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Bósnia escava vala comum escondida por 20 anos pelo silêncio sérvio

Membros da Comissão Internacional de Pessoas Desaparecidas trabalham em vala comum de Tomasica - Dado Ruvic/Reuters
Membros da Comissão Internacional de Pessoas Desaparecidas trabalham em vala comum de Tomasica Imagem: Dado Ruvic/Reuters

Daria Sito-Sucic

Em Tomasica (Bósnia)

22/10/2013 18h16

Especialistas forenses estão escavando o que pode ser a maior vala comum de vítimas da limpeza étnica na Bósnia, um local cuja existência era conhecida há anos, mas a localização exata foi coberta por um muro de silêncio sérvio, afirmou o gabinete estatal de pessoas desaparecidas.

O tribunal de crimes de guerra da ONU (Organização das Nações Unidas) em Haia condenou 16 servo-bósnios a um total de 230 anos de prisão por atrocidades na área de Prijedor, no noroeste da Bósnia, onde o local em Tomasica está situado, mas nem todas as valas comuns foram encontradas na região.

O Instituto de Pessoas Desaparecidas da Bósnia sabia da existência da vala em Tomasica há anos, mas o local exato e os detalhes das vítimas eram conhecidos apenas por testemunhas sérvias locais, que haviam permanecido em silêncio desde o fim da guerra de 1992-95.

"Nós conduzimos a investigação durante dois anos e finalmente encontrei pessoas que estavam dispostas a falar", disse o supervisor da equipe forense, Mujo Begic. Algumas testemunhas eram antigos combatentes separatistas servo-bósnios que não podiam mais manter o segredo.

No vilarejo de Tomasica, os peritos estão recuperando corpos de bósnios muçulmanos e de croatas mortos pelos sérvios separatistas em uma das piores campanhas de limpeza étnica destinadas a expulsar os não-sérvios na guerra do país.

Nesta terça-feira (22), os restos mortais de 18 pessoas foram desenterrados da vala comum, que se espalha por 3.000 metros quadrados de colinas verdes desabitadas. Todas as vítimas, homens, mulheres e crianças, foram mortas a tiros, disseram os peritos. Muitos foram embrulhados em cobertores.

Begic afirmou que sua equipe deverá encontrar os restos de 17 crianças, o mais novo um bebê de 18 meses, pertencente à família Bacic e morto junto com sua mãe, avô e tio.

Conforme os tratores removiam camada após camada de terra, o mau cheiro de corpos em decomposição tomava conta do local.

Os primeiros corpos foram encontrados a uma profundidade de sete metros em agosto e os restos de 240 pessoas foram exumados até hoje. Acredita-se que eram moradores muçulmanos da área de Prijedor.

Relatos de testemunhas mostraram que cerca de 1.000 pessoas foram enterradas lá originalmente, mas há indícios de que alguns foram posteriormente exumados e enterrados em outro lugar para encobrir os vestígios do crime.