Há sinais de pausa na desinflação de serviço e política monetária tem de ser persistente, diz BC
Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central destacou que há sinais recentes de pausa no processo de desinflação de serviços em ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta terça-feira, adotando um tom mais duro em relação ao processo de corte dos juros básicos e ressaltando que é preciso ter "persistência maior" na sua política.
"Há sinais de uma pausa recente no processo de desinflação dos componentes do IPCA mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária, o que pode sinalizar convergência mais lenta da inflação à meta", trouxe a ata. "Nesse contexto, uma maior persistência inflacionária requer persistência maior da política monetária", acrescentou.
Segundo o BC, essa pausa já considera efeitos sazonais e se dá "em níveis cuja manutenção produziria trajetória de desinflação em velocidade aquém da contemplada no cenário básico do Copom".
"Esse cenário pressupõe uma trajetória de queda gradual à frente. Dessa forma, os membros do Comitê ressaltaram que é necessário monitorar a retomada dessa trajetória", completou o BC.
Na última quarta-feira, o BC reduziu a Selic em 0,25 ponto percentual, a 14,00 por cento ao ano, primeiro corte em quatro anos, avaliando que uma flexibilização moderada e gradual é compatível com a convergência da inflação para a meta de 4,5 por cento pelo IPCA nos próximos dois anos.
Na ata, o BC não fez referência se o comitê chegou a discutir corte de 0,5 ponto percentual na semana passada.
As taxas dos contratos de juros passaram a precificar chances maiores de corte de 0,25 ponto percentual em novembro, contra 0,50 ponto percentual anteriormente.
"O mais provável é que essa queda (da inflação de serviços) não apareça acelerada pelos argumentos que eles usam", avaliou o economista-chefe do Fator, José Francisco de Lima, para quem o BC reduzirá a Selic em 0,25 ponto no mês que vem.
FUTURO
Em relação aos próximos passos que tomará, o BC repetiu que a magnitude do corte nos juros e possível intensificação de seu ritmo "dependerão de evolução favorável de fatores que permitam maior confiança no alcance das metas para a inflação no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui os anos-calendário de 2017 e 2018".
Também reiterou que para essa decisão irá avaliar a combinação de dois fatores: desinflação de serviços e evolução dos ajustes na economia.
Na visão do economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, o BC endureceu um pouco o discurso, indicando que há grande probabilidade de manter o ritmo de afrouxamento.
"Ele chamou muita atenção para a inflação de serviços, se mostrou muito preocupado com isso", afirmou. "Ele deixou a porta aberta para acelerar? Deixou. Mas eu acho que no balanço ele está pesando um pouquinho mais para manter (o corte) de 0,25."
Sobre o lado fiscal, o BC indicou que "há consenso no comitê de que a velocidade no processo de apreciação das propostas de ajustes tem excedido as expectativas", mas destacou, por outro lado, que "a natureza longa e incerta do processo sugere que há, ao mesmo tempo, risco e oportunidade".
A ata apontou que o BC seguirá acompanhando esses esforços atentamente. Nesta terça-feira, a Câmara dos Deputados deve votar em 2º turno a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita o crescimento dos gastos públicos, com ampla expectativa no mercado de nova vitória do governo.
Para a economista da Tendências Alessandra Ribeiro, o tom da ata também foi de cautela em relação ao ajuste fiscal, na linha de "segurar o mercado nesse otimismo total". Ela lembrou que o BC destacou que as projeções para a inflação no cenário de mercado sugerem haver limites para o tamanho do corte.
"Tudo para sinalizar que tem pontos que exigem mais atenção, apontando para ciclo mais cauteloso. Então (corte de) 0,25 em novembro está bem no jogo. E aí com as projeções apontando inflação na meta, acelera o processo", afirmou ela, que já tinha expectativa de redução de 0,25 ponto em novembro, aumentando o ritmo para 0,5 ponto na primeira reunião do Copom do ano que vem, em janeiro.
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