Vítimas venezuelanas exigem punição de abusos do governo após oferta de anistia
Por Mayela Armas
CARACAS (Reuters) - O líder opositor e autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, e seus apoiadores entregaram panfletos oferecendo anistia a soldados no domingo, parte de uma estratégia para conquistar aliados do presidente Nicolás Maduro para um governo de transição.
A reação dos soldados diante das câmeras de televisão foi, como previsto, de rejeição. Alguns rasgaram ou incendiaram o documento, que promete descartar qualquer punição civil ou criminal a atos cometidos durante o governo Maduro, considerado ilegítimo por Estados Unidos, Canadá e a maioria das nações latino-americanas.
Embora seja improvável que Guaidó desista de um plano que estrategistas políticos vêm argumentando há tempos ser uma parte essencial de qualquer tentativa de reduzir o apoio militar à gestão Maduro, grupos de direitos humanos e vítimas de abusos graves também vêm expressando preocupação.
"A anistia é boa, contanto que não seja para violadores de direitos humanos", disse Bonny de Simonovis, esposa de Iván Simonovis, chefe de polícia preso em 2002 e atualmente em prisão domiciliar.
A Venezuela não é o primeiro país a enfrentar o desafio de encaminhar a transição de um governo acusado de abusos ou de conflitos armados sem deixar os piores infratores impunes – o tema também causou polêmica no processo de paz da vizinha Colômbia.
Como obter o equilíbrio certo é um tópico de debate entre teóricos da justiça transitória e da resolução de conflitos de todo o mundo.
Depois de um telefonema de incentivo do vice-presidente norte-americano, Mike Pence, Guaidó se declarou presidente interino na quarta-feira, argumentando que Maduro fraudou a eleição do ano passado e que não tem legitimidade para comandar a nação.
Em um esforço diplomático coordenado, o líder opositor de 35 anos foi reconhecido rapidamente por EUA, Canadá e a maioria dos países latino-americanos.
Os EUA e outras potências acusam os generais venezuelanos de uma série de crimes, como tráfico de cocaína, fraude financeira e mineração ilegal. Ainda mais grave, grupos de direitos humanos ligam as forças de segurança a execuções extrajudiciais, tortura e detenções ilegais.
O plano de anistia deve ser submetido nesta segunda-feira para consulta por comitês de vítimas e organizações não-governamentais de direitos humanos, que já alertaram que os benefícios não podem contemplar pessoas ligadas a crimes contra a humanidade, como assassinato, tortura e perseguição política, entre outros.
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