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Tentativa de Keiko Fujimori de anular votos aumenta tensão em eleição peruana

10/06/2021 01h25

Fernando Gimeno.

Lima, 9 jun (EFE).- O clima de tensão em torno do segundo turno das eleições presidenciais realizadas no Peru no último domingo aumentou ainda mais nesta quarta-feira com a tentativa de Keiko Fujimori de provar uma suposta "fraude sistemática" e assim anular milhares de votos de seu adversário, Pedro Castillo, que por sua vez se declarou vencedor da disputa.

Quando o percentual de apuração do pleito chegou a 98,3%, o esquerdista Castillo liderava com 50,2% dos votos, contra 49,8% de Keiko, de direita. O professor e líder sindical tinha uma estreita vantagem de cerca de 70 mil votos.

A apuração avança muito lentamente com a revisão dos votos que tiveram algum tipo de observação técnica (1.186) e a espera de urnas procedentes dos cantos mais remotos do país.

A matemática dá chances a Keiko, mas elas são cada vez mais remotas.

Os votos que ainda não chegaram são de áreas esmagadoramente favoráveis a Castillo.

Há 443 urnas com votos impugnados por ambas as candidaturas, 329 com erros nas somas de votos, 98 com dados incompletos e 107 sem assinaturas.

ANULAÇÃO.

Diante deste cenário, o partido de Keiko, o Força Popular, pretende solicitar na Justiça a anulação de milhares de votos já contabilizados como sendo de Castillo.

Alguns dos grandes escritórios de advocacia de Lima contratados pela legenda estão participando da revisão de votos em busca de irregularidades.

Para que o processo vá adiante, eles devem provar claramente ainda nesta quarta-feira que houve algum tipo de fraude em cada uma das urnas que apontam como suspeitas.

"Nossos representantes e os advogados que estão participando vão demonstrar que há mesas com assinaturas falsificadas e mesas com resultados estatisticamente improváveis", disse o candidato a vice-presidente de Keiko, Luis Galarreta, à emissora de rádio "RPP".

PROVAS FRÁGEIS.

A denúncia de Keiko Fujimori de suposta "fraude sistemática" foi lançada na segunda-feira à noite, quando a contagem de votos já estava adiantada e Castillo aparecia como o provável vencedor.

Em entrevista coletiva, ela apresentou uma série de "provas" - em sua maioria coletadas em redes sociais - e "notícias falsas" sem muito apoio, para refutar os relatórios preliminares das missões eleitorais da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da União Interamericana de Organizações Eleitorais (Uniore), que destacaram a lisura das eleições.

Entre as supostas evidências está o caso de seções eleitorais onde todos os votos foram a favor de Castillo, algo provável em regiões do país onde o candidato ganhou com 88% dos votos e que corresponde ao fato de que também há seções eleitorais com todos os votos a favor de Keiko, como foi visto em Miami, nos Estados Unidos, onde expatriados votaram.

PROTESTO.

Para aumentar a temperatura, espera-se que nas próximas horas milhares de apoiadores de Castillo cheguem a Lima vindos de várias regiões do país para se manifestarem em defesa dos resultados das eleições.

Além disso, alguns dos eleitores de Keiko Fujimori apelaram para uma mobilização através de redes sociais para solicitar a intervenção das forças armadas e impedir que Castillo seja oficialmente proclamado presidente.

Em resposta a este movimento, o Ministério da Defesa lembrou em um comunicado que "as Forças Armadas não são deliberativas e estão subordinadas ao poder constitucional, portanto qualquer apelo para violar esta ordem é impróprio em uma democracia.

CASTILLO É PARABENIZADO POR EVO.

Sem esperar o fim da apuração, Castillo improvisou um na terça-feira em que implicitamente se proclamou vencedor das eleições, embora sem afirmar categoricamente seu triunfo.

Com um tom vitorioso, ele pediu a seus adversários políticos que respeitem os resultados. Também prometeu formar um governo que respeite a Constituição e "com estabilidade financeira e econômica".

Castillo recebeu até mesmo mensagens de felicitação do ex-presidente da Bolívia Evo Morales, que publicou em redes sociais uma foto de um encontro entre os dois anos atrás.

"Irmão da alma e companheiro de luta, você é o orgulho dos movimentos sociais e dos profissionais patrióticos. Parabéns por esta vitória, que é a vitória do povo peruano, mas também do povo latino-americano que quer viver com justiça social", escreveu Evo.

O vencedor das eleições tomará posse por cinco anos em 28 de julho, dia do 200º aniversário da independência do Peru.