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Exército sul-coreano expulsa oficial que fez cirurgia de mudança de sexo

22/01/2020 15h36

Seul, 22 jan (EFE).- O Exército da Coreia do Sul anunciou nesta quarta-feira a expulsão de uma oficial voluntária que mudou de sexo e tornou-se na primeira militar transexual do país, considerando que sua decisão a impede de permanecer em seu posto.

A sargento Byun Hee-soo, 22 anos, passou por uma cirurgia de mudança de sexo na Tailândia no mês passado, contando com a aprovação de sua unidade.

No entanto, ao retornar para seu posto como motorista de tanque em uma unidade implantada na província de Gyeonggi, nos arredores de Seul, e expressar seu desejo de continuar no Exército, uma equipe médica a examinou e considerou que ela sofria de "deficiência mental", por ter sido submetida a uma operação para remover os órgãos genitais masculinos.

A legislação militar sul-coreana impede que qualquer pessoa transexual seja recrutada, pois considera-se que esse indivíduo sofra de "deficiência mental" devido ao que classificam de "distúrbio de identidade de gênero".

Porém, não existe legislação em relação à possibilidade de um militar ativo decidir mudar de sexo.

A opinião da equipe médica forçou a formação de uma comissão para avaliar sua expulsão das forças armadas, apesar do apoio declarado de toda a sua unidade.

"A comissão tomou a decisão de dispensar (a oficial), já que isso (a opinião médica) constitui uma razão para a incapacidade de continuar servindo com base na legislação correspondente", explicou o Exército em comunicado.

Após ser informada da decisão, Byun Hee-soo, bastante emocionada, deu uma entrevista coletiva onde pediu uma oportunidade de continuar as forças armadas.

"Estou muito ciente de que o Exército ainda não está pronto para aceitar soldados transgêneros. No entanto, se eu for designada adequadamente com base em minhas experiências únicas, isso poderá criar efeitos positivos para os militares em geral", disse a sargento, em declarações divulgadas pela agência de notícias "Yonhap".

Ela disse que sempre sonhou em ser uma soldado e que cumpriu seu dever, e expressou sua esperança de que todas as minorias sexuais fossem capazes de cumprir seu dever sem serem discriminadas.

O Centro de Direitos Humanos do Exército da Coreia (CMHRK), que defendeu a necessidade de manter o soldado em seu posto desde foi tornado público na alguns dias, fez um pedido à Comissão Nacional de Direitos Humanos.

A Comissão recomendou então que o Exército adiasse a reunião do comitê militar devido à possibilidade de discriminação, mas os militares decidiram avançar com o procedimento com o argumento de que o parecer médico e a legislação justificavam que prosseguissem com o processo.

O CMHRK considerou a decisão de "verdadeiramente cruel" e "covarde" em uma declaração e descreveu como "vulgar a percepção do Exército" sobre as capacidades da sargento, observando que ela tem demonstrado um grande interesse e empenho em servir nas forças armadas desde a sua juventude.