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Cubanos preocupam-se com a vida após Fidel com Trump na vizinhança

Em Havana

27/11/2016 11h32

Por Simon e Gardner e e e Ana e Isabel

HAVANA (Reuters) - Da invasão da Baía dos Porcos à histórica visita do Presidente Barack Obama à Havana, os cubanos sabem há gerações que sempre que os Estados Unidos voltassem seu olhar para Cuba, Fidel Castro estaria olhando de volta.

Mas a morte do "El Comandante" se somou às preocupações dos cubanos de que o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, fechará a porta do nascente comércio e viagens, desfazendo dois anos de distanciamento entre os vizinhos afastados.

Trump adotou um tom muito diferente do de Obama, que alcançou um acordo dois anos atrás com o irmão mais novo de Fidel, o presidente Raúl Castro, para acabar com meio século de hostilidades.

Mais tarde em sua campanha eleitoral, Trump buscou assegurar o voto cubano-americano na Flórida ao declarar estar firme em sua oposição aos Castro, e prometeu que, se eleito, fecharia a recém-reaberta embaixada norte-americana em Havana.

Antes, nas primárias, Trump disse que tudo bem restaurar os laços diplomáticos com Cuba, mas que Obama deveria ter buscado um acordo melhor.

Vencido as eleições, é difícil saber qual será a abordagem de Trump em relação à Cuba.

Após a morte de Fidel Castro, de 90 anos, Obama o chamou de "figura singular", enquanto Trump descreveu o revolucionário comunista como "ditador brutal".

Castro começou sua carreira como revolucionário derrubando um governo apoiado pelos Estados Unidos, repelindo uma invasão de contra-revolução apoiada pela CIA na Baía dos Porcos em 1961, e lutando contra o presidente John F. Kennedy na crise dos mísseis cubanos um ano depois.

Durante 49 anos no poder, ele cruzou espadas com dez presidentes norte-americanos. E, apesar de adotar um perfil mais discreto após se aposentar oficialmente em 2008, Castro nunca parou de alertar os cubanos de que não deveriam confiar no governo norte-americano.

Seu irmão mais novo nunca deu muito terreno à administração Obama em termos de liberalizar o sistema político de um só partido de Cuba.

Muitos cubanos, no entanto, acreditam que podiam com o carisma do último líder e seu jeito com as palavras frear o bombardeio de Trump.

"Com a morte do 'El Comandante', eu estou um pouco receosa do que pode acontecer por conta do modo de pensar e agir de Trump", disse Yaneisi Lara, comerciante de rua de 36 anos de Havana e vendedora de flores.

"Ele pode recuar e bloquear tudo que têm acontecido, todas as coisas que Obama fez, e ele fez muito, conseguindo com que os EUA chegassem mais perto de Cuba", disse ela, admitindo que consideraria se mudar para os Estados Unidos.

Obama não foi bem-sucedido em convencer o Congresso a acabar com o duro embargo econômico dos EUA sobre Cuba, mas se posicionou pessoalmente contra as sanções e usou de ações executivas para permitir maior contato e comércio.

O primeiro vôo comercial dos EUA à Havana em cerca de meio século deve chegar na segunda-feira.

Trump pode facilmente rever tais medidas. Ele não foi claro sobre seu posicionamento, mas incluiu Mauricio Claver-Carone, um dos principais defensores da manutenção do embargo econômico, em sua equipe de transição.

Sem dar detalhes, Trump disse no sábado que sua administração faria "tudo o que puder" assim que ele tomar posse, em 20 de janeiro, para ajudar a aumentar a liberdade e a prosperidade do povo cubano após a morte de Castro.

"Trump é o oposto de Obama", disse o taxista de Havana Pablo Fernandez Martinez, 39, enquanto se apressava para o trabalho.

A vida em Cuba continua difícil para seu povo educado, mas sem emprego, mas o envolvimento com os Estados Unidos trouxe mais dólares ao país. Martinez teme que isso possa acabar uma vez que Trump se mude para a Casa Branca.

"Provavelmente haverá menos tráfego de turistas. Isso irá afetar todo mundo em Cuba, e atingir a economia", disse o taxista, que recebe de US$100 a US$120 por semana dirigindo para estrangeiros.