Estados Unidos no limite: como eleitores estão lidando com o estresse eleitoral
Por Gram Slattery e Tim Reid e James Oliphant e Gabriella Borter
BELLEVUE, Pensilvânia (Reuters) - Danielle Trenney, uma gerente de projetos de 39 anos do oeste da Pensilvânia, está tão ansiosa com a eleição presidencial dos Estados Unidos, na terça-feira, que decidiu montar uma árvore de Natal mais cedo neste ano para distrair sua família.
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Trenney disse que sabia de outras famílias que estavam fazendo o mesmo em Bellevue, um subúrbio de Pittsburgh e uma região eleitoral valorizada tanto pela democrata Kamala Harris quanto pelo republicano Donald Trump, rivais em uma disputa que, segundo analistas, será acirrada.
"Só estou tentando acalmar a ansiedade", disse Trenney, que votou em Kamala antes do dia da eleição, na terça-feira. "Tudo e qualquer coisa para distrair de: 'Meu Deus, o que vai acontecer?'".
Sentada em um banco de uma praça nas proximidades, estava Jennifer Bunecke, 68 anos, uma designer gráfica aposentada que planeja votar em Trump. Bunecke está tão cansada da tensão, dos telefonemas incessantes de pesquisadores de opinião e dos anúncios de campanha que a bombardeiam no Estado da Pensilvânia, que prefere se desligar completamente.
Ela passou boa parte do sábado lendo um livro de receitas de doces para manter a calma. "Nunca gostei de política. Não fui criada com isso", disse.
Na véspera da eleição, os Estados Unidos estão estressados. De verdade. Confrontados com dois candidatos e visões radicalmente diferentes para o futuro do país, os eleitores estão se preparando para os resultados -- e temem os possíveis distúrbios que podem ocorrer.
Nos últimos dias, correspondentes da Reuters conversaram com mais de 50 eleitores nos sete Estados decisivos que determinarão o próximo presidente. Eles encontraram um eleitorado no limite: preocupado com os rumos do país caso seu candidato preferido perca. Preocupado com a possibilidade de o outro lado criar problemas. Preocupado com o fato de que a divisão política só vai se aprofundar.
Alguns estão se voltando para a religião, outros para a ioga, natação ou levantamento de peso. Alguns estão acompanhando as notícias de perto, enquanto outros desligaram suas TVs e smartphones para se perder em livros ou fazer longas caminhadas ao ar livre.
"Gostaria que meu smartphone fosse inteligente o suficiente para saber que já votei", disse Lynn Nicholson, 72 anos, uma eleitora de Kamala em Marietta, Geórgia, que encontrou refúgio da enxurrada de anúncios de campanha por meio de caminhadas, jardinagem e fotografia. "É impressionante".
Todd Harrison, 49, de Canton, Geórgia, um especialista em controle de pragas que está inclinado a votar em Trump, disse que parou de assistir esportes na TV por causa da quantidade de anúncios políticos.
"Quanto mais me aproximo da eleição, mais furioso fico", disse Harrison.
TEMORES DE AGITAÇÃO
Muitos eleitores disseram estar preocupados com o que poderia acontecer após a eleição, especialmente se Trump perder. Eles temem uma onda de ações judiciais e audiências em tribunais, manifestações e até mesmo violência.
Trump afirma que a única maneira de os democratas vencerem é trapaceando. Kamala disse que está pronta para confrontar Trump se ele declarar vitória prematuramente.
Sherry Gay-Dagnogo, de 57 anos, apoiadora de Kamala em Detroit, disse que está preocupada com o que a retórica incendiária de Trump pode provocar.
"É como se ele estivesse acendendo uma base de violência antecipadamente", disse ela. "É assustador."
Mas Lillian Hall, 68 anos, ex-professora e lojista de Hendersonville, Carolina do Norte, e apoiadora de Trump, disse que temia que haja tumultos se Kamala perder.
"Acho que haverá uma raiva como ainda não vimos se Trump vencer", disse Hall.
Uma pesquisa Reuters/Ipsos realizada no mês passado revelou preocupações generalizadas de que os EUA poderiam ver uma repetição da agitação que se seguiu à derrota de Trump nas eleições de 2020, quando a falsa alegação do então presidente de que sua derrota foi resultado de fraude levou centenas de seguidores a invadir o Capitólio.
Cerca de 74% dos eleitores registrados que responderam à pesquisa de 16 a 21 de outubro disseram que estavam receosos com a possibilidade de extremistas cometerem atos de violência se estivessem insatisfeitos com os resultados das eleições. Os democratas eram os mais propensos a pensar assim: 90% deles confirmaram tal preocupação, em comparação com 64% dos republicanos e 77% dos independentes.
Alguns eleitores disseram em entrevistas que estavam tentando canalizar suas ansiedades ajudando a obter votos para seu candidato.
Shirley Easton, de 85 anos, moradora de Tucson, Arizona, que descreveu seu estado mental como "assustada", disse que estava enviando cartões postais para persuadir as pessoas a votar em Harris.
Easton disse que temia pelo futuro de suas sete netas depois que a Suprema Corte dos EUA, em 2022, reverteu a decisão histórica Roe vs Wade, que legalizou o aborto em todo o país.
"Estou com muito medo por meus netos", disse.
Lisa Fields, 60 anos, uma profissional de marketing, estava tão preocupada que saiu de sua casa em Manhattan no sábado para bater de porta em porta fazendo campanha para Trump no Condado de Delaware, um subúrbio crítico da Filadélfia.
Ela espera que Trump traga paz ao Oriente Médio e que o país se torne mais unificado, independentemente do vencedor.
"Precisamos nos unir para o bem maior. E vou me concentrar nisso no dia seguinte, porque, embora eu discorde do fato de as pessoas votarem de outra forma, elas têm esse direito e essa é a beleza dos EUA", disse Fields.
Outros eleitores disseram que estavam tentando se desligar da eleição o máximo possível.
Jean Thomson, 63 anos, coach executiva em Marietta, Geórgia, que votou em Kamala, disse que as dezenas de folhetos políticos que chegam pelo correio vão direto para o lixo.
"Eu nem olho para eles", disse, acrescentando que estava meditando e passando mais tempo na natureza para lidar com seu estresse.
Nem todo mundo estava indo para a floresta.
Quando os resultados começarem a sair na terça-feira, "estarei assistindo com meu calmante e minha garrafa de sauvignon blanc", disse Gillian Marshall, 55 anos, motorista da Lyft em Scottsdale, Arizona.
Marshall, uma democrata que disse ter votado em Kamala, fez coro a um sentimento quase universal em meio à divisão política.
"Eu só quero que esse pesadelo acabe".
(Reportagem de Timothy Aeppel, Gabriella Borter, Helen Coster, Stephanie Kelly, Nathan Layne, Jeff Mason, Tim Reid, Jarrett Renshaw, Liliana Salgado, Andrea Shalal, Gram Slattery e Alexandra Ulmer)