Quem vai dar o prêmio a Leila Pereira, a melhor presidente do Brasileirão?

Não a conheço, nunca a vi de perto, não sabia nada sobre a sua vida antes do Palmeiras, mas acho que estão cometendo uma grande injustiça com essa mulher.

Nesta época de fim de ano, em que estão distribuindo prêmios a granel para os melhores do Brasileirão —jogadores, revelações, técnicos, torcidas e até juízes— me chamou a atenção a ausência do nome da presidente do Palmeiras, que conquistou o bicampeonato do Brasileirão na noite de quarta-feira.

Leila Mejdalani Pereira, 59, empresária, advogada, jornalista e dirigente esportiva, nascida em Cambuci, no Rio de Janeiro, onde conheceu o marido, José Roberto Lamacchia, numa festa de Carnaval, quando estudava jornalismo e tinha 18 anos; ele, com 38, já era um grande player do mercado financeiro. Estão casados há 40 anos.

A história da Sociedade Esportiva Palmeiras, que ela transformou na maior potência do futebol brasileiro, terá que ser contada no futuro em antes e depois de L.P.. Além do patrocínio anual, hoje em torno de R$ 100 milhões, muito mais do que qualquer SAF da vida, o casal também ajudou a comprar vários jogadores para montar um plantel de respeito, bancado pelas duas maiores das 14 empresas do conglomerado, o Banco Crefisa e a FAM (Faculdade das Américas), que ornam suas camisas.

Esse casamento entre Beto, como ela chama o marido, Leila e o Palmeiras começou quando ele voltou de um tratamento de câncer nos Estados Unidos, e os dois estavam conversando sobre a vida à beira da piscina do clube.

"Se você gosta tanto do Palmeiras, por que não faz alguma coisa pelo clube?", perguntou-lhe Leila. Ele, que era conselheiro do Palmeiras, gostou da ideia, mas nenhum dos dois podia imaginar que ela, depois de assumir o comando da Crefisa em 2008, viria a se tornar a poderosa Leila Pereira, caso raro de mulher na presidência de um grande clube, num ambiente ainda predominantemente machista, misógino, homofóbico.

Na gestão de Leila, o Palmeiras ganhou seis títulos. As conquistas ajudaram o clube a abater a dívida com a Crefisa, que era de R$ 172 milhões, em 2019, e agora é de R$ 27,7 milhões, depois do bônus de R$ 10 milhões pago pelo banco pela conquista do Brasileirão de 2023. Leila quer zerar essa conta até o final do ano que vem, quando termina seu mandato.

Hoje, Leila entende tanto de futebol como de finanças e, assim, como diz o caipira, "o negócio foi bom para os dois lados".

O clube e o banco cresceram juntos, e Lamacchia nunca se arrependeu de ter investido no futebol. "Antes do Palmeiras, quem conhecia a Crefisa?", pergunta ele, para justificar o dinheiro investido, com seu jeito simples de homem do interior paulista, que vendeu o banco herdado do pai e construiu um império empresarial. Quando o conheci, na época em que a gente frequentava o mesmo bar, a Tabacaria Ranieri, ele não falava de negócios nem de futebol. Era apenas um bom papo, que se divertia com as conversas dos outros.

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Numa época em que vários clubes estão aderindo ao SAF (Sociedade Anônima do Futebol), como o Botafogo, o Bahia, o Cruzeiro e o Vasco, que ainda não deu muito certo em nenhum deles, o empreendimento particular de Pereira&Lamacchia tornou-se um oásis de profissionalismo no futebol brasileiro, que ainda sobrevive no amadorismo dos seus dirigentes que só sabem de trocar de técnico quando o time vai mal.

A longevidade de Abel Ferreira no cargo é uma das razões do sucesso do clube alviverde, mas há outro tão importante quanto: o investimento nas equipes de base do clube, que muito contribuíram nesta reta final do Brasileirão para a virada até o título, em que poucos ainda acreditavam depois da eliminação da Libertadores. Não por acaso, nos últimos anos, o Palmeiras vem ganhando quase todos os títulos em todas as categorias.

Entre os meninos quer subiram para o time de cima, está o endiabrado Endrick, uma força da natureza aos 17 anos, lapidada com carinho por Leila e Abel, que já foi vendido para o Real Madrid, para onde vai no ano que vem, quando completará 18.

Pelo que se comenta agora no Allianz Parque e no mercado da bola, Abel Ferreira também poderá ir embora para se tornar o técnico mais bem pago do mundo no futebol árabe. Mas o Palmeiras ainda será uma potência nos próximos anos, mesmo sem eles, porque a base plantada por Leila é sólida, com uma visão de longo prazo.

Em tempo: não sou palmeirense, mas tenho que tirar o chapéu para essa mulher e lhe dou aqui o prêmio de melhor presidente de clube em 2023, como já foi também nos dois anos anteriores.

Vida que segue.

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • Diferentemente do que informava o texto, quem levou Abel Ferreira ao Palmeiras foi Maurício Galiotte, e não Leila Pereira. E FAM é Faculdade das Américas, e não Faculdades Alcântara Machado. O texto foi corrigido.

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