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Cristina diz que Timerman "adoeceu" por acusações de traição à pátria

30/12/2018 19h21

Buenos Aires, 30 dez (EFE).- A ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner (2007-2015) afirmou neste domingo que o ex-chanceler Héctor Timerman, que morreu de câncer, adoeceu "pela dor" provocada pelas acusações contra ele relacionadas com o atentado a uma associação judaica de Buenos Aires em 1994.

"Héctor adoeceu pela dor e o sofrimento provocados pelo irracional e injusto ataque que ambos sofremos por ocasião da assinatura do memorando de entendimento com o Irã", afirmou Cristina em carta de despedida a Timerman publicada nas suas redes sociais poucas horas depois de ser divulgada a morte do ex-chanceler.

Já em um grave estado de saúde, Timerman, que morreu na madrugada deste domingo, prestou depoimento por videoconferência em julho pela causa que investiga o suposto encobrimento, através de tal memorando, do atentado terrorista a uma associação judaica em 1994 em Buenos Aires, que deixou 85 mortos e segue sem responsáveis.

O ex-chanceler se declarou inocente e denunciou que o julgamento desenvolvia-se com lentidão, algo que atribuiu aos interesses de países como Estados Unidos e Israel.

Cristina definiu Timerman como "argentino, peronista e judeu" e disse que nunca viu "ninguém sofrer tanto" pelos ataques que recebia de seus opositores.

"Me lembro em muitíssimas oportunidades quando vinha me ver em meu escritório. Notava que estava muito mal pelos ataques das instituições da comunidade judaica", relembrou a ex-governante, que teve Timerman como chanceler durante os cinco últimos anos de seu mandato, desde 2010 a 2015.

Segundo Cristina, o falecido transmitia "uma profunda angústia" por essas críticas procedentes de sua própria comunidade religiosa, não irritação e nem indignação.

Assim, para a ex-presidente, o que o acabou de "demolir" foi a perseguição judicial posterior, assim como a acusação de traidor à pátria.

Sobre sua vertente política, destacou que Timerman foi o "verdadeiro artífice" da resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a reestruturação de dívida soberana da Argentina, que qualificou de "vitória inédita na história da diplomacia argentina".

"A figura de Héctor Timerman, não tenho nenhuma dúvida, será recordada e reconhecida pela história pela sua dignidade e a sua incansável luta pela defesa dos interesses nacionais", concluiu Cristina. EFE