Polícia canadense está na mira de acusações de racismo
Julio César Rivas.
Toronto, 20 dez (EFE).- Embora a polícia do Canadá seja considerada um modelo a ser seguido por muitos países, as principais forças de segurança do país enfrentam graves acusações de racismo, discriminação, sexismo e violações de direitos humanos.
Em Toronto, a maior cidade do Canadá e considerada pela ONU como a cidade mais multicultural do mundo, uma pessoa negra tem 20 vezes mais possibilidades de ser baleada pela polícia e morrer que uma pessoa branca.
E isso apesar de a população negra de Toronto ser de apenas 8,8% do total da cidade, na qual vivem 6,5 milhões de pessoas na área metropolitana.
O dado foi tirado do relatório que a Comissão de Direitos Humanos da província de Ontário (OHRC) informou recentemente sobre a discriminação racial sofrida por pessoas negras pelas mãos da polícia de Toronto.
A OHRC afirma que os negros estão envolvidos em 28,8% dos casos onde os agentes utilizam a força, 36% das vezes que disparam, 61,5% de confrontos que tem como resultado a morte de um indivíduo e 70% dos tiroteios protagonizados pela polícia que terminam com mortos.
Um dos exemplos é a morte em 2015 de Andrew Loku, um negro com problemas mentais que foi baleado por um policial segundos depois de o agente chegar a sua casa e o vir segurando um martelo.
Há anos, a comunidade negra de Toronto denuncia que os policiais detêm pessoas de cor na rua sem razão aparente, as interrogam e anotam seus dados, uma prática considerada por especialistas como "caracterização racial".
Em 2017, um grupo da ONU concluiu que a população negra no Canadá sofre uma constante e permanente discriminação racial por parte das forças de segurança.
Dois dias depois da publicação do relatório da OHRC sobre o racismo da polícia de Toronto, a organização civil que vigia as ações das forças policiais de Ontário (OIPRD) publicou outro estudo sobre a situação na cidade de Thunder Bay, a 15ª maior em tamanho da província.
O relatório de OIPRD é tão crítico com a polícia de Thunder Bay como o é o da OHRC sobre Toronto.
O documento conclui que "existe um racismo sistemático na polícia de Thunder Bay em nível institucional" contra os indígenas que vivem na cidade.
Entre as 44 recomendações da OIPRD destaca-se a reabertura de nove casos de mortes de pessoas indígenas porque não foram investigados de forma apropriada pela polícia.
O documento traz o caso de uma mulher de 30 anos de idade, identificada pelas iniciais E.F.
Seu corpo foi localizado em 2016 em uma região de floresta, com as mãos agarrando a erva do solo, marcas de queimaduras de cigarros nas palmas das mãos e com as calças abaixadas.
Apesar de a autópsia ter afirmado que E.F. - indígena - ter diversas fraturas, a polícia de Thunder Bay determinou que a morte não era suspeita e nunca a averiguou.
Assim, o relatório concluiu que a polícia de Thunder Bay investiga "frequentemente de forma diferente as mortes dos indígenas".
Acusações parecidas de racismo, discriminação e abusos contra grupos minoritários são generalizadas em outras cidades canadenses como Montreal e Saskatoon.
Além disso, a famosa Polícia Montada do Canadá, uma corporação federal, também recebe acusações parecidas.
Centenas de agentes mulheres da Polícia Montada denunciaram que durante décadas a instituição permitiu uma cultura de discriminação e abusos sexuais por parte dos seus companheiros homens.
Embora durante anos a corporação tenha tentado aplacar as denúncias, em 2016 o então diretor da Polícia Montada, Bob Paulson, se viu forçado a oferecer desculpas públicas depois que as agentes abriram processos na Justiça.
Além disso, a instituição destinou dezenas de milhões de dólares a indenizar as agentes que sofreram ameaças e abusos sexuais, uma quantidade que ainda não foi determinada porque cada vez mais mulheres estão denunciando suas experiências.
Por enquanto, estima-se que mais de 3.000 mulheres denunciaram os abusos que sofreram durante sua passagem pela Polícia Montada, três vezes mais que o número inicialmente previsto pela própria organização policial. EFE
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