OPINIÃO
Kotscho: 4 sugestões para o ano 2 de Lula 3
Ricardo Kotscho
Colaboração para o UOL, em São Paulo
17/12/2023 04h00
Já que muitos colegas jornalistas e sábios em geral agora se tornaram ombudsmen de Lula 3, dizendo o que o presidente pode ou não fazer e dizer, também me sinto no direito, em nome da nossa velha amizade, para dar alguns pitacos no governo, renovarmos nossas esperanças e fazermos de 2024 o ano da redenção do Brasil.
Na hora de fazer balanços, podemos dizer que 2023 foi o ano do alívio, depois do grande susto do 8 de Janeiro. Até os mais aguerridos opositores do atual governo haverão de reconhecer que já voltamos a respirar e dormir melhor, sem sobressaltos diários, voltando a fazer planos pessoais, profissionais e empresariais, e botando fé num futuro melhor.
"Nós só não podemos errar na economia", dizia Lula à equipe ministerial antes da posse no primeiro governo, em 2003. Já faz 20 anos.
E, nesse ponto, o presidente acertou em cheio, com a escolha de Fernando Haddad para o Ministério da Fazenda, um auxiliar lúcido e sereno, que acalmou os mercados e os sindicatos e forneceu ao governo recursos para voltar a investir em políticas públicas e sociais, abandonadas no governo anterior.
A aprovação da reforma tributária, esta semana, foi a cereja do bolo num bom ano na economia, com emprego e renda crescendo, inflação e juros caindo.
Mas ele mesmo sabe que precisamos melhorar em outras áreas, principalmente na articulação política, para o governo não ficar tão exposto às chantagens do insaciável centrão.
Tenho algumas sugestões que poderiam ajudar o presidente e seu governo, sem querer ensinar o Pai Nosso ao vigário. Sei que ele vai dizer "falar de fora é fácil, mas vem sentar aqui na minha cadeira", não tem problema.
- Falar menos
Lula tem falado demais, aqui dentro e lá fora, criando atritos desnecessários que só prejudicam a ele e ao seu governo nas relações internacionais e no seu propósito de pacificar o país.
Para que ainda falar tanto de Bolsonaro? Todo mundo já sabe quem ele foi e quem ele é. Melhor guardar as palavras para ocasiões especiais, em que ele tenha algo de bom e de novo para anunciar e inspirar bons sentimentos na população.
Relacionadas
- Viajar menos
Tudo bem que era preciso no primeiro ano avisar ao mundo que "o Brasil voltou" e reconquistar a posição de destaque do país nos fóruns internacionais, em especial nas discussões sobre os desafios climáticos e a preservação do meio ambiente.
Mas agora é tempo de se voltar para dentro, arrumar a cozinha da política interna e fazer visitas pontuais aos estados para discutir o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e os projetos regionais.
E dedicar mais tempo a conversar com os seus ministros, de preferência em audiências individuais, porque ninguém gosta de ser criticado e cobrado na frente dos outros. Como são 38, ele poderia receber dois por dia útil em Brasília.
- Ouvir mais
Lula costumava dizer que Deus nos deu uma boca e dois ouvidos para que as pessoas ouçam mais os outros e falem menos, mas nem sempre segue esse conselho. Em suas viagens aos estados, ele poderia reservar um tempo para ouvir representantes da sociedade civil sobre os rumos do governo.
Assim evitaria comprar muitas brigas ao mesmo tempo e poderia balizar melhor suas prioridades, sem ser surpreendido por demandas que não conhecia. O Conselhão é uma boa ideia, mas só se reuniu duas vezes este ano e conversar com 300 pessoas é difícil.
- Ajustar o ministério
Assim como acertou com Haddad na Fazenda, Lula também escolheu bons quadros para os principais ministérios, a começar por Educação, Saúde, Justiça e Direitos Humanos, por exemplo, mas também foi obrigado a abrigar alguns cacarecos, em nome da governabilidade da frente ampla montada na eleição, que lhe deu um Congresso de direita para um governo de esquerda.
Poderia aproveitar esse recesso de fim de ano para pensar num ajuste geral --de preferência, de uma vez só, para evitar as intermináveis pressões e especulações-- a ser anunciado na reabertura do Congresso. Ano novo, novos nomes, para garantir uma base realmente aliada, e não ser obrigado a fazer novas concessões a cada votação importante.
É o que temos para hoje, nesta antevéspera do Natal, que promete ser melhor para a maioria dos brasileiros, segundo todos os dados sociais e econômicos disponíveis.
Feliz 2024!
Vida que segue.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL