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Marina critica ideia de armar população e diz que segurança é responsabilidade do Estado

29/08/2018 19h26

BRASÍLIA (Reuters) - A candidata da Rede à Presidência da República, Marina Silva, afirmou nesta quarta-feira que é o Estado o responsável pela segurança pública e que armar a população não é a solução para a violência, em uma contraposição à defesa que o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, faz de uma flexibilização das regras para o porte de armas.

"A solução para a segurança pública no Brasil é não permitir que os bandidos usem armas, e não distribuir armas para a população se defender sozinha", disse Marina, que participou de evento com presidenciáveis na Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

A candidata da Rede disse ainda que é "muito fácil" um candidato se eleger presidente da República e transferir para a população a tarefa de se defender, numa aparente referência a Bolsonaro, que lidera as pesquisas de intenção de voto no cenário sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Quem tem obrigação de fazer isso é o Estado. A sociedade paga imposto, e muito caro, para o Estado prover saúde, educação e segurança pública", afirmou.

A presidenciável argumentou ainda que o porte e o direito de ter uma arma em casa já são permitidos em casos "excepcionais".

A flexibilização das regras para o porte de armas ganhou eco entre os produtores rurais, que temem a invasão de suas terras e a violência em si, que ultrapassou as barreiras urbanas e passaram a amedrontar o campo.

Por isso mesmo, o tema ganhou importância na campanha deste ano e tem sido lembrada por candidatos, de olho também no setor da agropecuária.

Mais cedo, no mesmo evento, o candidato Geraldo Alckmin, do PSDB, prometeu facilitar o porte de armas na área rural, em um aceno para o setor.

BANCADA

Em outra frente sensível, Marina, que não consta como a candidata favorita do setor mas arrancou risadas da plateia algumas vezes durante o evento desta quarta-feira, disse não temer negociações com a Câmara dos Deputados e o Senado.

Questionada sobre como lidaria com a poderosa bancada ruralista no Congresso, afirmou que sempre escolhe o caminho do "convencimento" e relatou que conseguiu articular a aprovação de medidas no Legislativo quando ministra do Meio Ambiente no governo Lula.

"Quando a gente entende do assunto, fica mais fácil dialogar", afirmou a candidata. "Por isso não tenho medo do diálogo com o Congresso."

Marina se comprometeu a, caso eleita, dar ênfase à assistência técnica para os produtores rurais, além de garantias financeiras, como facilidades de crédito e um seguro para eventualidades. Também disse que o foco do Plano Safra, no caso dos grandes produtores, estará voltado às iniciativas de baixo carbono.

Ao abordar uma queixa do setor produtivo, relacionado à burocracia de órgãos como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Marina aproveitou para defender que haja maior agilidade.

A candidata argumentou que atualmente esses órgãos contam com poucos funcionários e defendeu que haja um "quadro técnico eficiente" e capacitado, de forma a dar agilidade sem a perda da qualidade do serviço executado.

Reconhecida mundialmente por sua atuação ambiental, Marina disse ainda à plateia que um eventual governo seu terá como prioridade o investimento em infraestrutura, principalmente pela capacidade do setor de gerar emprego.

A ideia, disse a presidenciável, é diversificar os modais de transportes e desafogar os gargalos.

Marina defendeu ainda a implantação do Código Florestal e seu Cadastro Ambiental Rural, e disse que trabalhará pelo desmatamento ilegal zero. No caso dos desmatamentos permitidos pela lei, afirmou, a intenção é mostrar aos agricultores que há alternativas para dobrar ou até mesmo triplicar a produção sem a necessidade de ampliação de área degradada.

(Reportagem de Maria Carolina Marcello)