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Brasil é "raio de esperança" no mundo apesar de Bolsonaro, diz Angela Davis

21/10/2019 21h44

São Paulo, 21 out (EFE).- A ativista e escritora americana Angela Davis diss nesta segunda-feira que o Brasil é um raio de esperança no mundo, apesar de ter Jair Bolsonaro como presidente, e afirmou estar muito impressionada com os avanços sociais conquistados nos últimos anos pelo país.

"Estou muito impressionada com o profundo trabalho que aconteceu aqui. Para muitos de nós, o Brasil é um raio de esperança. Claro que quando ocorreram as eleições (de 2018) prometemos não pronunciar o nome do líder eleito porque na tradição africana isso credencia poder a alguém. Nos recusamos a fazer parte desse processo", disse Davis em entrevista coletiva concedida em São Paulo.

A filósofa, de 75 anos, visitou o Brasil pela primeira vez na década de 1990, quando participou de um evento sobre feminismo negro na Bahia. Agora, na sua oitava viagem ao país, desta vez para promover a edição em português de seu livro "Autobiografia", Davis disse ter ficado esperançosa com o impulso coletivo dos jovens, especialmente das mulheres negras, nos avanços sociais e no combate ao racismo e ao patriarcado.

Davis, que se considera anticapitalista, antimilitarista, antirracista, abolicionista, feminista, ambientalista e antiguerra, defendeu a interconexão entre todas as causas as quais busca dar protagonismo e afirmou que muitos dos problemas enfrentados pelas sociedades vêm daquilo que "consideramos totalmente normal", o que dificulta o desenvolvimento do senso crítico.

"Não é possível separar a luta contra o capitalismo da luta contra o racismo. É importante reconhecer as interconexões entre os movimentos e por que ainda não somos capazes de vislumbrar um tipo de democracia que não seja só política, mas também econômica e social. Me parece que esta noção está se desenvolvendo como parte das lutas no Brasil e nos Estados Unidos", defendeu.

Davis citou que está surgindo nos EUA, pela primeira vez desde a década de 1930, um novo discurso público anticapitalista e disse, em relação às eleições presidenciais de 2020, que a política sozinha não é suficiente para mudar as "complicadas condições geradas pelo capitalismo global e racial".

"Espero que com o resultado das eleições seja possível avançar e não apenas defender as conquistas do passado, muitas das quais estão ameaçadas. Mas é preciso fazer algo maior do que simplesmente escolher um novo presidente", explicou.

"Está claro que queremos que o atual ocupante da Casa Branca (Donald Trump) seja desesperançado de qualquer maneira, mas esta não seria uma solução para os problemas mais profundos", completou.

Além disso, Davis celebrou que uma grande quantidade de jovens esteja buscando outras opções além do capitalismo para construir o futuro e colocou os movimentos do Brasil como exemplos a serem acompanhados nos EUA.

"Acho que nos Estados Unidos temos muito o que aprender com os movimentos do Brasil, como o das trabalhadoras domésticas. São as lutas que estão nos levando em direção a uma democracia que promete justiça verdadeira e igualdade", concluiu. EFE