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Boric nomeia 1º gabinete ministerial de maioria feminina na história do Chile

21/01/2022 17h13

María M.Mur.

Santiago, 21 jan (EFE).- O presidente eleito do Chile, Gabriel Boric, nomeou nesta sexta-feira o primeiro gabinete ministerial com maioria de mulheres na história do país, que tem a médica Izkia Siches (pasta de Interior e Segurança Pública) e a deputada comunista Camila Vallejo (porta-voz) como as figuras femininas de maior destaque.

Também será a primeira vez no país que uma mulher será responsável pelo Ministério de Interior e Segurança Pública, a pasta com maior peso político, responsável pela ordem pública e pela articulação do restante do gabinete.

Das 24 pastas, 14 serão comandadas por mulheres: Antonia Urrejola (Relações Exteriores), Maya Fernández (Defesa), Jeanette Vega (Desenvolvimento Social), Marcela Ríos (Justiça), Jeanette Jara (Trabalho), María Begoña Yarza (Saúde), Marcela Hernando (Mineração), Javiera Toro (Patrimônio Nacional), María Eloísa Rojas (Meio Ambiente), Alexandra Benado (Esporte), Antonia Orellana (Mulher) e Julieta Brodsky (Cultura), além de Siches e Vallejo.

"Hoje começa um novo capítulo em nossa história democrática". Não estamos começando do zero, sabemos que existe uma história que nos eleva e nos inspira", disse o ex-líder estudantil, que aos 36 anos se tornará o presidente mais jovem do Chile em 11 de março.

TRANSVERSALIZAR A PARIDADE DE GÊNERO.

Urrejola, uma respeitada advogada e ex-presidente da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), também desempenhará um papel fundamental como chanceler na divulgação do projeto de mudança de Boric em uma América do Sul que está dando uma guinada para a esquerda.

No Chile, a comunista Vallejo será responsável por comunicar os avanços de um governo que pretende desmantelar o modelo neoliberal instalado durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) e expandir o papel do Estado em direção a um modelo de bem-estar semelhante ao da Europa.

Companheira de lutas estudantis de Boric, a futura porta-voz será do governo a primeira comunista desde o retorno à democracia em 1990 a ser integrante do chamado Comitê Político, o núcleo duro do governo.

"Vamos fazer todas as mudanças propostas, como dissemos na pandemia, passo a passo, porque estamos convencidos de que a grande maioria dos chilenos exige mudanças estruturais que tornem possível ter uma vida decente", disse Boric.

Outra grande novidade é a inclusão, no Comitê Político - junto com as pastas de Interior e Fazenda, a porta-voz e a Secretaria Geral da Presidência (Segpres) -, do Ministério da Mulher, o que representa um poderoso sinal para os coletivos feministas, cruciais para a vitória de Boric.

"Se quisermos integrar a luta pela igualdade de gênero, o Ministério da Mulher não pode permanecer isolado, não pode ser uma instituição de gaveta onde todas as questões de gênero são colocadas. É muito importante que ela seja recategorizada e cubra todas as áreas", disse Julieta Suárez-Cao, da Universidade Católica e da Rede de Mulheres Cientistas Políticas do Chile, à Agência Efe.

EQUIPE ECONÔMICA PARA TRANQUILIZAR MERCADOS.

Mario Marcel, atual presidente do Banco Central e figura respeitada nos círculos empresariais - altamente críticos em relação a Boric durante a campanha eleitoral - foi escolhido para chefiar o Ministério da Fazenda.

Independente, embora próximo do socialismo - foi diretor de Orçamento no governo de Ricardo Lagos (2000-2006) -, Marcel vai dirigir uma economia que se recuperou da crise mais rapidamente do que o esperado, mas com uma inflação que fechou 2021 em 7,2%, a maior em 14 anos.

Nesta enorme tarefa ele terá companhia, na pasta de Economia, pelo acadêmico Nicolás Grau - do mesmo partido de Boric, o Convergência Social -, e na de Trabalho e Previdência Social, pela comunista Jeannette Jara.

"Assumimos com enorme energia o desafio de consolidar a recuperação de nossa economia sem reproduzir suas desigualdades estruturais. Estamos falando de crescimento sustentável, acompanhado por uma redistribuição justa da riqueza", declarou Boric.

O braço direito de Boric, Giorgio Jackson, ficará a cargo da Segpres, responsável pelas relações com o Parlamento, onde a partir de março não haverá bloco majoritário.

Com vistas à governabilidade, o futuro presidente incluiu em seu gabinete partidos tradicionais da centro-esquerda que não o apoiaram no primeiro turno, como o Partido Socialista (PS), o Partido para a Democracia (PPD), o Partido Liberal e o Partido Radical (PR).

Este é o caso de Maya Fernández, neta do presidente deposto Salvador Allende que estará a cargo da pasta de Defesa; do senador socialista Carlos Montes (Habitação e Planejamento Urbano); da "pepedista" Vega (Desenvolvimento Social); do liberal Juan Carlos García (Obras Públicas) e do radical Hernando (Mineração).

O restante da equipe ministerial é composto por Marco Antonio Ávila (Educação), Esteban Valenzuela (Agricultura), Juan Carlos Muñoz (Transportes e Telecomunicações), Claudio Huepe (Energia) e Flavio Andrés (Ciência, Tecnologia, Conhecimento e Inovação).

"Somos acompanhados nesta equipe por ministros de diversas origens e formações, um gabinete tão diverso quanto nosso país", concluiu Boric. EFE