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"Vocês destroem, nós reconstruímos": a vida de um pedreiro na guerra da Síria

04/07/2017 09h42

Por Lisa Barrington

BEIRUTE (Reuters) - Quando o pedreiro Abu Salem tapa o buraco de projétil em uma casa no sul da Síria, controlado pelos rebeldes, sabe que pode não ser o último serviço que faz na residência.

"Existe a possibilidade de os prédios serem atingidos novamente", disse ele à Reuters. "Mas no curto prazo as pessoas deveriam poder buscar refúgio em suas casas".

Abu Salem lidera um grupo de 12 pedreiros que reconstroem e consertam construções danificadas por bombas-barril, ataques aéreos e projéteis dentro e nos arredores da cidade de Deraa.

Sem acesso a ferramentas modernas e enfrentando o preço alto dos materiais devido à guerra, os homens de Abu Salem despedaçam edifícios, misturam concreto e carregam cargas com as mãos. Apesar das dificuldades, eles mantêm o senso de humor.

Três meses atrás um vídeo circulou amplamente nas redes sociais sírias mostrando homens mascarados de joelho em uma formação, brandindo varas e se erguendo aos gritos de "Deus é Grande".

À primeira vista parece um exemplo típico das filmagens de propaganda beligerante publicadas com frequência por grupos armados envolvidos no conflito da Síria, mas não é disso que se trata.

"Em nome de Deus, eu sou Abu Salem al-Muhameed e anuncio a formação da Brigada de Concretagem nas áreas livres!", grita Salem para a câmera, uma paródia inconfundível dos líderes rebeldes exaltados que combatem o presidente sírio, Bashar al-Assad.

"Se vocês destroem, por Deus, nós iremos reconstruir!", grita enquanto seus homens sacodem picaretas e pás e depois caem na gargalhada.

Depois que o vídeo da "Brigada Vocês Destroem e Nós Reconstruímos" apareceu, as pessoas começaram a abordar Abu Salem nas ruas.

"Elas disseram: vocês são a melhor brigada formada desde o início da crise síria'", contou ele à Reuters por telefone.

A guerra da Síria destruiu a economia nacional e dividiu a nação em uma colcha de retalhos de áreas de controle que cruzam rotas comerciais, provocando o aumento dos preços e a escassez local de commodities vitais.

Mas às vezes o dinheiro fala mais alto do que a lealdade política, e em toda a Síria se encontram bens nas frentes de batalha graças às altas propinas e impostos pagos em postos de controle.