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Político pró-Rússia apresenta plano de paz para encerrar conflito em Donbass

11/04/2019 07h16

Ignacio Ortega.

Kiev, 11 abr (EFE).- Após cinco anos de guerra na região da bacia do rio Donets (Donbass), no leste da Ucrânia, o político pró-Rússia Victor Medvedchuk propôs um plano de paz que inclui a autonomia para áreas controladas pelos separatistas e exige concessões de Kiev.

"Primeiro é preciso recuperar as pessoas, e só depois o território. A Ucrânia quer recuperar o território através da força, e a Rússia não permitirá isso", disse Medvedchuk à Agência Efe.

Conhecido pelos laços de amizade com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, que é padrinho de uma de suas filhas, Medvedchuk confirmou que o plano já tem apoio do Kremlin e defendeu que os moradores da região de Donbass que fugiram da guerra devem se sentir seguros ao retornarem para os territórios ocupados.

"Seguros não das bombas, mas de futuras perseguições penais. Proponho declarar para os moradores de Donetsk e Lugansk uma anistia similar à que beneficiou os que participaram dos protestos contra o presidente Viktor Yanukovich há cinco anos", explicou.

Medvedchuk considera que as autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk não poderão ter exércitos, nem armamento pesado, mas serem autorizadas a criar polícias próprias.

"A polícia deve se dedicar a garantir a ordem pública nesses territórios", disse o político pró-Rússia em referência às milhões de armas de fogo ilegais que estão nas mãos da população na região.

O ponto de maior de destaque - e que causa mais polêmica - no plano de Medvedchuk é a concessão de ampla autonomia às duas republicas ocupadas pelos separatistas.

Como base de argumentação para justificar a medida, Medvedchuk usa a própria Constituição da Ucrânia, que já garante alta dose de autonomia para a Crimeia, região anexada pela Rússia em março de 2014 após um referendo contestado pelo governo de Kiev.

"Por que Donetsk e Lugansk não podem dispor de autonomia? Não vejo nada criminoso nisso. Isso permitiria que as duas regiões tivessem poder legal de se autogovernar", questionou.

Para isso, as duas regiões teriam órgãos como um governo próprio e um parlamento, instituições que permitiriam que Donetsk e Lugansk continuassem como parte de uma "Ucrânia única"

"Estamos falando de uma autonomia dentro do Estado ucraniano. Se esse é o preço para que a região de Donbass volte à Ucrânia, por que não fazê-lo?", questionou o político pró-Rússia.

Medvedchuck também lembrou que os Acordos de Paz assinados em Minsk, na Bielorrússia, em fevereiro de 2015, já previam a criação de áreas autônomas em Donetsk e em Lugansk. Os dois estados teriam as mesmas responsabilidades e direitos que outras regiões de países europeus que se consideram unitários, e não uma federação.

O político também propõe mudanças na Constituição para permitir a criação de uma zona econômica especial nas áreas ocupadas pelos separatistas. Para Medvedchuck, se não houver desenvolvimento e investimento será impossível reconstruir as estruturas destruídas nos cinco anos de conflito.

Grande parte do potencial industrial do país está sob controle dos separatistas e, devido ao bloqueio econômico declarado pelo governo da Ucrânia, as duas regiões deixaram de pagar impostos para o governo do país, uma situação considera como insustentável.

"Meu plano é uma proposta concreta que pode parar a guerra. Se for aplicado, Donbass será em poucos anos um território para o qual as pessoas vão querer voltar e viver. Falei com lideranças russas, com representantes de Donetsk e Lugansk. Pode dar certo", afirmou.

"Sei o que todos querem. Kiev deve dar o primeiro passo para recuperar a confiança dos moradores de Donbass. Se a Ucrânia recorrer à força, a Rússia adotará uma postura muito mais firme em defesa das repúblicas não reconhecidas", completou.

O compadre de Putin considera como um fracasso a atual política do governo ucraniano, que quer que a comunidade internacional amplie as sanções contra o Kremlin.

"A Rússia não capitulará. Conhecendo a postura da Rússia, de Donetsk e de Lugansk, isso não ocorrerá em nenhum caso. Conheço as posturas de Alemanha e França. Há muito tempo querem que isso termine e que a Ucrânia respeite o tratado de Minsk", concluiu o aliado de Putin. EFE