar, e que cerca de 19 mil mulheres foram estupradas.
Calcula-se que os "filhos do genocídio", fruto desses estupros e do alto nível de natalidade desta minoria, nascidos este ano nos campos de refugiados de Bangladesh, onde os rohingyas vivem amontoados, podem chegar a 50 mil, disseram à Agência Efe fontes do Unicef.
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- República Centro-Africana.
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A violência também sacode a República Centro-Africana, onde a ONU não chegou a qualificar o que ocorre de genocídio, mas não o descarta devido à crueldade que estremece o país: incêndios de aldeias, assassinatos extrajudiciários, estupros de mulheres e crianças...
Toda essa brutalidade está dirigida, principalmente, contra pessoas por causa de sua religião ou etnia: os ex-rebeldes Séléka atacam cristãos e animistas e as milícias anti-Balaka a muçulmanos e membros da seita Fulani.
Em apenas dois dias, em 31 de outubro e em 1º de novembro, mais de 10 mil pessoas fugiram para um hospital da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) após os incêndios contra três acampamentos em um dos últimos episódios de um conflito que causou milhares de mortos e mais de 1 milhão de deslocados.
Os abusos foram denunciados pelo governo, incapaz de colocar um fim aos mesmos, diante do Tribunal Penal Internacional, para cujo centro de detenção foi transferido em 17 de novembro o líder dos anti-Balaka, o cristão Alfred Yekatom, acusado de crimes de guerra e de lesa-humanidade.
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- Sudão do Sul.
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A limpeza étnica protagoniza a guerra que explodiu no Sudão do Sul em 2013 e que pode ter seu fim este ano após o acordo de paz de agosto, apesar do fracasso de outro acordo, alcançado em 2015.
Episódios de crianças que foram obrigadas a ver como suas mães eram estupradas e assassinadas, e algumas delas inclusive obrigadas a participar de tais atrocidades, foram documentados pelo Unicef, enquanto os civis foram submetidos a todo tipo de barbaridades, como o assassinato e a castração, segundo a ONU.
O enfrentamento em 2013 entre o presidente e seu antigo vice-presidente, que lutaram juntos pela independência, arrastou a etnia dinka e a tribo nuer para um violento conflito sectário no qual faz tempo que já deixaram de contar os mortos.
O que se sabe é que 1 milhão de pessoas estão à beira de uma crise de fome e que pelo menos 4 milhões fugiram do país, o mais jovem do mundo, no qual algumas famílias se veem obrigadas a vender um de seus filhos para sobreviver, segundo uma ONG local financiada pelo Unicef que ajuda as crianças abandonadas.
"Há um padrão claro de perseguição étnica", afirma Andrew Clapham, comissário da ONU para os Direitos Humanos no país.
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Além desses três países, a perseguição por razões de etnia e religião se dá, em menor medida, em outras partes do mundo, como acontece com os yazid no Iraque e na Síria, onde mais de 3 mil seguem nas mãos do grupo terrorista Estado Islâmico (EI) quatro anos depois do genocídio e apesar do incansável trabalho de denúncia de Murad diante da comunidade internacional.
O Nobel a esta ex-escrava sexual talvez possa ajudar, mas ela insiste que "um só prêmio e uma só pessoa não podem acabar com os genocídios". "Precisamos de um esforço internacional, com a ajuda de instituições, mulheres, jovens e vítimas, para devolver a vida às zonas arrasadas pela guerra", garantiu Murad. EFE
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