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ESTREIA-Andréia Horta recria parte da trajetória da cantora-mito da MPB em "Elis"

23/11/2016 16h19

SÃO PAULO (Reuters) - “Elis”, a premiada cinebiografia da cantora gaúcha, segue mais ou menos os moldes do gênero.

Só que, ao invés de acompanhar a personagem do nascimento à morte, o filme começa quando a cantora – interpretada por Andréia Horta, ganhadora do Kikito de atriz, em Gramado deste ano – aos 17 anos chega ao Rio de Janeiro, acompanhada do pai (Zécarlos Machado) para gravar um disco. Como ela chega na época do golpe militar de 1964, a gravadora diz que está tudo muito instável e se recusa a gravar.

Com dinheiro curto, pai e filha ficarão poucos dias no Rio. Num show de Nara Leão (Isabel Wilker), Elis conhece Ronaldo Bôscoli (Gustavo Machado) e Miéle (Lucio Mauro Filho), duas figuras famosas da noite carioca e responsáveis pelo sucesso de diversos artistas. Ela não mede esforços para realizar o sonho de ter uma carreira e, ousada, se oferece para fazer uma audição.

Logo está fazendo sucesso no Beco das Garrafas. Muito deve ao apoio do coreógrafo americano Lenni Dale (Julio Andrade), que a ajuda a construir sua peculiar presença no palco com movimentos corporais e dos braços – o que leva Bôscoli a apelidá-la de “Hélice Regina”.

O foco de “Elis”, roteirizado por Luiz Bolognesi, Vera Egito e o diretor Hugo Prata, é reconstruir momentos-chaves da vida da cantora – alguns, com alguma licença. Vê-se sua apresentação no Festival da TV Excelsior, em 1965, com o clássico “Arrastão”; no programa de televisão “O Fino da Bossa”, ao lado de Jair Rodrigues (Ícaro Silva); ou no icônico espetáculo “Falso Brilhante”, de 1975.

O filme traça uma espécie de paralelo entre os amores de Elis, sua música e sua carreira. Depois de muito brigar com Bôscoli, mulherengo e debochado, eles acabam se apaixonando, casando, brigando, fazendo as pazes, tendo um filho, se cansando da vida a dois e se separando. Essa primeira parte é a melhor do filme, com mais ritmo e aprofundada.

Seu casamento seguinte, com o músico César Camargo Mariano (Caco Ciocler), no longa, é mais apressado e alguns fatos quase se atropelam. É como se “Elis” quisesse dar conta de muitos acontecimentos em pouco tempo de trama. Então, em alguns momentos, parecem haver buracos. Como ela chegou daqui até ali? Como esse cabelo cresceu e encurtou de novo tão rápido? O que faz essa parte parecer uma série reeditada com seus melhores momentos.

Ficam de fora, porém, pessoas importantes na vida e carreira da cantora, como Milton Nascimento, Tom Jobim e Vinicius de Moraes.

Apesar de dublar as gravações originais, Andréia Horta estudou todos os gestos e movimentos corporais de Elis. O resultado é uma interpretação bem próxima da cantora – conforme é possível confirmar em vídeos na internet – não apenas pelo figurino, cabelo e afins, mas especialmente pela presença de palco e em entrevistas, o que só confirma o caráter respeitoso e reverente do filme.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb