Rebelião em presídio de Manaus deixa cerca de 60 mortos
BRASÍLIA/RIO DE JANEIRO (Reuters) - Uma rebelião em um presídio de Manaus decorrente de uma briga de facções deixou cerca de 60 mortos, disseram nesta segunda-feira autoridades de segurança pública do Estado do Amazonas, em um dos piores episódios de violência no superlotado sistema penitenciário do país nos últimos anos.
O motim teve início no domingo e só foi encerrado na manhã desta segunda, após uma negociação entre as autoridades e os presos que comandavam a rebelião, segundo o secretário de Segurança Pública do Estado, Sérgio Fontes, que disse ainda que o número de mortos pode aumentar.
"Essa briga de facção gerou uma quantidade grande de mortos", disse o secretário em entrevista coletiva no Centro Integrado de Comando e Controle, em Manaus.
O motim começou no domingo à noite e foi controlado por volta das 7h da manhã desta segunda, segundo o secretário. De acordo com Fontes, não houve invasão do Complexo Penitenciário Anísio Jobim por parte das forças de segurança do Estado por temores das possíveis consequências.
"A opção de invasão não foi considerada viável, até porque as consequências seriam imprevisíveis, então nós optamos pela negociação", afirmou. "Isso não quer dizer que não vai haver responsabilização. Obviamente os presos que cometeram os assassinatos serão responsabilizados".
Um vídeo publicado no site do jornal local Em Tempo mostrou as imagens de diversos corpos ensanguentados e desmembrados em cima uns dos outros no chão do presídio.
Segundo o secretário, há informações sobre fugas de presos durante o motim, mas ainda não se sabe quantos detentos teriam escapado. Uma recontagem dos presos será realizada, afirmou.
De acordo com o secretário de Administração Penitenciária do Amazonas, Pedro Florêncio, o complexo penitenciário tinha cerca de 2.230 detentos, apesar de ter capacidade para apenas 590, segundo dados da Secretaria de Segurança.
“Essa rixa entre organizações criminosas acontece em todo o Brasil, em todas as unidades prisionais... eclodiu hoje com essa vingança”, afirmou Florêncio.
De acordo com a emissora de TV Globonews, um grupo de presos trocou tiros com a polícia na noite de domingo e fez 12 agentes penitenciários como reféns. O secretário de Segurança disse que 74 presos também foram feitos reféns durante a rebelião, alguns sendo executados e outros soltos.
O Ministério da Justiça afirmou em nota nesta segunda-feira que o ministro Alexandre de Moraes colocou à disposição das autoridades amazonenses a possibilidade de transferências de presos para presídios federais, além do envio ao Estado da Força Nacional.
Diversas rebeliões têm sido registradas em cadeias do país nos últimos anos, em meio a denúncias de entidades de direitos humanos sobre a superlotação e falta de funcionários suficientes nos presídios.
A ONG de direitos humanos Human Rights Watch pediu que autoridades brasileiras conduzam uma reforma no sistema prisional, considerado pela entidade como “um desastre de direitos humanos”.
Na semana passada, o governo federal anunciou o repasse aos Estados de 1,2 bilhão de reais, a maior parte destinada à construção de penitenciárias e melhoria da infraestrutura e serviços do sistema.
A rebelião em Manaus foi a mais violenta no país nos últimos anos. Em 1992, uma rebelião na prisão de Carandiru, em São Paulo, terminou com 111 presos mortos, quase todos em decorrência de uma invasão da polícia para retomar o local.
(Por Pedro Fonseca, no Rio de Janeiro, e Alonso Soto, em Brasília)
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