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No Reino Unido, Johnson resiste a pagar custos do Brexit em meio a disputa por liderança

Boris Johnson, ministro de relações exteriores britânico - Jack Taylor/Getty Images
Boris Johnson, ministro de relações exteriores britânico Imagem: Jack Taylor/Getty Images

William James e Michel Rose

Em Londres e em Paris

09/06/2019 17h23

Boris Johnson, o favorito a substituir Theresa May no cargo de primeiro-ministro do Reino Unido, disse neste domingo que irá suspender o pagamento da conta pela saída do país da União Europeia e tentará assegurar um acordo melhor -- um movimento que gerou reprovação imediata da França.

Johnson é um dos 11 parlamentares que almejam liderar a quinta maior economia do mundo após a renúncia de May como líder do partido Conservador, atualmente no poder, na sexta-feira, após ter fracassado em unir o parlamento ou o país em prol de seu plano de Brexit.

O Reino Unido está em sua mais profunda crise política em décadas devido às dúvidas sobre como, quando e se deve sair da União Europeia -- uma decisão que ficará a cargo do sucessor de May e afetará tanto o papel futuro do país no plano mundial quanto a prosperidade de gerações futuras.

À medida que a disputa para substituir May ganhava ritmo neste domingo, Johnson fez sua primeira grande intervenção, mirando a grande ala pró-Brexit de seu partido Conservador com uma promessa de adotar uma postura dura com Bruxelas sobre os termos da saída britânica.

"Eu acho que nossos amigos e parceiros precisam entender que o dinheiro será retido durante certo tempo até que tenhamos mais clareza sobre o caminho adiante", disse Johnson ao Sunday Times. "Para assegurar um bom acordo, dinheiro é um grande solvente e um grande lubrificante".

Uma fonte próxima ao presidente francês, Emmanuel Macron, disse que o não pagamento da conta de 39 bilhões de libras (50 bilhões de dólares) em custos pelo Brexit seria equivalente a uma inadimplência em dívida soberana.

"Não honrar suas obrigações de pagamento é uma falha com compromissos internacionais equivalente a uma inadimplência da dívida soberana, cujas consequências são bem conhecidas", disse a fonte à Reuters.

Alguns dos principais concorrentes de Johnson pelo cargo de primeiro-ministro -- o ministro das Relações Exteriores, Jeremy Hunt, o ministro da Agricultura, Michael Gove, e o ministro do Interior, Sajid Javid-- também querem renegociar ou modificar o acordo, mas nenhum deles ameaçou deixar de pagar os custos pela saída da UE que May acordou com o bloco em 2018.

As 39 bilhões de libras representam obrigações pendentes do Reino Unido perante a UE a serem pagas ao longo de anos.

A UE disse em diversas ocasiões que não irá reabrir as discussões do acordo de transição sobre o Brexit alcançadas junto a May no ano passado, rejeitado três vezes por parlamentares britânicos, e que também não negociará um acordo comercial futuro com o Reino Unido sem o pagamento pela saída.

As três derrotas no Parlamento forçaram May a anunciar sua renúncia.

"Teremos uma atitude diferente na equipe de negociação e uma equipe de negociação diferente", disse Johnson, acrescentando que ele dará ordens pessoais a negociadores de sua equipe ministerial, em vez de atribuir a tarefa a servidores públicos politicamente imparciais.

Johnson também disse que arranjos sobre a fronteira com a Irlanda devem ser definidos apenas como parte de um acordo de longo prazo, rejeitando um "backstop" negociado que preservaria a fronteira aberta com a Irlanda do Norte, uma província britânica, mas que parlamentares conservadores temem que seja uma maneira indireta de exigir que o Reino Unido continue a seguir leis da UE após o Brexit.

Pouco após a publicação da entrevista de Johnson, ele recebeu o apoio do parlamentar pró-Brexit Steve Baker, uma figura influente na ala eurocética linha-dura do partido.