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Católicos e evangélicos tentam se defender de ataques de hindus na Índia

15/03/2019 10h02

Indira Guerrero.

Kuddupur (Índia), 15 mar (EFE).- No meio de uma plantação de trigo do vilarejo de Kuddupur, no norte da Índia, dezenas de homens chegam de moto a um galpão com um único objetivo: encontrar formas de diminuir os ataques de radicais e policiais que eles sofrem por serem cristãos no país do hinduísmo.

Todos eles são pastores do distrito de Jaunpur, no estado de Uttar Pradesh, a região com os maiores índices de intimidação contra cristãos, que durante os últimos quatro anos viram aumentar os perigos de professar sua fé.

Dentro do galpão que funciona como igreja existe um precário salão, onde cerca de 50 pessoas se reúnem sob uma luz fraca para conversar sobre os ataques dos extremistas hindus que acontecem com frequência cada vez mais maior e terminam com pessoas agredidas, templos fechados e propriedades destruídas.

A perseguição de católicos e evangélicos na Índia, que este ano entrou pela primeira vez na lista de um dos 10 países mais perigosos para professar o cristianismo, segundo a organização internacional Portas Abertas, avança silenciosamente nas zonas rurais.

Com 65 milhões fiéis, os cristãos na Índia representam apenas 5% do 1,3 bilhão de habitantes desta nação onde os hindus são quase 80%.

No final de janeiro, o pastor Khant Khawar estava celebrando um culto quando 20 homens chegaram dizendo que ele tentava converter hindus à força e querendo que ele confessasse o que fazia.

"Começaram a nos machucar dizendo que estávamos convertendo pessoas à força. Destruíram os móveis e nos ameaçaram", contou Khawar, que diz que só sobreviveu porque os fiéis formaram um escudo humano.

Diante do relato, um dos participantes da reunião perguntou se ele chamou a polícia. "Sim, mas chegaram uma hora depois", respondeu Khawar, que acredita que a demora dos agentes foi proposital.

Khawar, que agora tenta tirar o medo dos membros da igreja, acabou preso por ser acusado pelos vizinhos de "conversão forçada".

A igreja está fechada desde então por ordem das autoridades, à espera de uma permissão que requer a assinatura dos membros da congregação em um documento em que admitam que são cristãos, algo que, segundo ele, é cada vez mais difícil de conseguir.

Para organizações civis, a convivência das autoridades é incentivada pelo governo do partido Bharatiya Janata (BJP), do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi.

Segundo o relatório de 2019 da organização Portas Abertas, pelo menos 12.500 cristãos e 100 igrejas foram atacados na Índia em 2018.

"Pelo menos 200 pessoas foram detidas apenas por ter uma fé. No entanto, muitos incidentes não são documentados, por isso os números reais podem ser muito maiores", ressalta o relatório publicado em janeiro.

De acordo com dados da Aliança para a Defesa da Liberdade (ADF), durante o primeiro trimestre do ano foram registrados 30 incidentes violentos por mês, sendo Uttar Pradesh o estado com mais casos. O espaço onde os pastores se reúnem com frequência foi inclusive um dos atacados.

Em oito estados da Índia, entre os quais Uttar Pradesh não está, existem leis rígidas para regular as conversões, no entanto os ataques acontecem em todo o país.

Padres e pastores são processados ou intimidados por entregar bíblias, fazer batismos, cantar músicas de Natal ou distribuir alimentos para os necessitados, ações que são vistas pelos extremistas como uma maneira fácil de "persuadir" para a conversão. No entanto, nenhum tribunal provou as conversões forçadas.

"Por isso a pergunta é: por que estas leis são necessárias?", questionou o diretor de desenvolvimento da ADF, A. C. Michael, em entrevista à Agência Efe. Para ele, manter tais normas serve para legitimar um sistema de intimidação.

Já para o pastor Patsy David, um dos mais ativos defensores da comunidade cristã em Uttar Pradesh, o cenário mais complexo é para quem era hindu e se converteu.

"Os radicais hindus tentam com todas as suas forças resgatá-los", relatou. EFE