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Afegãos reagem à grande bomba dos EUA com choque, receio e sentimentos mistos

Soldados do Exército afegão participam de operação no distrito de Achin, após o bombardeio pelos EUA Imagem: Rahman Safi/Xinhua

No distrito de Achin (Afeganistão)

14/04/2017 19h10

Qari Mehrajuddin primeiro viu um "relâmpago como em uma tempestade de trovões", seguido pelo estouro de uma explosão, um som familiar aos moradores da província afegã de Nangarhar, devastada pela guerra.

"Pensei que havia um bombardeio logo do lado de fora da minha casa", disse.

Na realidade, a explosão foi a cerca de quatro quilômetros de distância, com um gigante impacto maior que qualquer um visto anteriormente na região.

Na noite de quinta-feira, forças norte-americanas lançaram uma das maiores bombas convencionais já usadas em combate contra o que descreveram ser um complexo de túneis usado por militantes do Estado Islâmico no distrito de Achin, em Nangarhar.

Achin é separado do Paquistão por altas montanhas e é uma das áreas para onde combatentes do Taleban e al Qaeda fugiram quando os Estados Unidos intervieram pela primeira fez no país, no final de 2001.

Imagem capturada de vídeo divulgado pelo Departamento da Defesa dos EUA mostrando o momento em que a "mãe de todas as bombas" atingiu o distrito de Achin, no Afeganistão Imagem: DVIDS/Handout via Reuters

Agora autoridades norte-americanas dizem que militantes associados à rede do Estado Islâmico começaram a fortificar cavernas na região, em esforços para segurar operações conjuntas entre forças afegãs e norte-americanas.

Alguns moradores de áreas de Achin recentemente liberadas da ocupação do Estado Islâmico elogiaram o ataque de quinta-feira, que gerou manchetes ao redor do mundo e foi amplamente interpretado como uma exibição deliberada de força do presidente dos EUA, Donald Trump.

"Se vocês querem destruir e eliminar o Estado Islâmico, então mesmo se vocês destruírem minha casa, não iremos reclamar, porque eles não são seres humanos, eles são selvagens", disse o morador Mir Alam Shinwari.

Shinwari descreveu diversos abusos que disse terem sido cometidos por combatentes do Estado Islâmico.

"Eles costumavam casar nossas filhas e esposas com seus combatentes, culpavam moradores por espionagem, eles decapitavam, cortavam mãos e não permitiam celulares que tivessem câmeras", disse à Reuters.

Este sentimento foi ecoado por Gul Sher, outro morador que pediu para os EUA e governo do Afeganistão "atingirem o Estado Islâmico e eliminá-lo por completo".

"Estamos tão cansados das atrocidades do Estado Islâmico e eles são contra tudo o que somos", disse.

Longe da área diretamente impactada pela explosão, a reação foi mais mista.

"O fato é que os EUA usaram aqui uma grande bomba deles para testar sua eficácia", disse o morador de Cabul Asadullah Khaksar. "Se a América quer eliminar o Estado Islâmico, isto é muito fácil, porque eles criaram este grupo."

Rahim Khan, outro morador de Cabul, também assumiu um ponto de vista mais cético em relação ao papel norte-americano no confronto.

"Se o bombardeio foi de fato para a eliminação do Estado Islâmico, então é uma ação boa, mas eu não acredito nisto", disse.

Alguns afegãos ainda continuam muito céticos em relação aos motivos de Washington para enviar tropas ao país há mais de 15 anos, e veem a presença contínua dos EUA como uma forma de ocupação.

Outros estão contentes com a intervenção, temendo que a alternativa seria um retorno ao estrito regime islâmico do Taleban, retirado do poder em 2001, mas que ainda luta uma insurgência que custa milhares de vidas todos os anos.

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